Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior,
MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e
Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo,
Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
A maioria das promessas não
cumpridas nasce em 31 de dezembro. Ano após ano, milhares (ou milhões, ou
bilhões) de pessoas em todo o mundo prometem, no Reveillon, fazer algo que lhes
é difícil, que geralmente consiste em sacrifícios pessoais e, muitas vezes, vão
lhe fazer bem. A lista de desejos é grande: emagrecer, parar de fumar, começar
uma atividade física regular, trabalhar menos, ler mais... O que acontece, no
entanto, é que a pressão e a velocidade da contemporaneidade nos levam a
esquecer o compromisso firmado conosco e abandonar a “promessa” em menos de 24
horas.
Ok, esta não é uma coluna de
auto-ajuda nem mesmo de debate acerca dos males psicossociais (apesar da mídia
ajudar bastante neste quesito). Mas vale lembrar que começa extra-oficialmente,
amanhã, o segundo semestre. Pelo menos é assim na maioria dos calendários
letivos e em diversos setores da economia. E a reflexão do início deste artigo
vem lembrar justamente isso: não cumpriu a promessa em janeiro? Que tal fazer
agora em agosto? Além de tirar a “zica” que ronda o cumprimento das tarefas no
início do ano, hoje já é terça-feira, afastando o elevado índice que ronda as
segundas-feiras, dia mundial do início frustrado de regimes e afins.
A falta de tempo, reclamação
número um na lista das desculpas, realmente é um sério problema a ser superado.
Em conversas diárias, é fácil perceber o quanto este “mal” afeta praticamente
todos os seres humanos. É o dilema da ultra tecnologia: constroem-se carros
mais rápidos, mas as ruas e estradas não suportam o tráfego. Cria-se uma
solução para a conectividade entre as pessoas distantes fisicamente, mas
aumenta-se o número de tarefas a serem cumpridas. Facilita-se imensamente a
produção de conteúdo intelectual, pela possibilidade de criarmos blogs
gratuitos e pelo baixo custo de impressão, mas as pessoas não têm tempo para
desenvolver sua criatividade.
O sociólogo italiano
Domenico de Masi, em “O Ócio Criativo”, já alerta para a necessidade (isso
mesmo, necessidade) do ser humano, especialmente aquele que desenvolve
atividades intelectuais, de ter períodos ociosos para “recarregar as baterias”
e, assim, continuar produtivo. Nessa obra, o autor revela uma total
insatisfação e questiona o atual modelo social centrado na idolatria do
trabalho, que faz com que as pessoas tornem-se, muitas vezes sem escolha,
escravas do ofício. Se levarmos em consideração ainda o alto índice de sujeitos
que trabalham insatisfeitos com aquilo que fazem, percebe-se facilmente um dos
motivos para o aumento excessivo na venda de ansiolíticos e demais medicamentos
que prometem a tão buscada “felicidade em cápsulas”.
Hoje me sinto extremamente
realizado com a profissão que exerço. Como professor e pesquisador, consigo
dosar minha rotina entre o trabalho, os estudos, as atividades lúdicas e ainda
ter um pouco de tempo livre. Mas tomar esta decisão não foi fácil e muito menos
resultado de uma “promessa” de Reveillon, principalmente por todas as
dificuldades inerentes à profissão. Mas que bom que, quando preciso, fui firme
o suficiente no meu propósito. Consigo ter imenso prazer no meu ofício e ainda
tenho a possibilidade de estudar cada vez mais, mesmo sabendo que quanto mais o
faço mais fica clara a minha pequenez no mundo. Afinal, já é sabido que quanto
mais se aprende, mais se percebe o tamanho de nossa ignorância.
Outro grande autor, Rubem
Alves, versa sobre a necessidade da busca pelo prazer nas atividades
cotidianas, em “Variações sobre o prazer: Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e
Babette”. Segundo o pedagogo, o prazer não deve ser encarado como um
imperativo, “Como se o mundo fosse um imenso jardim cheio de árvores com frutos
doces e coloridos, com placas em todas elas dizendo: ‘Proibido’”.
Portanto, com o início do
segundo semestre letivo, que tal mudar aquilo que não satisfaz, que não dá
prazer? Quem sabe tornar o inimigo tempo em um aliado para fazer o que se
gosta? O lazer, a arte, a leitura, a música, os amigos e tudo o mais que nos
faz bem são remédios para a alma, mais forte do que qualquer genérico de tarja
preta que vendem por aí. Não custa tentar!
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