terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Eu vejo a vida melhor no futuro, com gente fina, elegante e sincera. (Lulu Santos)

Silvana Maria de Sousa
Publicitária e professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras/Divinópolis-MG




Ontem recebi de alguns amigos do Facebook (FB) o seguinte recado :


“ATENCÃO AMIGOS DO FACE!!!! Agora todos os SEUS amigos podem ver todos os meus comentários e do que EU gosto caso você escreva no meu mural ou fotos (essa nova coluna no lado direito da tela). Eu gostaria de manter a minha privacidade e dividir informações apenas com os MEUS amigos. Por favor, passe o mouse em cima do meu nome e espere o quadro abrir. Clique no segundo quadrinho (ASSINADO). Mova o mouse para baixo até "comentários e opções curtir" e desmarque a opção. Cole isso no seu mural se não quer que todo mundo veja tudo o que você faz ou fala no Facebook. Eu farei o mesmo por você se você quiser. Apenas clique no "curtir" abaixo para que eu possa saber da sua preferência!”

Como observadora dos processos e fenômenos comunicacionais, principalmente os que acontecem dentro da sociabilidade virtual, comecei a me perguntar sobre questões recorrentes a respeito da ferramenta Facebook. Sobre privacidade, conteúdo pouco “aproveitável” que alguns internautas batizaram com o nome de “orkutização” e até utilização a má utilização ou o exagero dela por muitos, tornando frias as relações pessoais (assunto abordado brilhantemente pela Profª Vânia Vasconcelos – FAP/Div aqui nessa coluna ).

E por um jeito próprio, gosto de pensar me fazendo perguntas. E acabo por ter algumas hipóteses. Umas o tempo se encarrega de refutar (derrubar), outras, pesquisas e estudos comprovam. Não me preocupo se estou certa ou não. O fato é que a minha compulsiva mania de pensar o mundo me leva a várias indagações madrugada afora. E hoje vou compartilhar algumas com vocês, que partiu desse recado citado acima.  

Primeiro sobre a má utilização da ferramenta FB, que recai no que o artigo da Profª Vânia (disponível no Blog Observatório de Mídia). O FB tem sido usado muitas das vezes como uma alternativa à relações pessoais, como se pudesse substituí-las no quesito proximidade. Pois bem, pensou eu que culpar o FB por isso, é como dizer que a martelada no dedo foi provocada pelo martelo ou pelo prego. 

Segundo, sobre a “Orkutização” . Vejo essa discussão com certas reservas. Algumas colocações dos que reclamam me parecem muito elitistas. Tomando como base de que a  sociabilidade (utilizando aqui o conceito do teórico francês Mafessoli ) é da ordem do afetivo, do sensível, do efêmero, não vejo porque tanta “raiva” das postagens “inúteis” como dizem. Caso não queira ver as postagens ou elas não lhe sirvam, livre arbítrio. Mudar-se para ambientes virtuais que imitam a tribalização da realidade, grupos com objetivos afins, performance e posicionamentos parecidos estão em redes sociais digamos particulares. Eu, que tanto por gostar de gente, ou por entender que a vida pulsa é exatamente na mistura, o FB me dá clareza como a sociabilidade está acontecendo. E fazer parte dela é o único caminho para que eu seja inclusive uma boa profissional de comunicação. Falo dos recortes que são feitos dos acontecimentos, da linguagem e códigos próprios, das discussões sobre tudo, sem hierarquia de importância. Afinal é importante pra quem, pra mim? E se as minhas importâncias forem inúteis, chatas, bobas para alguém? Entendo aqueles que dão uma selecionada, “limpada” como andam dizendo no meio. O que significa excluir pessoas que não trazem assuntos ou posts interessantes no seu conceito. Eu porém, não tenho esse critério, para exclusão. A minha limpa é feita sob um parâmetro, exatamente o terceiro ponto a ser questionado nesse texto a seguir. 

Por fim a privacidade: preocupação das pessoas que estão colocando o passo-a-passo nos seus murais para garanti-la. Todos os amigos que me pediram, eu, por uma questão de gentileza, atendi o pedido e segui a orientação. Mas fiz questão de aproveitar o espaço e lançar a reflexão sobre o assunto e reafirmar que jamais postaria nos seus murais, alguma coisa literalmente não publicável. Algo que o envergonharia ou constrangesse perante amigos meus, que no caso são escolhas minhas. E não solicitei o passo-a-passo para dar um voto de confiança de que ele como sendo uma minhas escolhas, passou pelo critério do qual ele está com medo. Sabe porquê?

Porque na verdade essa reflexão leva a outra boa e velha discussão, que nasceu muito, mas muito antes de qualquer realidade virtual. A diferenciação entre instância pública e instância privada. Não consigo imaginar que alguém que tenha uma boa postura no seu comportamento de convivência real, de respeitar o limite do outro, de ter a medida da inconveniência de assuntos e de provocações, discernimento entre o que se fala e comenta num ambiente público, tais como bares, rua, parlamentos, imprensa...e o que se comenta somente com pessoas de fórum íntimo, privado, vão perder essas características no FB. 

Concordo sim, que o FB às vezes é usado como diário, como local de ofensas pessoais, provocações passionais, mas porque quem o utiliza assim não sabe lidar com a relação público e privado na própria vida. Essas pessoas, possivelmente já deram vergonhinha alheia nos amigos, conhecidos ou desconhecidos, pagando micos nos bares, falando o que não deviam, ofendendo com palavras inapropriadas, brincadeiras de mal gosto, expondo as suas próprias relações públicas e privadas. Pessoas que já tentaram resolver suas decepções amorosas fazendo ou ameaçando fazer escândalos na porta da casa do outro,  envolvendo familiares em situações íntimas, no trabalho, enfim, tornando o espaço público um argumento de ameaça. A falta de saber usar os espaços relacionais reais levam ao  “delírio” de utilização do FB. 

Não estou aqui defendendo que continue essa falta de separação de instâncias no FB. E sinceramente, com tantas reclamações e conseqüências sérias dessa falta de inteligência para entender que o espaço virtual da redes de relacionamento é um lugar PÚBLICO, eu creio  que haverá uma evolução nesse sentido. Visão otimista, muitos dirão. Eu sei que é. E também sei que enquanto isso não acontece na velocidade que queremos,  teremos sim que  selecionar.  O que eu não concordo é que mais uma vez a ferramenta FB leve a culpa. Vamos passar a peneira no FB e também na vida. Os inconvenientes e desavisados do FB também são alvos da minha peneira na convivência real. Porque invasão de privacidade e descuido com ela é violência. E essa é inadmissível, seja na universo virtualizado ou na realidade das práticas vivenciais.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Facebook aproxima ou afasta as pessoas?

Vânia Vasconcelos
Publicitária, especialista em Marketing, consultora em Comunicação
Professora no curso de Comunicação Social Pitágoras - Divinópolis


Recentemente eu tinha achado um pouco estranho receber 200 mensagens de aniversário pelo FB (Facebook )e menos de 10% disso em telefonemas. Abraços e visitas pessoais, então, só mesmo de alguns amigos e familiares muito muito próximos. 

Mas receber a notícia do falecimento de uma amiga pelo mural de alguém foi muito mais chocante. E o restante das informações sobre o assunto vieram também via inbox, enquanto uma ligação (ou um SMS, no máximo), seria muito mais imediato, caloroso, humano. Várias mensagens de despedida foram postadas em sua página. Inclusive a minha. Sim, eu também escrevi um recado pra ela, num misto de negação e ilusão de que aquilo ali amenizaria meu desentendimento diante de tudo, já que um dia antes a gente havia se encontrado e feito planos tão próximos... Foi aí que comecei a refletir sobre o papel do FB... Sem dúvida, manifestações sinceras de carinho dos que ficam. Isso é inquestionável. Mas, em vez de compartilhar mensagens e fotos, cadê o abraço apertado para compartilhar a dor? Cadê alguém pra chorar com você? Cadê o conforto pessoal, o lado humano, o silêncio em companhia de alguém? O que questiono não é o desconforto da perda, mas o jeito de manifestá-lo.  A frieza em que o facebook vem transformando as relações. O quão cômodo é deixar recado em vez de olhar no olho e se expressar com a alma.

Tirando o peso deste acontecimento lamentável, as pessoas esperam que a gente fique 100% do tempo conectados ao FB (Facebook) e, se não estamos, somos meio induzidos a ficar porque informações importantes pra gente agora são repassadas por aqui. Até o pedido de socorro de um amigo que precisa sair do tédio no domingo é via inbox. Ou seja, se você vir a mensagem só no dia seguinte, corre lá pra conferir se o amigo sobreviveu à overdose de Rivotril, este sim, um recurso infalível para te afastar temporariamente da sua realidade insossa. 

O facebook nos contamina também de outras maneiras. Perdemos horas irrecuperáveis assistindo à vida alheia. Voyeurs de um cotidiano que te move sem direção. Descobrimos quem está sofrendo por amor através de citações literárias, quem está perdido por meio do excesso de posts, quem está sustentando um personagem contrário à vida real e quem está querendo dizer algo nas entrelinhas, mas não pode se revelar tanto diante de tamanha publicidade do FB. Repare que quando alguém ensaia assumir um estado de espírito mais deprimente o faz timidamente, com medo dos julgamentos. Mas, ao mesmo tempo, se alguém está te escondendo algo na vida real, fatalmente o Face vai denunciar. 

Aliás, julgar é o verbo mais praticado no FB (Facebook).  Se postamos fotos das nossas viagens, somos considerados “esnobes”. Se não respondemos uma marcação a tempo, somos displicentes. Se não postamos no mínimo diariamente, somos out. E se tentamos disseminar algum conhecimento um pouquinho mais cult, o fraco ibope medido pelo “curtir” te detona como uma buzina dos programas de calouros. Ficamos escravos da aprovação do outro e vamos nos adaptando até conseguir. Uma construção diária de amizades fake, de exposição sem colete à prova de balas e sem nenhum ganho real, porque quando você realmente precisa de alguém, certamente não vai encontrá-lo no facebook.

Tudo bem que o FB (Facebook) é a maneira mais moderna de se comunicar. Concordo e continuarei usando, pois de alguma forma é uma ferramenta útil. Minha reflexão é só para que ele não substitua os contatos pessoais, porque em certas horas a gente precisa de gente. Não quero causar polêmica, nem generalizar. Só expressar minha dificuldade de aceitar e acompanhar a decadência das relações humanas na era digital.