Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior,
MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e
Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo,
Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
O programa global que fecha
o domingo causa uma série de reações a toda população brasileira. Para alguns,
marca o encerramento do final de semana. Para outros, o momento de reunir a
família para, juntos, assistirem à última atração de domingo antes de se deitar
e acordar para mais uma semana de trabalho. Há ainda aqueles que afirmam
existir certa “síndrome do Fantástico”, que causa um mal-estar danado quando
começa por lembrar aos telespectadores que daqui a algumas horas a
segunda-feira está chegando. Indiferente da sensação que causa, o programa
marca, marcou ou vai marcar a vida de muitas pessoas ainda.
Fora a tradição de fechar o
domingo, o Fantástico já marcou de forma positiva a vida de muita gente com reportagens
interessantes, investigativas, e até mesmo com quadros de entretenimento que
tinham conteúdo de verdade. A situação hoje, no entanto, mostra um programa sem
identidade, que esta “atirando para todos os lados” em busca de audiência. E
isso, além de ferir a sua tradição, gera uma reflexão importante: o jornalismo
de verdade perdeu seu espaço nas noites de domingo?
Ao olhar para a
concorrência, percebe-se que o Fantástico mantém-se como a única opção capaz de
gerar algum conteúdo produtivo dentre as grandes emissoras de TV abertas nas
noites de domingo. No SBT, encontramos o divertido Sílvio Santos, que é legal
mas não tem conteúdo relevante; na Record, a “tentativa de ser igual ao
Fantástico” Domingo Espetacular, que vem abusando da parcialidade, e o
apelativo Marcelo Rezende com seu pouco informativo Repórter Record; na Band, o
Pânico cada vez mais lança mão de extremos para segurar a audiência e perde a
originalidade que o colocou como uma das opções para as famílias; e na Rede TV!
temos a versão abrasileirada (e piorada) do Saturday Night Live, seguido por um
filme e pelo inacreditável show de bizarrices Dr. Hollywood Brasil.
Apesar da fraca concorrência
em termos de conteúdo, percebe-se que a Globo, por mais incrível que pareça,
vem perdendo audiência a cada domingo. Aí alguém pergunta: mas como? Claro que
não possuo as respostas, mas sim algumas considerações para refletirmos sobre
isso. A primeira coisa a se constatar é que o programa está perdido, com falta
absoluta de identidade. Por mais que se proclame “O Show da Vida”, e sabemos
que a vida é realmente complexa, não consigo compreender como colocar dentro de
um mesmo programa assuntos tão afastados como a estréia de uma nova novela, uma
investigação sobre a corrupção nas altas esferas políticas, um raio-x da vida
de um sertanejo cinquentão que está solteiro e, pasmem, um quadro anunciado
como sério e como destaque investigando fantasmas em “casas mal assombradas”
brasileiras. É um mexido que não tem tempero, ou uma massa que não dá liga.
Creio que o jeito
“engraçadinho forçado” de apresentação, fruto de nomes como Tadeu Schmidt e
Tiago Leifert na vênus platinada, contaminou toda a equipe de produção e
roteiro que, assim, busca cada vez mais assuntos leves e sem interesse público
para estampar a grade do noticiário. Não que o jornalismo não possa levar
notícias leves e descontraídas ao público. Esse é inclusive um dos propósitos
do programa, pelo horário em que passa e pelo público que busca. Mas jogar fora
uma tradição de décadas de bom jornalismo e investigação em nome da guerra da audiência
não dá certo e, por vezes, parece que estamos assistindo a um Frankenstein: uma
mistura de “Mais Você” com “TV Fama” e umas pitadas de “Zorra Total”. É demais
para mim.
Mas nem tudo está perdido. O
Fantástico ainda possui um dos melhores repórteres investigativos do Brasil,
Eduardo Faustini, que sempre consegue apresentar uma boa reportagem sobre algum
tema de interesse público. Pena que ela fique perdida em meio a uma quantidade
absurda de assuntos sem sentido. Enquanto não resolver seus problemas de
identidade, o programa vai continuar “surfando” nas ondas do Ibope e perdendo
público. Afinal, sem qualidade, vai ser difícil segurar a audiência da geração
que está chegando, que tem uma facilidade incrível de desviar a atenção quando
algo não lhe agrada e uma rapidez particular para zapear entre os canais e
entre a TV e a internet. É uma pena. Já foi Fantástico. Agora parece que não é
mais.
PS: Merece registro a reportagem feita pelo repórter
divinopolitano Elton Novais e exibida no final do Fantástico do último domingo
(12/08), sobre a história de amor e superação entre pai e filho. A única nota
negativa no episódio foi a edição, que tirou os créditos e a imagem do repórter
e deixou toda a narração por conta do divertidíssimo (só que não!) Tadeu
Schmidt. De qualquer forma, parabéns ao Elton pela descoberta!
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