Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior,
MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e
Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo,
Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
Confesso que admiro Pedro
Bial. Não a ponto de colocá-lo num altar e ficar admirando todas suas
produções, nem mesmo para me deixar incapaz de ser crítico em relação à sua
mais nova aventura: o programa Na Moral, que estreou na última semana. Os
jornalistas, jovens e experientes, geralmente admiram figuras como ele, devido
à sua incontestável bagagem profissional como correspondente internacional.
Dentre os destaques de sua carreira é impossível não lembrar a cobertura ao
vivo feita por ele da queda do Muro de Berlim, em 1989, num tempo em que a
internet ainda não existia para a grande massa. Ponto para o jornalista Bial.
No entanto, desde que a febre dos reality shows invadiu o Brasil, Pedro
tornou-se, talvez, uma das figuras mais conhecidas, queridas e admiradas em
todo o país. E não é para menos. Comandando o BBB, que em uma de suas edições
teve na final um número maior de votos do que os que elegeram recentes
presidentes da república, passou a ser figurinha fácil nas telas, nas capas de
revistas e na boca do povo. O jornalista, apresentador, cineasta, poeta e
cronista Pedro Bial virou simplesmente “Bial”. E a pseudointimidade que os reality shows gera nas pessoas, a cada
ano é reforçada por mais uma edição do programa que costuma deter os maiores
índices de audiência do país.
Não quero aqui discutir o
conteúdo destes programas (até porque já existem considerações e “teses” demais
acerca do tema). Mas é necessário citá-lo porque um dos fenômenos que elevaram Bial
ao posto de “intelectual das massas” diz respeito justamente à sua condução no
BBB. Os discursos de eliminação elaborados e lidos pelo apresentador chegam a
ser mais aguardados do que os próprios vencedores da atração. (Por falar nisso,
quem ganhou este ano mesmo?) Misturando filosofia de butequim com trechos copiados
destas correntes de email e, ainda, com pitadas de citações literárias ou
filosóficas, os famosos discursos do comandante da “nave mãe” encantam,
emocionam e prendem o telespectador até altas horas em frente à TV.
E se Bial é então o
“intelectual das massas” brasileiro, esperava-se um pouco mais de seu novo
programa, Na Moral, que estreou na última semana. As chamadas da atração
criaram expectativas positivas nos telespectadores. Com frases do tipo “sem
censura” e “falar a verdade”, foi criada uma “esperança” de que, enfim, a TV
Globo teria um programa jornalístico que trataria de temas polêmicos da forma
como merecem: com debate, dando espaço para os lados envolvidos se manifestarem
e sem a superficialidade tão comum nas atrações da emissora. No entanto, o que
ocorreu foi justamente o contrário disso.
O primeiro programa, ao
abordar o tema “politicamente (in)correto”, deixou muito a desejar,
especialmente pela superficialidade. Com uma edição mal feita, ficou claro que
as falas dos convidados e entrevistados foram cortadas bruscamente,
prejudicando os telespectadores que estavam mais a fim de entender sobre o tema
discutido do que em admirar os figurinos, os cenários e, principalmente, as gírias
forçadas empregadas pelo apresentador em sua fala. Parece que a ideia é boa.
Mas, fazendo um comparativo, a produção (apesar de um estilo totalmente
diferente) está muito longe da qualidade de outros como “A Liga”, da Band, e
“Profissão Repórter”, comandado pelo competente Caco Barcellos, na própria
vênus platinada.
Tudo isso, no entanto, leva
a uma discussão ainda maior, que deixaremos para a próxima coluna, devido à
questão de espaço: a superficialidade do jornalismo. Num tempo em que a
concisão impera e que é melhor quem consegue resumir tudo em 140 caracteres
(num processo que denomino “twitterização” do mundo), a prática jornalística
fica seriamente prejudicada. Neste cenário, é impossível (repito, impossível)
aprofundar num tema e fornecer ao leitor/ouvinte/telespectador as informações
necessárias para que ele possa, ao menos, compreender do que se trata.
Se a superficialidade é uma
característica ou um problema do meio (no caso, a TV), desejo vida longa aos
impressos e à internet. Isso mesmo, porque a internet, ao contrário do que
muitos pensam, não se resume às redes sociais e pode, como nenhum outro meio,
abrigar conteúdo convincente devido à possibilidade de expansão do fator
tempo/espaço. Agora, devemos nos preocupar é se o problema está na mensagem ou
no receptor ao invés do meio. Será que a superficialidade é o que o público
espera e deseja? Se sim, como se diz no Twitter: oremos!
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