segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Imprensa e eleições

Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica.Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
 
Começamos mais um processo eleitoral. É perceptível como os humores tornam-se exaltados nesse período, os justos tornam-se justíssimos e a imprensa, claro, sempre ela, tenta passar mais uma vez sua imagem de imparcialidade. E é aí que a coisa não funciona. Mesmo com todas as regras estabelecidas pela Justiça Eleitoral a fim de preservar a isenção dos meios de comunicação neste período, ao analisarmos friamente o cenário percebemos facilmente como a imprensa ainda consegue se manter parcial, defendendo seus interesses políticos e ideológico$$!

 A coisa começa logo que a última eleição é definida. Apurados os votos e determinado o vencedor, começam os conchavos e o estabelecimento de parcerias que vão durar pelos próximos quatro anos. Como é sabido por todos que, infelizmente, a maior parte dos recursos para a manutenção dos veículos ainda vêm dos cofres públicos, por meio da publicidade governamental, o público assiste então a quatro anos de notícias positivas e omissões impensáveis numa democracia. Mas é assim que rolam os dados.

Então, o cidadão (ou eleitor) fica por todo um mandato sendo alimentado por notícias que destacam o papel “brilhante” desempenhado por um governo e por seu governante – em qualquer esfera, executiva ou legislativa, seja nos âmbitos municipal, estadual ou federal. O que é negativo não aparece e as denúncias são adjetivadas como vazias ou infundadas. E aí a legislação estabelece regras determinando que os meios de comunicação, nos meses que antecedem o pleito, concedam o mesmo espaço editorial dado a um determinado candidato para os demais. É justo isso? E os três anos e tantos meses anteriores de privilégio? Esses não contam?

Outro fato questionável é a divisão do tempo entre os candidatos no horário eleitoral gratuito do rádio e TV. É óbvio que aquele postulante a um cargo eletivo que dispõe de mais tempo para apresentar suas propostas leva vantagem na disputa. E, apesar de saber que o tempo destinado a cada um é proporcional aos partidos de uma coligação e a sua respectiva representação no Congresso Nacional, não vejo nessa divisão uma forma justa equânime e certa. 

Longe de querer ser um legislador, até mesmo porque minha formação não permite, mas parece que tem algo errado aí, não? Falar em imparcialidade com vários interesses econômicos mediando a relação entre imprensa e governos é, no mínimo, falível. Diante disso, qual o papel do jornalista? Em primeiro lugar, acredito, é o de deixar claro para o público como as coisas funcionam.

Com o intuito de preservar a democracia e levar informações para que o público tenha autonomia em sua tomada de decisões, a imprensa pode, se quiser, contribuir de forma decisiva para a transparência do processo eleitoral. De início, seria importante mostrar à população como funcionam os cálculos do quociente eleitoral, qual o papel dos vereadores, do prefeito, entre outras coisas. Depois, explicar como os recursos chegam para as Prefeituras e as Câmaras Municipais, e mostrar como e com que eles são gastos. Isso já seria um grande avanço. Mas, infelizmente, acho que ainda fica no campo das utopias.

Diante disso, cabe ao cidadão-eleitor buscar o máximo de informações possível, preferencialmente em fontes diversas, a fim de formar sua opinião sobre os candidatos. A internet mostra-se uma grande aliada neste processo e tem dado resultados expressivos, especialmente entre os mais jovens. Mas com todos os seus problemas de inserção popular, ainda é fraca na formação da opinião pública se comparada às mídias tradicionais. Já que não costuma ajudar muito, tomara que a mídia pelo menos não prejudique esse processo democrático.

 

 
PS: O programa Observatório de Mídia da TV Pitágoras volta com novo formato neste final de semana, na TV Candidés. Apresentado por este jornalista, a primeira edição do 2º semestre recebe os professores Bernardo Rodrigues e Sérgio Gildin para debater o assunto Mídia e Parcialidade, além do papel da imprensa no período eleitoral. Confira no próximo domingo (02/09), às 13h, na TV Candidés

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