Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior,
MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e
Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo,
Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
A falta de transmissão das
Olimpíadas de Londres pela Rede Globo gera um fenômeno social: o esquecimento.
Isso porque, como a transmissão dos jogos será feita como emissora aberta exclusivamente
pela Rede Record, nunca o assunto foi tão “esquecido” pelos demais meios de
comunicação e, consequentemente, pela população brasileira. Com atletas de alto
nível, times que empolgam no futebol, vôlei, basquete, natação e judô, o Brasil
nunca esteve tão “desligado” do, talvez, mais importante torneio esportivo
mundial. E isso, como se buscará demonstrar nesse artigo, pode ser considerado
uma culpa exclusiva de quem manda, de fato, na opinião pública nacional: a
vênus platinada.
Não tenho dados científicos
para apontar, mas, no “chutômetro” sou capaz de apostar que cerca de 50% da
população nacional (ou mais) não faz a mínima ideia de que as Olimpíadas 2012
começam nesta semana. Isso revela o efeito que a omissão proposital do assunto pela
emissora fundada por Roberto Marinho é capaz de gerar no meio social. Se a
Globo não noticia, então não existe. E a lógica populacional, infelizmente,
segue muito esse falso pensamento.
Sem desmerecer a importância
dos jogos esportivos, o fato que mais causa estranhamento e preocupação com
esta reação popular é a constatação da hegemonia da emissora e sua capacidade
de realmente influenciar e até mesmo formar a opinião pública. Esse é o assunto
que merece debate. Se a Globo consegue “anular” um evento tão grandioso como as
Olimpíadas, ao simplesmente deixar de noticiar sobre o evento, o que mais ela
seria capaz de fazer em termos de manipulação social?
Por mais que profetas do
Apocalipse e teóricos do Twitter insistem em anunciar que quem faz o mundo
acontecer hoje são as mídias sociais e que, com isso, há maior liberdade de
expressão e informação, continuo a perceber o quanto as mídias tradicionais,
especialmente a TV (e mais ainda a Rede Globo), são quem, de fato, criam,
selecionam e excluem os assuntos a serem vivenciados e comentados pela
população. É uma constatação prática de duas das principais teorias do
Jornalismo, a “agenda setting” e a “espiral do silêncio”.
De forma bem concisa, o
principal aspecto destacado nessas duas teorias da Comunicação é que a mídia, ao priorizar determinados assuntos
a serem noticiados, em detrimento de outros, acaba “apagando” os demais temas
que não entram nos noticiários. Com isso, assuntos que são noticiados com
frequência e determinada intensidade no meio social acabam colocando no
esquecimento outros assuntos não veiculados, mesmo sendo de grande importância
para a sociedade. Outro efeito disso é que, por determinar os assuntos
de destaque no noticiário, a mídia acaba selecionando também os assuntos que a
população discute no seu dia-a-dia.
Talvez hoje tenhamos a
oportunidade de perceber claramente como isso acontece na prática. Exemplo?
Basta alguém se dar ao trabalho de contar a quantidade de tempo destinada pela
Globo para o noticiário olímpico e verificar, também, quanto tempo a mesma
emissora vem destinando (no noticiário) aos acontecimentos de sua novela
principal, “Avenida Brasil”, que, coincidentemente, está atingindo seu ápice na
revelação de mistérios três meses antes de seu final previsto e ao mesmo tempo
em que a Record começará a transmitir os jogos olímpicos. Então, compare o
tempo no noticiário destinado a cada um dos dois assuntos e veja em qualquer
roda de conversa qual tema predomina e chama, de fato, a atenção das pessoas. Mas
não, aqui não tem nada de teoria da conspiração.
Em tempos de discussão sobre
a liberdade de expressão, mídias sociais e perda de hegemonia dos meios de
comunicação tradicionais, a Rede Globo dá um tapa na cara de muitos “teóricos”
e prova que, mais que um 4º poder, a mídia pode muito bem tornar-se o primeiro
e ditar os passos da sociedade. Afinal, não convém duvidar da força de quem já
elegeu, elege, retirou e continua retirando do cargo presidentes, ministros,
senadores, deputados. Mas afinal, esse ano tem Olimpíadas mesmo?
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