sexta-feira, 25 de junho de 2010

Onde está o Fair Play dos técnicos nessa Copa?

Lembro-me de quando o técnico da seleção brasileira tinha o mesmo prestígio de um Ministro de Estado. Ou seja, além de conhecimento técnico e tático, liderança e gestão de equipes, eram necessários outros atributos como postura, elegância, boa dicção e, obviamente, respeito mútuo aos colegas de trabalho e de imprensa. Afinal de contas, ele é, naquele momento, o representante máximo de uma nação que vive e respira Copa d Mundo. Todo este pacote de condutas foi resumido pela Fifa, entidade máxima do futebol mundial, como simplesmente “Fair Play” (jogo limpo). Mas o que se vê nesta edição da Copa do Mundo é uma banalização desta prática, sobretudo, por aqueles líderes que, geralmente, servem de exemplo para sua delegação: os próprios treinadores.

A primeira cena patética na Copa do Mundo foi protagonizada pelo técnico da Eslováquia, que em um chilique inexplicável, levantou-se no meio da entrevista coletiva, após derrota para o Paraguai, e foi embora da sala de imprensa. Profissionais de vários países, que ali estavam trabalhando para levar a informação ao seu país, longe de suas famílias, ficaram sem entender e o aguardaram por mais de meia hora. Um desrespeito ao profissional e, sobretudo, ao ser humano que ali trabalha.

Logo em seguida, o show patético proporcionado pelo brasileiro Dunga, após a vitória contra a Costa do Marfim, deferindo (ou resmungando) palavras de baixíssimo nível cultural ao repórter da Rede Globo, Alex Escolar. É impressionante como a figura de um treinador arrogante, soberbo e pretensiosamente onisciente ofusca a bela imagem que temos de uma seleção que encanta o mundo há quase um século. Domingo passado, Dunga se superou no destrato com os jornalistas, após vitória convincente contra a Costa do Marfim. Uma lástima após uma exuberante vitória! Será que ele não foi instruído pela CBF ou pela sua Assessoria de Comunicação como deve ser o trato com a imprensa? Aliás, será que ele sabe qual é o trabalho da imprensa e sua importância para a Seleção Brasileira? Parece-nos claramente que não, bem típico da ignorância de quem mal possuía noção de tempo e de espaço jogando futebol.

Mas a própria Fifa, quando todos esperavam uma postura mais digna e incisiva do órgão gestor do futebol mundial, anunciou "que não encontrou argumentos suficientes para propor uma punição do técnico Dunga, que proferiu algumas ofensas em voz baixa na entrevista coletiva concedida após a vitória do Brasil sobre Costa do Marfim, 3 a 1, no domingo". Será que existe uma medida em decibéis para que um aberração daquelas seja punida pela Fifa? Lastimável..

Por fim, outra cena bizarra chamou a atenção de todo o mundo na última terça-feira, após o jogo África do Sul 2 x 1 França. Depois do apito final do árbitro, o técnico brasileiro Carlos Alberto Parreira, com sua natural fineza e elegância, dirigiu-se gentilmente ao treinador francês Raymond Domenech para cumprimentá-lo, seguindo a conduta desportiva do Fair Play estimulada pela Fifa. Mas o adversário colocou em prática sua "dunguisse" e, contrariando a fama mundial de elegância dos franceses, se negou a apertar a sua mão de Parreira. Mais do que isso, virou as costas, apesar da insistência de Parreira, que chegou a agarrar o seu paletó, insistindo no cumprimento tradicional.

É por isso que admiro cada vez mais a serenidade e elegância de Carlos Alberto Parreira, a figura exemplar de um técnico que já esteve presente em 8 Copas do Mundo, sendo em 6 como treinador. E olha que estamos apenas na primeira fase onde, geralmente, tudo costuma ser mais tranqüilo. Pelos indícios que tivemos, podemos esperar mais atitudes anti-desportiva nas fases eliminatórias. Até porque, como todos já sabem, Eslováquia e Brasil se classificaram para as próximas fases... 

* Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e PP
Faculdade Pitágoras - Divinópolis

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