terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tem algo a fazer? Acorde! O segundo semestre começa hoje

 Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.





A maioria das promessas não cumpridas nasce em 31 de dezembro. Ano após ano, milhares (ou milhões, ou bilhões) de pessoas em todo o mundo prometem, no Reveillon, fazer algo que lhes é difícil, que geralmente consiste em sacrifícios pessoais e, muitas vezes, vão lhe fazer bem. A lista de desejos é grande: emagrecer, parar de fumar, começar uma atividade física regular, trabalhar menos, ler mais... O que acontece, no entanto, é que a pressão e a velocidade da contemporaneidade nos levam a esquecer o compromisso firmado conosco e abandonar a “promessa” em menos de 24 horas.

Ok, esta não é uma coluna de auto-ajuda nem mesmo de debate acerca dos males psicossociais (apesar da mídia ajudar bastante neste quesito). Mas vale lembrar que começa extra-oficialmente, amanhã, o segundo semestre. Pelo menos é assim na maioria dos calendários letivos e em diversos setores da economia. E a reflexão do início deste artigo vem lembrar justamente isso: não cumpriu a promessa em janeiro? Que tal fazer agora em agosto? Além de tirar a “zica” que ronda o cumprimento das tarefas no início do ano, hoje já é terça-feira, afastando o elevado índice que ronda as segundas-feiras, dia mundial do início frustrado de regimes e afins.

A falta de tempo, reclamação número um na lista das desculpas, realmente é um sério problema a ser superado. Em conversas diárias, é fácil perceber o quanto este “mal” afeta praticamente todos os seres humanos. É o dilema da ultra tecnologia: constroem-se carros mais rápidos, mas as ruas e estradas não suportam o tráfego. Cria-se uma solução para a conectividade entre as pessoas distantes fisicamente, mas aumenta-se o número de tarefas a serem cumpridas. Facilita-se imensamente a produção de conteúdo intelectual, pela possibilidade de criarmos blogs gratuitos e pelo baixo custo de impressão, mas as pessoas não têm tempo para desenvolver sua criatividade.  

O sociólogo italiano Domenico de Masi, em “O Ócio Criativo”, já alerta para a necessidade (isso mesmo, necessidade) do ser humano, especialmente aquele que desenvolve atividades intelectuais, de ter períodos ociosos para “recarregar as baterias” e, assim, continuar produtivo. Nessa obra, o autor revela uma total insatisfação e questiona o atual modelo social centrado na idolatria do trabalho, que faz com que as pessoas tornem-se, muitas vezes sem escolha, escravas do ofício. Se levarmos em consideração ainda o alto índice de sujeitos que trabalham insatisfeitos com aquilo que fazem, percebe-se facilmente um dos motivos para o aumento excessivo na venda de ansiolíticos e demais medicamentos que prometem a tão buscada “felicidade em cápsulas”.

Hoje me sinto extremamente realizado com a profissão que exerço. Como professor e pesquisador, consigo dosar minha rotina entre o trabalho, os estudos, as atividades lúdicas e ainda ter um pouco de tempo livre. Mas tomar esta decisão não foi fácil e muito menos resultado de uma “promessa” de Reveillon, principalmente por todas as dificuldades inerentes à profissão. Mas que bom que, quando preciso, fui firme o suficiente no meu propósito. Consigo ter imenso prazer no meu ofício e ainda tenho a possibilidade de estudar cada vez mais, mesmo sabendo que quanto mais o faço mais fica clara a minha pequenez no mundo. Afinal, já é sabido que quanto mais se aprende, mais se percebe o tamanho de nossa ignorância.

Outro grande autor, Rubem Alves, versa sobre a necessidade da busca pelo prazer nas atividades cotidianas, em “Variações sobre o prazer: Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e Babette”. Segundo o pedagogo, o prazer não deve ser encarado como um imperativo, “Como se o mundo fosse um imenso jardim cheio de árvores com frutos doces e coloridos, com placas em todas elas dizendo: ‘Proibido’”.

Portanto, com o início do segundo semestre letivo, que tal mudar aquilo que não satisfaz, que não dá prazer? Quem sabe tornar o inimigo tempo em um aliado para fazer o que se gosta? O lazer, a arte, a leitura, a música, os amigos e tudo o mais que nos faz bem são remédios para a alma, mais forte do que qualquer genérico de tarja preta que vendem por aí. Não custa tentar!

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