segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Imprensa e eleições

Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica.Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
 
Começamos mais um processo eleitoral. É perceptível como os humores tornam-se exaltados nesse período, os justos tornam-se justíssimos e a imprensa, claro, sempre ela, tenta passar mais uma vez sua imagem de imparcialidade. E é aí que a coisa não funciona. Mesmo com todas as regras estabelecidas pela Justiça Eleitoral a fim de preservar a isenção dos meios de comunicação neste período, ao analisarmos friamente o cenário percebemos facilmente como a imprensa ainda consegue se manter parcial, defendendo seus interesses políticos e ideológico$$!

 A coisa começa logo que a última eleição é definida. Apurados os votos e determinado o vencedor, começam os conchavos e o estabelecimento de parcerias que vão durar pelos próximos quatro anos. Como é sabido por todos que, infelizmente, a maior parte dos recursos para a manutenção dos veículos ainda vêm dos cofres públicos, por meio da publicidade governamental, o público assiste então a quatro anos de notícias positivas e omissões impensáveis numa democracia. Mas é assim que rolam os dados.

Então, o cidadão (ou eleitor) fica por todo um mandato sendo alimentado por notícias que destacam o papel “brilhante” desempenhado por um governo e por seu governante – em qualquer esfera, executiva ou legislativa, seja nos âmbitos municipal, estadual ou federal. O que é negativo não aparece e as denúncias são adjetivadas como vazias ou infundadas. E aí a legislação estabelece regras determinando que os meios de comunicação, nos meses que antecedem o pleito, concedam o mesmo espaço editorial dado a um determinado candidato para os demais. É justo isso? E os três anos e tantos meses anteriores de privilégio? Esses não contam?

Outro fato questionável é a divisão do tempo entre os candidatos no horário eleitoral gratuito do rádio e TV. É óbvio que aquele postulante a um cargo eletivo que dispõe de mais tempo para apresentar suas propostas leva vantagem na disputa. E, apesar de saber que o tempo destinado a cada um é proporcional aos partidos de uma coligação e a sua respectiva representação no Congresso Nacional, não vejo nessa divisão uma forma justa equânime e certa. 

Longe de querer ser um legislador, até mesmo porque minha formação não permite, mas parece que tem algo errado aí, não? Falar em imparcialidade com vários interesses econômicos mediando a relação entre imprensa e governos é, no mínimo, falível. Diante disso, qual o papel do jornalista? Em primeiro lugar, acredito, é o de deixar claro para o público como as coisas funcionam.

Com o intuito de preservar a democracia e levar informações para que o público tenha autonomia em sua tomada de decisões, a imprensa pode, se quiser, contribuir de forma decisiva para a transparência do processo eleitoral. De início, seria importante mostrar à população como funcionam os cálculos do quociente eleitoral, qual o papel dos vereadores, do prefeito, entre outras coisas. Depois, explicar como os recursos chegam para as Prefeituras e as Câmaras Municipais, e mostrar como e com que eles são gastos. Isso já seria um grande avanço. Mas, infelizmente, acho que ainda fica no campo das utopias.

Diante disso, cabe ao cidadão-eleitor buscar o máximo de informações possível, preferencialmente em fontes diversas, a fim de formar sua opinião sobre os candidatos. A internet mostra-se uma grande aliada neste processo e tem dado resultados expressivos, especialmente entre os mais jovens. Mas com todos os seus problemas de inserção popular, ainda é fraca na formação da opinião pública se comparada às mídias tradicionais. Já que não costuma ajudar muito, tomara que a mídia pelo menos não prejudique esse processo democrático.

 

 
PS: O programa Observatório de Mídia da TV Pitágoras volta com novo formato neste final de semana, na TV Candidés. Apresentado por este jornalista, a primeira edição do 2º semestre recebe os professores Bernardo Rodrigues e Sérgio Gildin para debater o assunto Mídia e Parcialidade, além do papel da imprensa no período eleitoral. Confira no próximo domingo (02/09), às 13h, na TV Candidés

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Quanto custa a consciência?

      
Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.


 
       Na última semana, especificamente na última quinta-feira, um importante aniversário de 20 anos foi pouco lembrado pela imprensa nacional. Em 16 de agosto de 1992 um grande número de estudantes brasileiros foi às ruas, vestindo roupas pretas e com as caras pintadas da mesma cor, em protesto aos demandos do Governo Federal, ocupado então por Fernando Collor. A ironia é que o presidente havia convocado, na véspera, uma manifestação popular conclamando os jovens a vestirem verde e amarelo e ocuparem as ruas para mostrar seu apoio à Presidência. Tal manifestação serve como marca por vários motivos: demonstração de força popular, mobilização (verdadeira) da juventude em torno de uma causa nobre e a imprensa atuando como elemento decisivo para levar as informações de interesse público à população.

Por ter sido um momento ímpar e extremamente relevante para a história nacional, fico surpreso pelo fato não ter sido lembrado da forma como merece pela grande imprensa. Um dos motivos pode, como já discutido anteriormente neste espaço, dizer respeito à superficialidade e falta de investigação em temas relevantes atualmente na mídia nacional. Sobre isso, vale a pena citar o brilhante jornalista Mário Sérgio Conti, atualmente apresentador do Roda Viva e repórter da revista Piauí, que lançou em 1999 o livro “Notícias do Planalto”, em que conta a relação de Collor com a grande imprensa.

A obra, indispensável para quem gosta de estudar a relação entre jornalismo e política, analisa desde o surgimento do fenômeno midiático Collor como “caçador de marajás” até sua queda, provocada em parte pela atuação da imprensa. O principal fio condutor do texto é a íntima relação do protagonista com a mídia, responsável em grande parte por sua eleição e também por seu processo de impeachment, ao denunciar em belas reportagens investigativas os esquemas de corrupção comandados pelo fiel escudeiro PC Farias. Resenhas à parte, “Notícias do Planalto” revela os bastidores de investigações conduzidas por repórteres com compromisso com o interesse público.

Hoje, 20 anos depois de tudo isso, o mesmo Mário Sérgio Conti publicou no último mês, na Piauí, uma reportagem sob o título “Escândalos da república 1.2”, em que analisa a situação da imprensa hoje e seus principais personagens à época das denúncias. De forma surpreendente, o jornalista expõe que a maioria esmagadora dos então repórteres investigativos atualmente está “do outro lado do balcão”, tendo atuado ou atuando como assessores de comunicação e imprensa de personalidades e políticos de reputação duvidosa como João Paulo Cunha, Agnelo Queiroz, Joaquim Roriz, Roseana Sarney, Ricardo Teixeira (CBF), Daniel Dantas (banco Opportunity), Fernando Cavendish (empreiteira Delta) e mesmo Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Sabe-se que, atualmente, as áreas de consultoria e assessoria de comunicação, especialmente relacionadas à área política, costumam ser as mais bem remuneradas para estes profissionais de palavras e ideias. Apesar disso, como pode um time inteiro de grandes profissionais deixar de lado sua vocação, expertise e, especialmente, compromisso público para servir à blindagem de figuras tão particulares? Será mesmo que vale a pena abrir mão dos princípios e de uma reputação construída à base da competência para ganhar uns trocadinhos a mais (mesmo que sejam trocadões a mais) no final do mês? E a consciência, quanto custa?

Um dito popular enuncia que todo homem tem seu preço. Há quem duvide e quem concorde com a afirmação. E há ainda quem se vende por um preço muito baixo, irrisório até. Acho que seria interessante implantar, nos vestibulares de jornalismo, um teste para medir o caráter e a corruptibilidade de cada candidato a repórter. Manter-se fiel aos princípios em uma profissão passível de ofertas “tentadoras” a todo o momento não é tarefa fácil. Mas também não é impossível e milhares de exemplos podem ser dados. Nada contra a ambição coerente, mas tudo contra a ganância desenfreada. Há formas e formas de se dar bem e ser reconhecido (inclusive financeiramente) no meio profissional do jornalismo. Cabe a cada um a decisão entre subir a pé ou num jato superfaturado.       

     

terça-feira, 14 de agosto de 2012

É fantástico?


Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.




O programa global que fecha o domingo causa uma série de reações a toda população brasileira. Para alguns, marca o encerramento do final de semana. Para outros, o momento de reunir a família para, juntos, assistirem à última atração de domingo antes de se deitar e acordar para mais uma semana de trabalho. Há ainda aqueles que afirmam existir certa “síndrome do Fantástico”, que causa um mal-estar danado quando começa por lembrar aos telespectadores que daqui a algumas horas a segunda-feira está chegando. Indiferente da sensação que causa, o programa marca, marcou ou vai marcar a vida de muitas pessoas ainda.

Fora a tradição de fechar o domingo, o Fantástico já marcou de forma positiva a vida de muita gente com reportagens interessantes, investigativas, e até mesmo com quadros de entretenimento que tinham conteúdo de verdade. A situação hoje, no entanto, mostra um programa sem identidade, que esta “atirando para todos os lados” em busca de audiência. E isso, além de ferir a sua tradição, gera uma reflexão importante: o jornalismo de verdade perdeu seu espaço nas noites de domingo?

Ao olhar para a concorrência, percebe-se que o Fantástico mantém-se como a única opção capaz de gerar algum conteúdo produtivo dentre as grandes emissoras de TV abertas nas noites de domingo. No SBT, encontramos o divertido Sílvio Santos, que é legal mas não tem conteúdo relevante; na Record, a “tentativa de ser igual ao Fantástico” Domingo Espetacular, que vem abusando da parcialidade, e o apelativo Marcelo Rezende com seu pouco informativo Repórter Record; na Band, o Pânico cada vez mais lança mão de extremos para segurar a audiência e perde a originalidade que o colocou como uma das opções para as famílias; e na Rede TV! temos a versão abrasileirada (e piorada) do Saturday Night Live, seguido por um filme e pelo inacreditável show de bizarrices Dr. Hollywood Brasil.

Apesar da fraca concorrência em termos de conteúdo, percebe-se que a Globo, por mais incrível que pareça, vem perdendo audiência a cada domingo. Aí alguém pergunta: mas como? Claro que não possuo as respostas, mas sim algumas considerações para refletirmos sobre isso. A primeira coisa a se constatar é que o programa está perdido, com falta absoluta de identidade. Por mais que se proclame “O Show da Vida”, e sabemos que a vida é realmente complexa, não consigo compreender como colocar dentro de um mesmo programa assuntos tão afastados como a estréia de uma nova novela, uma investigação sobre a corrupção nas altas esferas políticas, um raio-x da vida de um sertanejo cinquentão que está solteiro e, pasmem, um quadro anunciado como sério e como destaque investigando fantasmas em “casas mal assombradas” brasileiras. É um mexido que não tem tempero, ou uma massa que não dá liga.

Creio que o jeito “engraçadinho forçado” de apresentação, fruto de nomes como Tadeu Schmidt e Tiago Leifert na vênus platinada, contaminou toda a equipe de produção e roteiro que, assim, busca cada vez mais assuntos leves e sem interesse público para estampar a grade do noticiário. Não que o jornalismo não possa levar notícias leves e descontraídas ao público. Esse é inclusive um dos propósitos do programa, pelo horário em que passa e pelo público que busca. Mas jogar fora uma tradição de décadas de bom jornalismo e investigação em nome da guerra da audiência não dá certo e, por vezes, parece que estamos assistindo a um Frankenstein: uma mistura de “Mais Você” com “TV Fama” e umas pitadas de “Zorra Total”. É demais para mim.

Mas nem tudo está perdido. O Fantástico ainda possui um dos melhores repórteres investigativos do Brasil, Eduardo Faustini, que sempre consegue apresentar uma boa reportagem sobre algum tema de interesse público. Pena que ela fique perdida em meio a uma quantidade absurda de assuntos sem sentido. Enquanto não resolver seus problemas de identidade, o programa vai continuar “surfando” nas ondas do Ibope e perdendo público. Afinal, sem qualidade, vai ser difícil segurar a audiência da geração que está chegando, que tem uma facilidade incrível de desviar a atenção quando algo não lhe agrada e uma rapidez particular para zapear entre os canais e entre a TV e a internet. É uma pena. Já foi Fantástico. Agora parece que não é mais.



PS: Merece registro a reportagem feita pelo repórter divinopolitano Elton Novais e exibida no final do Fantástico do último domingo (12/08), sobre a história de amor e superação entre pai e filho. A única nota negativa no episódio foi a edição, que tirou os créditos e a imagem do repórter e deixou toda a narração por conta do divertidíssimo (só que não!) Tadeu Schmidt. De qualquer forma, parabéns ao Elton pela descoberta!   

Jornalista ou segurador de microfone?


Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.



O jornalista Marcelo Parada, em seu livro “Rádio: 24 horas de jornalismo”, faz uma importante distinção do ofício, que deveria ser aprendida, entendida e aplicada pelos estudantes e profissionais: a diferença entre o repórter e o segurador de microfone. Longe de qualquer conotação humorística, o autor esclarece que o segurador de microfone é aquele “pseudojornalista” que, sem esboçar qualquer indício de atividade intelectual mais avançada, dá-se ao trabalho de apenas ouvir declarações para construir as notícias. Diferente do verdadeiro repórter, ainda de acordo com Parada, que usa as declarações para complementar as informações já apuradas para a confecção de qualquer notícia, e não como uma “bengala” sem a qual não se produz material.

Esse conceito já fora explorado também por Clóvis Rossi, que anuncia estarmos vivendo uma era do “jornalismo declaratório”, baseado exclusivamente em entrevistas e declarações, ficando o repórter quase que como um mero instrumento de captação e transcrição das informações gravadas. Isso, como se sabe, empobrece o material noticioso, que fica sem a importante colaboração que o fator humano (o jornalista) poderia acrescentar.

Se o imperativo profissional da categoria é basear a prática exclusivamente em declarações e transcrições, muito em breve o jornalista poderá deixar de existir. Isso porque já existem softwares disponíveis no mercado que fazem a transcrição de gravações e geram um documento de texto, independente de quanto tempo de áudio exista. Se ainda não são populares, em muito pouco tempo estarão em praticamente todas as redações substituindo o profissional no demorado serviço de decupagem.

E assim que isso acontecer, duas saídas são possíveis: a primeira, fazer com o jornalismo torne-se uma atividade automática (ou eletrônica) de somente gravar, transcrever e publicar informações vendidas sob o nome de “notícia”. A segunda, mais saudável e inteligente, é repensar o papel dos repórteres na atividade contemporânea e fazer com que as declarações sejam acessórias no processo de construção das notícias. Para isso é necessário mudar a postura de grande parte dos profissionais e privilegiar a capacidade de pesquisa, observação e apuração dos fatos.

Uma das principais mudanças para que isso ocorra está no fato de mudança do ambiente de trabalho do repórter. Deve-se, como antigamente, abandonar as confortáveis cadeiras da redação e pôr o pé na rua, afinal é lá que ocorrem os fatos que se tornam notícias. Agora, pensar que as grandes notícias vão “cair no colo” de quem estiver sentado na redação, ou que vão brotar nas redes sociais, é inocência ou falta de iniciativa. Na redação pode até acontecer o ponto de partida para uma grande reportagem, mas, inevitavelmente, a observação e apuração dos fatos se darão no local onde eles acontecem.

Na última semana, foi exibida no programa Dossiê GloboNews uma entrevista conduzida pelo bom repórter Geneton Moraes Neto com o excelente norte-americano Gay Talese, um dos papas do jornalismo contemporâneo. Talese, que ficou famoso por uma reportagem-perfil sobre Frank Sinatra, “Frank Sinatra está resfriado”, publicada em abril de 1966 na revista Esquire, analisa o atual momento do jornalismo e afirma, com convicção, que existe uma extrema dependência da chamada “agenda oficial” nos dias atuais. Ou seja, os jornais aguardam ser provocados, principalmente por instituições e pessoas públicas, para irem atrás dos fatos que se tornam notícias. Daí vê-se a enxurrada de reportagens parecidas em todos os jornais (impressos, rádios, emissoras de TV e sites) com temas também muito semelhantes: inaugurações, visitas, reuniões, festas etc.

O norte-americano encerra a entrevista dizendo da importância da observação e pesquisa para a prática jornalística. E, por isso, afirma que não sente nenhuma vontade em entrevistar “estrelas” da mídia como atores e cantores, uma vez que suas palavras, na maioria das vezes, saem de suas bocas, mas do cérebro de roteiristas e assessores de imprensa. Por isso é, assumidamente, assim como o brasileiro Ricardo Kotscho (e, vá lá, Maurício Kubrusly), um especialista em “histórias paralelas”, aquelas que contam interessantes fatos sobre “desconhecidos”. Afinal, este é o jornalismo real, de verdade, com o pé na rua. E este deveria ser o papel do repórter, que, segundo Kotscho, é responsável por cultivar “a arte de informar para transformar”. Ou alguém acha que as histórias mais interessantes do mundo cabem na internet?










Tem algo a fazer? Acorde! O segundo semestre começa hoje

 Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.





A maioria das promessas não cumpridas nasce em 31 de dezembro. Ano após ano, milhares (ou milhões, ou bilhões) de pessoas em todo o mundo prometem, no Reveillon, fazer algo que lhes é difícil, que geralmente consiste em sacrifícios pessoais e, muitas vezes, vão lhe fazer bem. A lista de desejos é grande: emagrecer, parar de fumar, começar uma atividade física regular, trabalhar menos, ler mais... O que acontece, no entanto, é que a pressão e a velocidade da contemporaneidade nos levam a esquecer o compromisso firmado conosco e abandonar a “promessa” em menos de 24 horas.

Ok, esta não é uma coluna de auto-ajuda nem mesmo de debate acerca dos males psicossociais (apesar da mídia ajudar bastante neste quesito). Mas vale lembrar que começa extra-oficialmente, amanhã, o segundo semestre. Pelo menos é assim na maioria dos calendários letivos e em diversos setores da economia. E a reflexão do início deste artigo vem lembrar justamente isso: não cumpriu a promessa em janeiro? Que tal fazer agora em agosto? Além de tirar a “zica” que ronda o cumprimento das tarefas no início do ano, hoje já é terça-feira, afastando o elevado índice que ronda as segundas-feiras, dia mundial do início frustrado de regimes e afins.

A falta de tempo, reclamação número um na lista das desculpas, realmente é um sério problema a ser superado. Em conversas diárias, é fácil perceber o quanto este “mal” afeta praticamente todos os seres humanos. É o dilema da ultra tecnologia: constroem-se carros mais rápidos, mas as ruas e estradas não suportam o tráfego. Cria-se uma solução para a conectividade entre as pessoas distantes fisicamente, mas aumenta-se o número de tarefas a serem cumpridas. Facilita-se imensamente a produção de conteúdo intelectual, pela possibilidade de criarmos blogs gratuitos e pelo baixo custo de impressão, mas as pessoas não têm tempo para desenvolver sua criatividade.  

O sociólogo italiano Domenico de Masi, em “O Ócio Criativo”, já alerta para a necessidade (isso mesmo, necessidade) do ser humano, especialmente aquele que desenvolve atividades intelectuais, de ter períodos ociosos para “recarregar as baterias” e, assim, continuar produtivo. Nessa obra, o autor revela uma total insatisfação e questiona o atual modelo social centrado na idolatria do trabalho, que faz com que as pessoas tornem-se, muitas vezes sem escolha, escravas do ofício. Se levarmos em consideração ainda o alto índice de sujeitos que trabalham insatisfeitos com aquilo que fazem, percebe-se facilmente um dos motivos para o aumento excessivo na venda de ansiolíticos e demais medicamentos que prometem a tão buscada “felicidade em cápsulas”.

Hoje me sinto extremamente realizado com a profissão que exerço. Como professor e pesquisador, consigo dosar minha rotina entre o trabalho, os estudos, as atividades lúdicas e ainda ter um pouco de tempo livre. Mas tomar esta decisão não foi fácil e muito menos resultado de uma “promessa” de Reveillon, principalmente por todas as dificuldades inerentes à profissão. Mas que bom que, quando preciso, fui firme o suficiente no meu propósito. Consigo ter imenso prazer no meu ofício e ainda tenho a possibilidade de estudar cada vez mais, mesmo sabendo que quanto mais o faço mais fica clara a minha pequenez no mundo. Afinal, já é sabido que quanto mais se aprende, mais se percebe o tamanho de nossa ignorância.

Outro grande autor, Rubem Alves, versa sobre a necessidade da busca pelo prazer nas atividades cotidianas, em “Variações sobre o prazer: Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e Babette”. Segundo o pedagogo, o prazer não deve ser encarado como um imperativo, “Como se o mundo fosse um imenso jardim cheio de árvores com frutos doces e coloridos, com placas em todas elas dizendo: ‘Proibido’”.

Portanto, com o início do segundo semestre letivo, que tal mudar aquilo que não satisfaz, que não dá prazer? Quem sabe tornar o inimigo tempo em um aliado para fazer o que se gosta? O lazer, a arte, a leitura, a música, os amigos e tudo o mais que nos faz bem são remédios para a alma, mais forte do que qualquer genérico de tarja preta que vendem por aí. Não custa tentar!

Tem Olimpíadas este ano?


Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.

A falta de transmissão das Olimpíadas de Londres pela Rede Globo gera um fenômeno social: o esquecimento. Isso porque, como a transmissão dos jogos será feita como emissora aberta exclusivamente pela Rede Record, nunca o assunto foi tão “esquecido” pelos demais meios de comunicação e, consequentemente, pela população brasileira. Com atletas de alto nível, times que empolgam no futebol, vôlei, basquete, natação e judô, o Brasil nunca esteve tão “desligado” do, talvez, mais importante torneio esportivo mundial. E isso, como se buscará demonstrar nesse artigo, pode ser considerado uma culpa exclusiva de quem manda, de fato, na opinião pública nacional: a vênus platinada.

Não tenho dados científicos para apontar, mas, no “chutômetro” sou capaz de apostar que cerca de 50% da população nacional (ou mais) não faz a mínima ideia de que as Olimpíadas 2012 começam nesta semana. Isso revela o efeito que a omissão proposital do assunto pela emissora fundada por Roberto Marinho é capaz de gerar no meio social. Se a Globo não noticia, então não existe. E a lógica populacional, infelizmente, segue muito esse falso pensamento.

Sem desmerecer a importância dos jogos esportivos, o fato que mais causa estranhamento e preocupação com esta reação popular é a constatação da hegemonia da emissora e sua capacidade de realmente influenciar e até mesmo formar a opinião pública. Esse é o assunto que merece debate. Se a Globo consegue “anular” um evento tão grandioso como as Olimpíadas, ao simplesmente deixar de noticiar sobre o evento, o que mais ela seria capaz de fazer em termos de manipulação social?

Por mais que profetas do Apocalipse e teóricos do Twitter insistem em anunciar que quem faz o mundo acontecer hoje são as mídias sociais e que, com isso, há maior liberdade de expressão e informação, continuo a perceber o quanto as mídias tradicionais, especialmente a TV (e mais ainda a Rede Globo), são quem, de fato, criam, selecionam e excluem os assuntos a serem vivenciados e comentados pela população. É uma constatação prática de duas das principais teorias do Jornalismo, a “agenda setting” e a “espiral do silêncio”.

De forma bem concisa, o principal aspecto destacado nessas duas teorias da Comunicação é que a mídia, ao priorizar determinados assuntos a serem noticiados, em detrimento de outros, acaba “apagando” os demais temas que não entram nos noticiários. Com isso, assuntos que são noticiados com frequência e determinada intensidade no meio social acabam colocando no esquecimento outros assuntos não veiculados, mesmo sendo de grande importância para a sociedade. Outro efeito disso é que, por determinar os assuntos de destaque no noticiário, a mídia acaba selecionando também os assuntos que a população discute no seu dia-a-dia.

Talvez hoje tenhamos a oportunidade de perceber claramente como isso acontece na prática. Exemplo? Basta alguém se dar ao trabalho de contar a quantidade de tempo destinada pela Globo para o noticiário olímpico e verificar, também, quanto tempo a mesma emissora vem destinando (no noticiário) aos acontecimentos de sua novela principal, “Avenida Brasil”, que, coincidentemente, está atingindo seu ápice na revelação de mistérios três meses antes de seu final previsto e ao mesmo tempo em que a Record começará a transmitir os jogos olímpicos. Então, compare o tempo no noticiário destinado a cada um dos dois assuntos e veja em qualquer roda de conversa qual tema predomina e chama, de fato, a atenção das pessoas. Mas não, aqui não tem nada de teoria da conspiração.

Em tempos de discussão sobre a liberdade de expressão, mídias sociais e perda de hegemonia dos meios de comunicação tradicionais, a Rede Globo dá um tapa na cara de muitos “teóricos” e prova que, mais que um 4º poder, a mídia pode muito bem tornar-se o primeiro e ditar os passos da sociedade. Afinal, não convém duvidar da força de quem já elegeu, elege, retirou e continua retirando do cargo presidentes, ministros, senadores, deputados. Mas afinal, esse ano tem Olimpíadas mesmo?  

Bial, na moral, é jornalismo ou entretenimento?


Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.


Confesso que admiro Pedro Bial. Não a ponto de colocá-lo num altar e ficar admirando todas suas produções, nem mesmo para me deixar incapaz de ser crítico em relação à sua mais nova aventura: o programa Na Moral, que estreou na última semana. Os jornalistas, jovens e experientes, geralmente admiram figuras como ele, devido à sua incontestável bagagem profissional como correspondente internacional. Dentre os destaques de sua carreira é impossível não lembrar a cobertura ao vivo feita por ele da queda do Muro de Berlim, em 1989, num tempo em que a internet ainda não existia para a grande massa. Ponto para o jornalista Bial.

 No entanto, desde que a febre dos reality shows invadiu o Brasil, Pedro tornou-se, talvez, uma das figuras mais conhecidas, queridas e admiradas em todo o país. E não é para menos. Comandando o BBB, que em uma de suas edições teve na final um número maior de votos do que os que elegeram recentes presidentes da república, passou a ser figurinha fácil nas telas, nas capas de revistas e na boca do povo. O jornalista, apresentador, cineasta, poeta e cronista Pedro Bial virou simplesmente “Bial”. E a pseudointimidade que os reality shows gera nas pessoas, a cada ano é reforçada por mais uma edição do programa que costuma deter os maiores índices de audiência do país.

Não quero aqui discutir o conteúdo destes programas (até porque já existem considerações e “teses” demais acerca do tema). Mas é necessário citá-lo porque um dos fenômenos que elevaram Bial ao posto de “intelectual das massas” diz respeito justamente à sua condução no BBB. Os discursos de eliminação elaborados e lidos pelo apresentador chegam a ser mais aguardados do que os próprios vencedores da atração. (Por falar nisso, quem ganhou este ano mesmo?) Misturando filosofia de butequim com trechos copiados destas correntes de email e, ainda, com pitadas de citações literárias ou filosóficas, os famosos discursos do comandante da “nave mãe” encantam, emocionam e prendem o telespectador até altas horas em frente à TV.

E se Bial é então o “intelectual das massas” brasileiro, esperava-se um pouco mais de seu novo programa, Na Moral, que estreou na última semana. As chamadas da atração criaram expectativas positivas nos telespectadores. Com frases do tipo “sem censura” e “falar a verdade”, foi criada uma “esperança” de que, enfim, a TV Globo teria um programa jornalístico que trataria de temas polêmicos da forma como merecem: com debate, dando espaço para os lados envolvidos se manifestarem e sem a superficialidade tão comum nas atrações da emissora. No entanto, o que ocorreu foi justamente o contrário disso.

O primeiro programa, ao abordar o tema “politicamente (in)correto”, deixou muito a desejar, especialmente pela superficialidade. Com uma edição mal feita, ficou claro que as falas dos convidados e entrevistados foram cortadas bruscamente, prejudicando os telespectadores que estavam mais a fim de entender sobre o tema discutido do que em admirar os figurinos, os cenários e, principalmente, as gírias forçadas empregadas pelo apresentador em sua fala. Parece que a ideia é boa. Mas, fazendo um comparativo, a produção (apesar de um estilo totalmente diferente) está muito longe da qualidade de outros como “A Liga”, da Band, e “Profissão Repórter”, comandado pelo competente Caco Barcellos, na própria vênus platinada.

Tudo isso, no entanto, leva a uma discussão ainda maior, que deixaremos para a próxima coluna, devido à questão de espaço: a superficialidade do jornalismo. Num tempo em que a concisão impera e que é melhor quem consegue resumir tudo em 140 caracteres (num processo que denomino “twitterização” do mundo), a prática jornalística fica seriamente prejudicada. Neste cenário, é impossível (repito, impossível) aprofundar num tema e fornecer ao leitor/ouvinte/telespectador as informações necessárias para que ele possa, ao menos, compreender do que se trata.

Se a superficialidade é uma característica ou um problema do meio (no caso, a TV), desejo vida longa aos impressos e à internet. Isso mesmo, porque a internet, ao contrário do que muitos pensam, não se resume às redes sociais e pode, como nenhum outro meio, abrigar conteúdo convincente devido à possibilidade de expansão do fator tempo/espaço. Agora, devemos nos preocupar é se o problema está na mensagem ou no receptor ao invés do meio. Será que a superficialidade é o que o público espera e deseja? Se sim, como se diz no Twitter: oremos! 

A importância da prática na formação superior


Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.


Como docente, acadêmico e pesquisador, não tenho como discutir a importância da teoria para a formação profissional. Até mesmo porque, se assim não fosse, não estaria dedicando minha jornada profissional (e pessoal) para este fim. No entanto, hoje quero abordar uma outra parte, que tem se mostrado cada vez mais relevante para a construção do conhecimento e a rápida inserção dos profissionais no mercado de trabalho: a prática. Tão fundamental em áreas tradicionais das universidades, como nas ciências da saúde, jurídicas e as engenharias, por exemplo, percebe-se que a prática tem se tornado extremamente relevante também na área de Comunicação. Isso porque, com a democratização do acesso ao ensino superior, não basta o futuro jornalista ou publicitário ter somente o diploma de graduação. Em muitos casos, a experiência profissional adquirida durante a vida acadêmica faz a diferença em um processo seletivo.

Uma das grandes vantagens do profissional com diploma em relação àquele que atua de forma empírica é, além da formação humanista, justamente a oportunidade que tem de praticar com o acompanhamento de professores orientadores. Em praticamente todas as áreas do conhecimento é assim que funciona. Por meio das experiências práticas, realizadas em laboratório ou através de estágios regulamentados, o estudante tem a possibilidade de fazer e executar, colocando a “mão na massa” e construindo o próprio conhecimento.

Sabendo da importância dessa estratégia, a Faculdade Pitágoras Divinópolis é, hoje, referência no ensino aliando a teoria à prática, com foco na empregabilidade. Os ex-alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda têm atuado com destaque no mercado regional (ou mesmo nacional) e mostrado que o período de aprendizado consciente faz a diferença para a contratação. E esta realidade já se encontra presente também nos atuais estudantes. Grande parte dos alunos dos cursos de Comunicação Social já atua com destaque no mercado midiático regional e tem tudo para dar continuidade a essa trajetória de sucesso.

Um dos fatores que auxiliam nestes resultados é a excelência na infraestrutura de laboratórios e oportunidades de experimentação. Os alunos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda têm hoje ferramentas diversas para a prática, como a TV Pitágoras, a Rádio Pitágoras, o Jornal Ensaio Pitágoras, a AGP3 (Agência Experimental de Comunicação Integrada), além da WebRádio Pitágoras, que vem sendo construída a partir de um Trabalho de Conclusão do Curso de alunos de Publicidade e Propaganda. Já no ar em caráter experimental (http://webradiopitagoras.com/), a mais nova ferramenta de Comunicação da FAP Divinópolis servirá em breve como mais um laboratório dos cursos, ampliando ainda mais o leque de opções para a prática assistida. E tudo isso, como não poderia deixar de ser atualmente, conta com os trabalhos paralelos de divulgação das produções por meio da internet e das redes sociais digitais.

Esses laboratórios funcionam com o intuito de fazer com que o aluno dos cursos de Comunicação tenha a oportunidade de praticar o que foi aprendido em sala de aula, com a facilidade de ter professores orientando as experimentações. Além da possibilidade de experimentar, praticar e ser orientado, o aluno ainda pode mostrar aos amigos, pais e familiares os resultados dos trabalhos realizados. Isso porque, por meio de parcerias com emissoras locais, como o jornal Gazeta do Oeste e a TV Candidés, as reportagens, trabalhos e programas são veiculados nas mídias tradicionais, servindo como um incentivo ainda maior para o empenho nas produções.

Em meio às discussões sobre a regulamentação das profissões e a necessidade ou não do diploma de curso superior, o melhor argumento é o resultado das seleções feitas pelo mercado de trabalho. O conceito de evolução, que erroneamente é usado no senso comum no sentido de “melhoramento”, é aplicado pela FAP da maneira como deve ser: o de adaptação. Se o mercado de trabalho muda rapidamente, especialmente o da área de comunicação, impulsionado pela velocidade das transformações nas formas e na necessidade cada vez maior de transmissão de informações rápidas, evoluir significa preparar o futuro profissional da melhor forma possível para este cenário. E isso, a Faculdade Pitágoras tem feito de forma satisfatória.


Atlético e Cruzeiro “calam” imprensa esportiva?



Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.



Os resultados da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol, na última semana, geraram uma situação inusitada para a imprensa esportiva nacional. Pela primeira vez, em algum tempo, os jornalistas, cronistas e comentaristas não têm destaques efusivos de Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Flamengo ou Vasco para estampar na primeira página (ou como destaque nas manchetes de rádio e TV). E este é o assunto que quero discutir hoje neste espaço: as vitórias e a liderança de Atlético/MG e Cruzeiro “valem menos” do que a dos clubes paulistas e cariocas?

A imparcialidade sempre foi, é e será algo muito discutível no jornalismo e em qualquer ação humana. Por mais que o conceito, junto com o da objetividade, seja o primeiro a ser estudado pelos alunos do curso superior em Jornalismo, os próprios autores que embasam as discussões sobre a prática têm a consciência de que tal recurso chega a ser utópico. Não tem jeito e nem mesmo culpa a ser imputada a alguém. É natural do ser humano ser afetado por questões emocionais. A tal “Inteligência Emocional” é, de fato, muito difícil de ser posta em prática.

Logo, se vemos esta impossibilidade de ser imparcial e objetivo em toda a prática jornalística, o que dizer quando a discussão recai sobre uma das editorias mais lidas, desejadas e que desperta paixões e discussões elevadas ao quadrado? De início já se coloca aqui a dificuldade de se trabalhar na cobertura esportiva. O primeiro ponto a se destacar é que, se o repórter faz a opção por seguir este caminho, muito provavelmente o faz por uma questão de gosto. E, se o sujeito tem uma “queda” pelos esportes, mais provável ainda que ele tenha suas opções bem definidas em termos de equipes para torcer. Portanto, saber separar o trabalho das escolhas pessoais, nesse caso, exige, antes de tudo, trabalho, experiência e maturidade.

E é justamente neste ponto que faço a minha crítica à imprensa nacional. Com uma tendência descarada de privilegiar os times paulistas e cariocas nos destaques dos jornais e programas esportivos, percebe-se claramente a falta de critérios impessoais para a composição deste noticiário. Isso porque, mesmo com a impossibilidade de ser 100% imparcial e objetivo, vários autores que estudam e pesquisam a prática jornalística abordam um conceito que deveria ser seguido pelos profissionais da imprensa: a disciplina da verificação.

De forma bem resumida, em conjunto com analogias aos valores-notícia ou critérios de noticiabilidade, podemos entender a recomendação como o direito do leitor/ouvinte/telespectador a ser informado, da forma mais completa possível, dos fatos mais importantes e de uma forma clara, com direito ao contraditório. Assim, por mais que a imparcialidade utópica seja inalcançável, ao ter os devidos cuidados na seleção e apuração dos fatos “eleitos” para serem notícias, os repórteres e editores estariam fazendo a coisa correta.

 Sem poder destacar nas primeiras páginas (ou nas manchetes dos programas esportivos) os clubes paulistas e cariocas, a imprensa nacional calou-se, então. E aí cabe a pergunta: onde estão os cuidados com a “imparcialidade” ou com a disciplina da verificação? Se os times mineiros (ou gaúchos, que também ocupam as primeiras posições) lideram, simplesmente não há notícias, ou melhor, não há destaque? Ninguém aqui é inocente a ponto de achar que a preferência pelos destaques de Corinthians e Flamengo seja uma escolha pessoal. Sabe-se, claramente, que ela acontece em nome da maior audiência (por se tratar das duas maiores torcidas do Brasil), que gera mais patrocinadores e, consequentemente, mais receita para os veículos de comunicação.

Ok, a imparcialidade não existe no jornalismo. Mas daí simplesmente fingir que não há destaques e recusar a noticiar os feitos dos times mineiros é demais. Tomara que o futebol apresentado por Atlético/MG e Cruzeiro se mantenha em alto nível, pois, aí, não haverá como a imprensa nacional manter-se calada. Não que seja bairrismo. Mas, afinal, contra fatos não há argumentos!



 

Toda unanimidade é burra?


Ricardo Nogueira
 
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.




O grande dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues foi extremamente feliz quando disse que “toda unanimidade é burra”. Tido como gênio e revolucionário por uns, e como louco e tarado por outros, o escritor sentenciou, como poucos, a importância de haver a contraprova, o questionamento, a dúvida. Para a imprensa, então, a frase deveria figurar numa lista de 10 mandamentos sagrados, no sentido de intocável mesmo. No entanto, infelizmente o que vemos na prática é que o benefício do contraditório passa longe das redações, na maioria dos casos.

Se vivemos em uma democracia em que o cidadão elege seus representantes por meio do voto direto, é de se esperar que estas pessoas representem, de fato, os anseios, vontades e necessidades da população. Porém, não é novidade para ninguém que este papel está longe de ser assumido por quem ganha para isso. Resta então a esperança no poder Judiciário. Este, por sua vez, padece da “burrocracia”, da lentidão e de seu linguajar técnico que o afasta das pessoas mais simples e, por consequência (ou por propósito), mantém-se quase sempre inacessível ou intocável.

Com as instâncias públicas “comprometidas”, coube à imprensa o dever e o papel de denunciar, investigar e, em certos casos, até mesmo punir as pessoas que agem contra os princípios da legalidade, moralidade e zelo com a coisa pública. Ao fazer uma análise do cenário político atual, percebe-se facilmente que nunca a imprensa teve a oportunidade de ser tão eficiente neste propósito, uma vez que não vivemos mais sob Censura (pelo menos legalmente) e, em tese, todos os órgãos de comunicação são livres para investigarem e publicarem o que bem entender.

Mas infelizmente não é isso o que vem acontecendo. Pelo contrário, é fácil perceber uma mordaça cada vez mais forte que cala a imprensa. A tática é que agora é outra: ao invés da Censura existir via Ato Institucional, ela ocorre pela questão financeira. É sabido por todos (ou ao menos deveria ser) que a imprensa, como toda e qualquer outra organização privada em um mercado capitalista, é movida por interesses mercantis. E, historicamente, há duas formas de se obter sucesso financeiro neste mercado de notícias: a primeira, publicando reportagens de interesse público, gerando, consequentemente, credibilidade e aumento nas vendas em bancas e assinaturas; e a segunda, dependendo financeiramente de anúncios publicitários (especialmente vindos do setor público) para manter a circulação em dia.

Não é preciso ser economista para entender que a segunda forma é mais fácil, mais lucrativa e corre-se menos risco. E como vivemos em uma época em que o que vale é a “lei do menor esforço”, a grande, quer dizer, a esmagadora maioria dos veículos de comunicação optou por lucrar desta forma. Quem ganha com isso? Os seus proprietários, que dormem tranqüilos (?!) em suas casas de luxo em condomínios e passeiam com seus carros importados sabendo que haverá sim recursos para manter o jornal em funcionamento. Quem perde? E precisa mesmo responder?

Vivemos então na era em que a frase de Nelson Rodrigues perde o sentido, pois agora toda unanimidade é correta! Viva a unanimidade! A “praga” invade todo o cenário nacional e as fontes deixam de serem fontes e passam a agir como editores dos jornais. Alguém acompanhou as estreitas relações entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o chefe da sucursal da “consagrada” Veja em Brasília, Policarpo Júnior? Pois é, se as coisas lá em cima acontecem assim, imagina nos menores veículos, em que a dependência financeira é ainda maior...

É cada vez mais comum então que a unanimidade dos discursos seja o imperativo na imprensa, especialmente nos menores veículos. Movidos pelo interesse (ou melhor, pela extrema dependência) financeiro(a) daqueles que ocupam o poder, os jornais (impressos, emissoras de rádio e TV) passam a levantar bandeiras conjuntas e, estranhamente, tudo passa a ser mais “normal” do que antes. O que outrora era passível de críticas, passa a ser encarado com naturalidade, como “desafios” e “percalços” de quem manda (de fato!)  E o interesse público? Quem mesmo?