Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior,
MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e
Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo,
Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
Os resultados da Série A do
Campeonato Brasileiro de Futebol, na última semana, geraram uma situação
inusitada para a imprensa esportiva nacional. Pela primeira vez, em algum tempo,
os jornalistas, cronistas e comentaristas não têm destaques efusivos de
Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Flamengo ou Vasco para estampar na primeira
página (ou como destaque nas manchetes de rádio e TV). E este é o assunto que
quero discutir hoje neste espaço: as vitórias e a liderança de Atlético/MG e
Cruzeiro “valem menos” do que a dos clubes paulistas e cariocas?
A imparcialidade sempre foi,
é e será algo muito discutível no jornalismo e em qualquer ação humana. Por
mais que o conceito, junto com o da objetividade, seja o primeiro a ser
estudado pelos alunos do curso superior em Jornalismo, os próprios autores que
embasam as discussões sobre a prática têm a consciência de que tal recurso
chega a ser utópico. Não tem jeito e nem mesmo culpa a ser imputada a alguém. É
natural do ser humano ser afetado por questões emocionais. A tal “Inteligência
Emocional” é, de fato, muito difícil de ser posta em prática.
Logo, se vemos esta
impossibilidade de ser imparcial e objetivo em toda a prática jornalística, o
que dizer quando a discussão recai sobre uma das editorias mais lidas,
desejadas e que desperta paixões e discussões elevadas ao quadrado? De início
já se coloca aqui a dificuldade de se trabalhar na cobertura esportiva. O
primeiro ponto a se destacar é que, se o repórter faz a opção por seguir este
caminho, muito provavelmente o faz por uma questão de gosto. E, se o sujeito
tem uma “queda” pelos esportes, mais provável ainda que ele tenha suas opções
bem definidas em termos de equipes para torcer. Portanto, saber separar o
trabalho das escolhas pessoais, nesse caso, exige, antes de tudo, trabalho,
experiência e maturidade.
E é justamente neste ponto
que faço a minha crítica à imprensa nacional. Com uma tendência descarada de
privilegiar os times paulistas e cariocas nos destaques dos jornais e programas
esportivos, percebe-se claramente a falta de critérios impessoais para a
composição deste noticiário. Isso porque, mesmo com a impossibilidade de ser
100% imparcial e objetivo, vários autores que estudam e pesquisam a prática
jornalística abordam um conceito que deveria ser seguido pelos profissionais da
imprensa: a disciplina da verificação.
De forma bem resumida, em
conjunto com analogias aos valores-notícia ou critérios de noticiabilidade,
podemos entender a recomendação como o direito do leitor/ouvinte/telespectador
a ser informado, da forma mais completa possível, dos fatos mais importantes e
de uma forma clara, com direito ao contraditório. Assim, por mais que a
imparcialidade utópica seja inalcançável, ao ter os devidos cuidados na seleção
e apuração dos fatos “eleitos” para serem notícias, os repórteres e editores
estariam fazendo a coisa correta.
Sem poder destacar nas primeiras páginas (ou
nas manchetes dos programas esportivos) os clubes paulistas e cariocas, a
imprensa nacional calou-se, então. E aí cabe a pergunta: onde estão os cuidados
com a “imparcialidade” ou com a disciplina da verificação? Se os times mineiros
(ou gaúchos, que também ocupam as primeiras posições) lideram, simplesmente não
há notícias, ou melhor, não há destaque? Ninguém aqui é inocente a ponto de
achar que a preferência pelos destaques de Corinthians e Flamengo seja uma
escolha pessoal. Sabe-se, claramente, que ela acontece em nome da maior
audiência (por se tratar das duas maiores torcidas do Brasil), que gera mais
patrocinadores e, consequentemente, mais receita para os veículos de
comunicação.
Ok, a imparcialidade não
existe no jornalismo. Mas daí simplesmente fingir que não há destaques e
recusar a noticiar os feitos dos times mineiros é demais. Tomara que o futebol
apresentado por Atlético/MG e Cruzeiro se mantenha em alto nível, pois, aí, não
haverá como a imprensa nacional manter-se calada. Não que seja bairrismo. Mas,
afinal, contra fatos não há argumentos!
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