sábado, 25 de dezembro de 2010

Como ter boas festas com mais um caos aéreo?

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras - Divinópolis-MG


Chegamos a mais um final de ano e, ao invés de ocupar este nobre espaço para enaltecer as boas parcerias e desejar Boas Festas a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para o nosso crescimento pessoal e profissional, não posso furtar-me de abordar, nesta coluna “pré-Natal”, o caos aéreo que poderá estragar o descanso de milhares de brasileiros após um 2010 extremamente intenso. Uma situação que envolve diversas esferas do governo, entidades sindicais, a iniciativa privada e uma situação anunciada há muitos meses, que, ao que tudo indica, encontra uma justificativa estapafúrdia em um movimento grevista aparentemente “orquestrado” para camuflar uma falta de estrutura que é latente em nosso país. E a mídia não pode deixar de apontar esta carência estrutural para que governo e iniciativa privada busquem, em curto prazo, soluções para que o Brasil possa almejar posições melhores no ranking mundial de desenvolvimento.

Esta semana, a revista Veja, em sua edição online, estampou um FAQ (perguntas e respostas) sobre a estrutura aeroviária brasileira, que será amplamente discutida nestes 4 anos que antecedem a Copa do Mundo de 2014. Apesar da tentativa de propor algumas respostas aos seus leitores, o foco realmente está nessas 10 perguntas que nem os maiores especialistas em transporte aéreo do mundo conseguem nos responder em curto prazo. Vamos a elas: 1. Quando começou a crise no setor aéreo do país? 2. Quais são as causas caos aéreo em que o país mergulhou? 3. Quem administra o transporte aéreo no país? 4. Como funciona o sistema de controle de tráfego aéreo no Brasil? 5. Os equipamentos utilizados no controle do tráfego aéreo no Brasil são confiáveis? 6. Qual é o papel dos controladores de vôo no atual caos da aviação civil? 7. A desmilitarização do controle de tráfego aéreo seria a solução para os problemas dos operadores? 8. Faltam recursos para administrar o setor de transporte aéreo? 9. As companhias aéreas também têm culpa pela crise aérea? 10. Como solucionar o caos aéreo?

Está mais do que evidente que o caos e a incerteza que dominam o setor são resultado de uma série de problemas interligados. Atualmente, os recursos da área são extremamente mal administrados; os aeroportos não têm estrutura para atender a atual demanda; as novas companhias investem em baixo custo para oferecerem baixas tarifas, piorando seus serviços; faltam controladores de tráfego aéreo, e os que estão aí não têm boas condições de trabalho; as comunicações por rádio falham. Como afirma a própria revista Veja, basta que um desses elos da corrente não funcione para que todos os outros sejam comprometidos. Como estão todos na iminência de falhar, a vulnerabilidade do sistema - que há muito ultrapassou o seu limite - é enorme. E quem paga a conta, como sempre, é o usuário.

Infelizmente, ao que nos transparece, não existem soluções prontas. A imprensa nacional precisa ir além da notícia, buscando entender todas as nuances, causas e possíveis consequências deste momento. Abordar apenas a greve como causa e consequência da atual crise é uma forma muito cômoda de externar um assunto tão importante. Ainda mais que parte da crise tem contornos globais. Todos sabemos que existe uma crise aeroportuária também na Europa e nos Estados Unidos. A grande diferença é que, na terra do Tio Sam, todos abraçaram a privatização como a solução mais coerente. Além disso, as autoridades americanas estão permitindo que grandes empresas, como a American Airlines, tenham seus próprios terminais. Resta saber quando este amadurecimento chegará às autoridades brasileiras. Se é que um dia chegará...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mídia, responsabilidade social e democracia (RETROSPECTIVA 2010)

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras - Divinópolis-MG


Começamos o ano com uma enorme tragédia no litoral fluminense. Sonhos interrompidos pela dor, famílias destroçadas pela perda de filhos e entes queridos. Os deslizamentos de encostas no Centro de Angra dos Reis e na enseada de Bananal, na Ilha Grande, provocaram a morte de dezenas de pessoas e deixaram rastros de destruição. No lugar das comemorações do Réveillon, amigos e sobreviventes reuniram forças para tentar reconhecer corpos e enterrar familiares. Uma dor sem limites. A imprensa brasileira cobriu, ao vivo, essa tragédia que chocou o País.

Poucos dias depois, ainda em janeiro, um grave terremoto assolou o país mais pobre das Américas, o Haiti. Pelo menos 200 mil mortos (21 brasileiros) e 300 mil feridos. Além disso, mais de um milhão de pessoas desabrigadas. A cobertura midiática foi responsável por angariar doações que partiram de todos os cantos do mundo. Ainda hoje, quase um ano após a catástrofe, Porto Príncipe permanece “sobrevivendo” em meio ao caos econômico e social.

Em março, um espetáculo midiático marcou a condenação do casal Nardoni. Após cinco dias de júri, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram condenados pela morte da menina Isabella, por homicídio triplamente qualificado, por terem cometido o crime de forma cruel, com recurso que impediu a defesa da vítima e contra menor de 14 anos. Uma cobertura midiática intensa, ao vivo, estilo “reality show”. Alvo de inúmeras críticas, a cobertura e a assessoria de imprensa prestada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo recebeu um importante prêmio “Relacionamento com a Mídia”, conquistado no VI Congresso Brasileiro dos Assessores de Comunicação da Justiça e VIII Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça (Conbrascom 2010). Uma prova de que a verdade e o relacionamento aberto com a imprensa é a melhor prestação de contas que pode existir em uma sociedade democrática.

Durante a Copa do Mundo, em junho, nossos “guerreiros” sucumbiram a fama e a pose de melhor futebol do mundo diante da eficiência e obediência tática dos holandeses, que só não foram campeões porque deram azar de terem uma excelente geração de craques no mesmo período em que a Espanha apresentou ao mundo uma constelação comandada por Xavi e Iniesta. Nem os gritos insuportáveis de Galvão Bueno, disfarçado de seu nacionalismo que não convence mais aos brasileiros, foi suficiente para o sucesso do Brasil. Sobraram vuvuzelas, criaram a famigerada Jabulâni, que ganhou contornos “sinistros” na voz do imortal Cid Moreira! Entretanto, as coberturas jornalísticas foram de fundamental importância e contribuíram, de fato, para uma democratização de informações. Sobretudo, em relação ao país-sede e até então pouco conhecido pelos brasileiros. Apesar de alguns ainda acharem que a África do Sul fica “logo ali”...

Por fim, tivemos as eleições mais disputadas dos últimos 20 anos. Dilma e Serra disputaram, voto a voto, a preferencia do eleitor. Entre dossiês, pequenos atentados a base de papel embolado e poucas propostas para o País, a petista assume, em janeiro, o cargo político mais importante do país. Neste caso, fica nítido um avanço em termos de mídia em nosso país: cada vez mais, a mídia brasileira se aproxima do modelo norte-americano, onde cada órgão de imprensa tem o direito (e o dever) de se posicionar publicamente, antes das eleições, em relação a sua preferência política. Posto isto e ratificado em nosso país, evitará que revistas de grande circulação nacional ou importantes jornais, que se vendem como completamente independentes, vendam suas páginas principais para “ideologias político-financeiras” e nos repassem publicidade em forma de informações veladas. Será, com certeza, o avanço mais significativo da democracia em nosso país!
Fim de ano. É o momento para se refletir sobre tudo que aconteceu nos últimos 12 meses e que teve repercussão (negativa ou positiva) na mídia nacional e mundial. Muitos deles, com certeza, permanecerão na memória de muitos e, alguns, permearão páginas de livros de História em um futuro não muito distante. Fato é que 2010 foi um ano extremamente midiático o que, para jornalistas e publicitários, torna-se um prato cheio.