terça-feira, 27 de março de 2012

O idioma nosso de cada dia

 Bernardo Rodrigues
Jornalista, Especialista em Filosofia, Mestre em Teoria da Literatura. Membro do grupo de pesquisa Intermídia, vinculado ao CNPq, com pesquisa sobre Semiótica e as relações entre literatura e outras artes.  Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Engenharias.



A dublagem de filmes estrangeiros exibidos na TV aberta e fechada está na pauta da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, e tem motivado uma série de críticas.
Um dos projetos que gerou mais polêmica é de autoria do deputado João Rodrigues (DEM de Santa Catarina), que defende que todo filme exibido seja dublado. No caso da TV por assinatura, 70% dos filmes devem ser dublados para o português. O deputado sugere ainda que, no caso da tecnologia SAP (Second Audio Program), em que o espectador pode escolher entre o áudio no idioma original ou dublado, a primeira opção seja sempre em português.
A preocupação do parlamentar é a de garantir que a população tenha pleno entendimento dos conteúdos da televisão. Ele afirma que a dificuldade do espectador em acompanhar as legendas prejudica a compreensão dos filmes: “acreditamos que a simples legendagem dos filmes não é suficiente, já que exclui um grande número de brasileiros que, seja por razões educacionais, seja por limitações visuais, não são capazes de compreender plenamente os conteúdos transmitidos nessas legendas. Além disso, a legendagem agrega pouco trabalho criativo nacional às obras estrangeiras, limitando assim a expansão da indústria criativa nacional”.
A proposta tem sido amplamente criticada na internet, com diversos argumentos. Alguns acham que, se o problema é a educação, que melhorem a educação, outros reclamam da qualidade das dublagens, outros argumentam que a dublagem ofusca a originalidade da interpretação dos atores no filme.
Entretanto, uma grande parte da população brasileira tem, sim, dificuldade para acompanhar as legendas. É fundamental que se melhore a educação no país, mas como ficam aqueles que não conseguem hoje acompanhar as legendas num filme? Até porque, da mesma forma como a dublagem nos impede de ouvir a intenção original do som no filme – as expressões, as intenções da fala, o sentimento etc. –, a legenda também exige que fixemos o olhar na parte baixa da tela, deixando passar muita coisa no entorno, podendo também prejudicar a percepção do filme, cuja linguagem é audiovisual. Inevitavelmente um brasileiro que só fale português perderá muito de um filme estrangeiro, seja ele dublado ou legendado.
Apesar das críticas, o projeto cumpre, sim, um papel de inclusão. Quem prefere o filme no idioma original pode apelar para a tecla SAP, ou correr para a locadora de vídeo. Afinal, o português ainda é o idioma nosso de cada dia.

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