Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do
Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação,
Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos
de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
O
grande dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues foi extremamente feliz quando
disse que “toda unanimidade é burra”. Tido como gênio e revolucionário por uns,
e como louco e tarado por outros, o escritor sentenciou, como poucos, a
importância de haver a contraprova, o questionamento, a dúvida. Para a
imprensa, então, a frase deveria figurar numa lista de 10 mandamentos sagrados,
no sentido de intocável mesmo. No entanto, infelizmente o que vemos na prática
é que o benefício do contraditório passa longe das redações, na maioria dos
casos.
Se
vivemos em uma democracia em que o cidadão elege seus representantes por meio
do voto direto, é de se esperar que estas pessoas representem, de fato, os
anseios, vontades e necessidades da população. Porém, não é novidade para
ninguém que este papel está longe de ser assumido por quem ganha para isso.
Resta então a esperança no poder Judiciário. Este, por sua vez, padece da
“burrocracia”, da lentidão e de seu linguajar técnico que o afasta das pessoas
mais simples e, por consequência (ou por propósito), mantém-se quase sempre
inacessível ou intocável.
Com
as instâncias públicas “comprometidas”, coube à imprensa o dever e o papel de
denunciar, investigar e, em certos casos, até mesmo punir as pessoas que agem
contra os princípios da legalidade, moralidade e zelo com a coisa pública. Ao
fazer uma análise do cenário político atual, percebe-se facilmente que nunca a
imprensa teve a oportunidade de ser tão eficiente neste propósito, uma vez que
não vivemos mais sob Censura (pelo menos legalmente) e, em tese, todos os
órgãos de comunicação são livres para investigarem e publicarem o que bem
entender.
Mas
infelizmente não é isso o que vem acontecendo. Pelo contrário, é fácil perceber
uma mordaça cada vez mais forte que cala a imprensa. A tática é que agora é
outra: ao invés da Censura existir via Ato Institucional, ela ocorre pela
questão financeira. É sabido por todos (ou ao menos deveria ser) que a
imprensa, como toda e qualquer outra organização privada em um mercado
capitalista, é movida por interesses mercantis. E, historicamente, há duas
formas de se obter sucesso financeiro neste mercado de notícias: a primeira,
publicando reportagens de interesse público, gerando, consequentemente,
credibilidade e aumento nas vendas em bancas e assinaturas; e a segunda,
dependendo financeiramente de anúncios publicitários (especialmente vindos do
setor público) para manter a circulação em dia.
Não
é preciso ser economista para entender que a segunda forma é mais fácil, mais
lucrativa e corre-se menos risco. E como vivemos em uma época em que o que vale
é a “lei do menor esforço”, a grande, quer dizer, a esmagadora maioria dos
veículos de comunicação optou por lucrar desta forma. Quem ganha com isso? Os
seus proprietários, que dormem tranqüilos (?!) em suas casas de luxo em
condomínios e passeiam com seus carros importados sabendo que haverá sim
recursos para manter o jornal em funcionamento. Quem perde? E precisa mesmo
responder?
Vivemos
então na era em que a frase de Nelson Rodrigues perde o sentido, pois agora
toda unanimidade é correta! Viva a unanimidade! A “praga” invade todo o cenário
nacional e as fontes deixam de serem fontes e passam a agir como editores dos
jornais. Alguém acompanhou as estreitas relações entre o bicheiro Carlinhos
Cachoeira e o chefe da sucursal da “consagrada” Veja em Brasília, Policarpo
Júnior? Pois é, se as coisas lá em cima acontecem assim, imagina nos menores
veículos, em que a dependência financeira é ainda maior...
É
cada vez mais comum então que a unanimidade dos discursos seja o imperativo na
imprensa, especialmente nos menores veículos. Movidos pelo interesse (ou
melhor, pela extrema dependência) financeiro(a) daqueles que ocupam o poder, os
jornais (impressos, emissoras de rádio e TV) passam a levantar bandeiras
conjuntas e, estranhamente, tudo passa a ser mais “normal” do que antes. O que
outrora era passível de críticas, passa a ser encarado com naturalidade, como
“desafios” e “percalços” de quem manda (de fato!) E o interesse público? Quem mesmo?
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