terça-feira, 27 de março de 2012

Se no for ao vivo, morre!


Laura Aguiar
Jornalista, Especialista em Ensino de Português, MBA em Gestão da Comunicação Integrada.
Professora da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda.




A vida como ela é já é uma arma pela disputa de audiência nas emissoras de rádio e TV. E a cada semana surgem programas, emissoras e iniciativas que reforçam essa constatação, como recentemente fez o SBT e a TV Alterosa incluindo em sua grade programas matutinos com conteúdo ao vivo. As justificativas vão desde o interesse mercadológico que perpassam pela audiência e, na minha leitura, um reflexo do novo comportamento do telespectador.
Os programas ao vivo, transmitidos ao mesmo tempo em que os fatos ocorrem, com narrativa simultânea dos acontecimentos, já nasceram com o rádio pelas suas capacidades técnicas que facilitam esse tipo de transmissão. E elas têm recebido inovações com as emissoras “all news” que ficam a todo o momento informando, contando histórias que estão se desenrolando no ritmo da vida das pessoas. No rádio dá para saber sobre a greve dos ônibus assim que ela começa e, com data, hora e minutos, sobre o trânsito, o acidente, a fila para entrar no show e as promoções de ultima hora do comércio. Mas isso era no rádio.
Na TV, inaugurada ao vivo, com toda a programação feita como se fosse um grande teatro, entregue à sorte dos improvisos, na marra, as coisas mudaram radicalmente desde a chegada do vídeo tape. O aparelho, gigantesco nos primórdios, hoje está inclusive nas máquinas caseiras e portáteis. A gravação revolucionou a produção televisiva e as entradas ao vivo foram perdendo status pela sua complexidade, e principalmente em nome da perfeição.
Entretanto, vislumbra-se uma nova revolução: a volta do ‘ao vivo’ nas emissoras de TV. Soa estranho dizer dessa volta em um veículo que tem tudo para ser a casa das transmissões simultâneas. Não era isso que ocorria. Hoje as iniciativas são muitas, como os telejornais que fazem edições especiais direto do local dos fatos, como na posse do Papa em que o Jornal Nacional montou um estúdio de frente para o Vaticano. No Jornal do SBT, repetido várias vezes na madrugada, as entradas ao vivo foram inseridas nas últimas repetições para dar um ar de novidade, de urgência, de novo, que, aliás, é uma das características do jornalismo.
E a disputa caminha para as emissoras menores. Aqui no nosso quintal vemos as emissoras locais imprimindo esse caráter de urgente, acompanhando o fato quando ele ocorre com os boletins durante a programação. Se tomarmos como base Minas Gerais também notaremos os investimentos nessa linha editorial. Como a TV Alterosa, exibindo o ‘Alterosa Alerta’ pela manhã, mostrando trânsito, manifestações, eventos, tudo ao vivo, ao mesmo tempo, com uma narração nervosa, cheia de improvisos, bem próxima da realidade.
Os motivos mercadológicos são óbvios. Não se pode ignorar a concorrência que usa constantemente o recurso do ao vivo. Ao usar essa forma de noticiar as emissoras mostram um perfil de atualidade, de competência em noticiar a vida como ela é. Na briga por verbas publicitárias, esse pode ser um diferencial importante.
Na minha análise, o principal motivo para as inovações, nem tão novas assim, tem a ver com uma questão de mudança de comportamento. E nós reproduzimos o que vigora na sociedade. Somos profissionais da vida, da realidade e muitos teóricos já trataram disso de forma científica. As produções midiáticas de um povo têm forte relação com sua formação cultural e a cultura de um povo é formada pelos comportamentos diários.
Nos nossos dias, com a modernidade e urbanização, a vida ficou mais premente e, portanto, as pessoas buscam atender suas necessidades de informação, papel cumprido pelos veículos de comunicação, também de forma urgente. Nas emissoras, programas que fogem desse formato tendem a perder audiência e, portanto, viabilidade econômica. Os novos formatos são uma resposta dos veículos de comunicação ao novo padrão social, impresso inclusive nos nomes dos programas e quadros: alerta, no ar, ao vivo, radar, em cima da hora. Além disso, com a chegada da internet, mais precisamente das redes sociais, as informações urgentes estão cada vez mais acessíveis. E com essa concorrência online, as emissoras são obrigadas a se adequar, mostrando o mais quente, o mais marcante, a vida como ela é.

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