Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior,
MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e
Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo,
Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
Algumas pessoas contestam o
sucesso de jornais como o “Super Notícia”, o “Aqui” e de programas televisivos
que apelam para o sensacionalismo como maior arma para segurar a audiência. Por
mais absurdo que pareça, alguns autores estudiosos da prática jornalística
afirmam que isso é culpa (?!) dos próprios jornalistas e dos outros veículos.
Com certo elitismo em suas páginas e o privilégio a assuntos que, infelizmente,
não são o supra-sumo do gosto popular, os meios tradicionais vêm perdendo a
disputa pela audiência com os popularescos que, se já experimentaram o sucesso
no Brasil na década de 1980, ressurgiram nos anos 2000 com força absoluta.
Utilizando como atrativos
manchetes com letras garrafais, cores fortes, sensacionalismo elevado ao cubo, abusando
das fotos e, principalmente, privilegiando temas relacionados às editorias de
Polícia, Esporte e Entretenimento (por favor, não vamos confundir fofoca com
Cultura), os novos jornais populares dão um show como negócio nas mídias
tradicionais. Não que seu conteúdo seja excelente. Mas é inegável que o sucesso
financeiro destas publicações, especialmente pelos anúncios publicitários e
tiragem elevada, alcança patamares sonhados pelos jornais tradicionais. E
grande sacada para este sucesso é muito simples: fazer o que o “povo” quer, do
jeito que o “povo” quer.
E satisfazer esse desejo do
povo se resume, nesses casos, a cinco elementos principais: trazer os assuntos
sobre os quais se quer ler; escrever as reportagens com palavras próximas à
realidade do público, tornando os textos legíveis e compreensíveis; adotar um
formato gráfico que torne a leitura e o transporte mais fáceis; ter um preço
realmente acessível a toda a população; e, como não poderia deixar de ser, dar
a sensação ao leitor de que ele está lendo, fomentando seu senso crítico e
elevá-lo a um antigo patamar de que somente os mais cultos liam jornais.
Para analisar o sucesso da
receita acima, vamos analisar cada um dos ingredientes. O primeiro diz respeito
aos assuntos tratados por estes jornais. Infelizmente, sabe-se que a grande
massa da população, por mais que se diz interessada em temas mais importantes
em época de pesquisas eleitorais, está pouco disposta em ler sobre assuntos
mais “complexos” ou “difíceis” como política ou economia. Por isso, pensar em
um jornal que ofereça as matérias de gosto popular como Esporte, Polícia e
Entretenimento (fofoca de celebridades) é garantia de agradar o público, por
mais que isso não traga informações dignas de mudar a vida de ninguém.
O segundo ingrediente é,
para mim, o principal responsável pelo sucesso estrondoso: o uso da linguagem
popular. Por mais que todos (repito, todos) os manuais de redação e livros que
tratam de redação jornalística sempre trazerem recomendações para o uso de
palavras simples no texto das reportagens, a prática cotidiana nos mostra que
os repórteres, redatores e editores insistem em utilizar expressões
complicadas, especialmente em editorias menos populares. Isso, talvez, para
erroneamente tentar mostrar certo nível de erudição, que não é papel do jornal.
Para isso existe a literatura e outras obras mais livres, onde se pode usar e
abusar de expressões rebuscadas.
O jornalismo não é lugar
para mostrar vocabulário estranho à população. Deve-se, sim, mostrar riqueza de
vocabulário sabendo “traduzir” expressões técnicas para o entendimento do
leitor e, também, conhecer o significado das palavras e usá-las de acordo com
seu real significado. Costumo sempre afirmar que o jornalismo não vende notícia
nem informação. O jornalismo vende entendimento. É isso, simples assim. O
leitor médio brasileiro, que por problemas sociais não teve acesso a uma
educação de qualidade, não tem a mínima ideia do que seja uma MP, uma taxa
Selic ou um spread bancário, expressões que são usadas diariamente pela nossa
imprensa. Logo, ao privilegiar uma falsa erudição, os jornais tradicionais
continuam perdendo audiência para os populares. Se a ficha demorar muito a
cair, pode ser tarde demais.
No artigo da próxima semana
daremos continuidade a essa discussão, uma vez que o tema é relevante e merece
uma reflexão mais profunda. Além de finalizar essa análise sobre a linguagem,
falaremos também sobre os outros três ingredientes da receita “milagrosa”:
formato gráfico, preço acessível e sensação de leitura feita. Até lá.
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