sexta-feira, 18 de junho de 2010

A arte de “engolir sapos”

De acordo com o dicionário popular, aquele que mais falamos em nosso dia-a-dia, o termo “engolir sapo” nada mais é do que ter que ouvir calado barbáries, agressões, ou argumentações sem noção de conseqüências, em geral de conotação e intenção de agredir aquele que está ouvindo. Outra definição mais realista do termo afirma que engole um sapo aquele que consegue suportar uma situação que, em tese, seria insuportável, em favor de evitar outra situação pior. Ultimamente, os “sapos engolidos” ganharam, inclusive, tamanho e espécies diversas: dependendo da amplitude do problema, ele se torna um sapão e, dependendo mais ainda da capacidade de reação de quem o engole, ele se torna um sapo-boi. Mais do que noticiar os fatos de forma imparcial ou criar imagens e sensações em seus consumidores, está na capacidade de “engolir sapos” o grande diferencial do bom jornalista ou do publicitário bem sucedido. Afinal de contas, quem trabalha com comunicação trabalha com pessoas e tem que desenvolver esta habilidade.

Lidar com pessoas requer uma habilidade técnica e psicológica tão apuradas quanto conhecimento em língua portuguesa, elaboração de textos, criação em software ou na defesa de uma logomarca. Jornalistas trabalham o tempo todo com pessoas. Aliás, o produto final dos jornalistas depende diretamente de uma série de pessoas: do dono do veículo, do editor, das fontes, do cinegrafista... Muitas das vezes, a falta de habilidade no relacionamento acaba jogando por terra uma excelente pauta. Admiro profissionais que, com a maestria e a inteligência que, muitas vezes, são trabalhados em conjunto com a técnica apreendida na Faculdade, conseguem uma informação e a sabe trabalhar de forma ética e transparente. Fazer jornalismo é como a arte de jogar uma bela partida de sinuca: jamais se “mata” uma bola sem pensar na próxima jogada. Jamais pensamos em uma cobertura sem se lembrar que amanhã, ou depois, podemos depender daquela mesma fonte para outra matéria.

Aos publicitários, a arte de “engolir sapos” com sabedoria se faz extremamente necessária, uma vez que ele trabalha com um bem intangível, mas extremamente valioso de uma empresa: a marca. Por isso, é normal escutar insultos e aberrações que, nem sempre, condizem com o contexto da situação nem com o pensamento formado pelo emissor a seu respeito. O empresário compreende sua marca da mesma forma que uma mãe percebe sua ninhada. Afinal de contas é o bem mais valioso para ele, assim como o filho é para a mãe. Neste sentido, é fundamental uma preparação para situações, no mínimo, desagradáveis e desconfortantes. Não sou adepto à filosofia de que o cliente sempre tem a razão, mas percebo que, cada vez mais, os profissionais que conseguem, com sutileza e habilidade, lidar com situações adversas, tem uma enorme chance de convencer e de estabelecer relacionamentos duradouros, cruciais para qualquer profissional de comunicação.

Em um mundo extremamente competitivo e marcado por ambientes cada vez mais perversos e hostis em relação aos relacionamentos, a arte de “engolir sapos” tornou-se um grande diferencial. Ainda não a ponto de ser enaltecido em currículos profissionais, apesar de, em muitas situações e em perfis solicitados por empresas para cargos estratégicos, seja de fundamental importância na definição de um trabalho a ser desenvolvido.



* Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras/Divinópolis


Nenhum comentário:

Postar um comentário