Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
Em continuidade ao artigo da
última semana, continuamos a análise dos motivos que levam jornais populares
como o “Super Notícia” e o “Aqui” a ser sucesso de público, apesar do
questionamento de vários intelectuais. Na primeira parte falamos sobre dois dos
ingredientes da receita de sucesso: os temas que os leitores querem ler e o uso
de palavras inteligíveis pelo público. Hoje falaremos dos outros três
ingredientes responsáveis pela grande audiência dos populares: o formato
gráfico, o preço acessível e a sensação de leitura feita.
A adoção do formato
tablóide, assim como os jornais ingleses, agradou em cheio ao leitor. Por ser
menor do que o seu primo mais tradicional, de formato standard, a medida é
ideal para aquele leitor que quer levar consigo o jornal debaixo do braço,
dentro de uma pasta ou caderno, o que era impossível (e continua sendo) no
formato maior. E, além disso, em tempos de mobilidade e tablets, as pessoas
querem praticidade para a leitura. Logo, um formato que torne mais fácil o
transporte e a leitura das páginas tem tudo para agradar ao leitor.
A “descoberta” faz tanto
sentido que é comum perceber cada vez mais pessoas fazendo suas leituras
enquanto usam o transporte coletivo, em ônibus ou no metrô. É que o formato
tablóide favorece este tipo de leitura ao oferecer condições para que o jornal
possa ser aberto e lido sem incomodar o vizinho. Por isso, dos três maiores
jornais de Minas Gerais, dois já passaram por mudanças gráficas e adotaram o
formato tablóide, preferido pelo público: “O Tempo” e “Hoje em Dia”. O “Estado
de Minas” ainda insiste no formato standard, apesar do grupo que o detém
(Diários Associados) possuir outro título já adaptado ao gosto do leitor
popular, o “Aqui”. De qualquer forma, mantendo o formato maior por uma questão
de tradição, o “jornal dos mineiros” corre o risco de tornar-se cada vez mais
elitizado e, em longo prazo, ser esquecido pelos leitores.
O quarto ingrediente da
receita de sucesso é o preço acessível. Ora, para um público que tem oferta de
informação “gratuita” o tempo todo em meios como a TV, o rádio e a internet,
qual o sentido de jornais cobrarem preços fora da realidade do brasileiro? A
conta é simples: se um trabalhador recebe um salário mínimo por mês, atualmente
R$ 625,00, faz sentido um jornal custar R$ 4,00 a edição? Como temos em média
30 dias por mês, esse mesmo trabalhador gastaria R$ 120,00, cerca de 20% de seu
salário, para manter-se informado. E as outras obrigações como moradia,
alimentação, transporte, saúde, lazer?
Se vivêssemos em um país
onde o trabalhador não tivesse as preocupações financeiras acima e um salário
compatível com a realidade social, não acredito que este valor cobrado pelos
jornais fosse tão absurdo assim. Mas, infelizmente, a realidade é outra. Sem
querer desmerecer a qualidade das produções e nem dizer que os jornais não
valham isso, não dá para conseguir um grande número de leitores cobrando preços
fora do acessível. Então os populares, percebendo isso, passaram a conseguir
sua receita à base de anunciantes de peso (o que também não é o ideal, por
comprometer a imparcialidade) e a venderem seus jornais por R$ 0,25. Aí sim,
custando mais barato que um cafezinho na rua, conseguem ter tiragens altas e
uma circulação convincente.
Este detalhe, do preço, está diretamente
ligado ao último ingrediente da receita milagrosa: a sensação de dever
cumprido. Sabe-se que a leitura não figura entre os principais hábitos do
brasileiro. Sem querer discutir a causa, isso é um fato. Mas, ao mesmo tempo,
várias pessoas fazem questão de mostrar que são “cultas” e, a contragosto,
lêem, menos pelo prazer e mais para convencer os outros de que é um leitor. Só
que ler não é tarefa fácil. Exige tempo, raciocínio e hábito.
Os populares então fecham
com chave de ouro a receita de sucesso ao proporcionar àqueles que têm
necessidade de autoafirmação intelectual a possibilidade de fazer a sua leitura
diária, e por meros R$ 0,25. Xeque-mate! Não que o conteúdo mostrado por estes
populares vá acrescentar algo à bagagem cultural destas pessoas, por
privilegiar temas como Esporte, Polícia e Celebridades. Mas que cumpre o papel
de fazer com que este sujeito tenha a sensação de dever cumprido, isso sim.
Portanto, o sucesso dos
populares não é fruto do acaso. É resultado, sim, de pesquisas de opinião e na
entrega de algo bem próximo ao que o público deseja. Se nestes casos o jornal
não cumpre o seu papel de levar informações relevantes para a vida das pessoas,
paciência. Acredito, sinceramente, que é melhor que as pessoas leiam os
populares do que não ler nada. O sucesso de público já está mais que
comprovado. Resta saber se, um dia, os populares serão também sucesso de
crítica. Pelo menos na concepção do negócio como mercadoria podemos afirmar que
sim, já são sucesso absoluto!
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