quarta-feira, 7 de julho de 2010

CQC - Exemplo de jornalismo independente e de qualidade

Está cada dia mais difícil a convivência entre pessoas públicas e alguns órgãos de imprensa. Dunga deu o exemplo durante e depois da Copa e parece que esta convivência conturbada vem se tornando cada vez mais comum. E com maior intensidade quando se trata do trabalho sério - lapidado com um belo tempero de humor político - feito pelos repórteres do CQC, programa semanal da TV Bandeirantes. Não satisfeitos com os crimes pelos quais são acusados pela polícia e pelo Ministério Público, pessoas que deveriam zelar pela segurança da população partem para agressão verbal e física, como se fosse uma de suas atribuições quando eleitos pelo povo. Um vexame!

O primeiro a gerar uma cena patética e deselegante foi o deputado federal Nelson Trad (PMDB-MS), que agrediu, de forma violenta, uma equipe do programa dentro do Congresso Nacional. As imagens foram exibidas no CQC do dia (14/06) e deixa claro o descontrole e a sensação de grande poder nas mãos de um simples deputado, que depois de 4 anos perde a tão debatida e injusta imunidade parlamentar. Um cinegrafista da emissora ficou com a roupa rasgada e teve parte do equipamento danificado que, provavelmente, será ressarcido pelo Congresso (leia-se, dinheiro da população). Pelas imagens, a repórter Monica Iozzi também chegou a ser empurrada. A equipe fazia uma brincadeira, pedindo para que os deputados assinassem um "abaixo-assinado" pedindo a inclusão de um litro de cachaça na lista do Bolsa Família. Como é de praxe do Congresso, vários deles assinaram o documento sem ler e, quando informado do conteúdo, o referido deputado partiu para a agressão.

Na última semana, Danilo Gentili foi novamente agredido em São Bernardo do Campo, quando abordava o perigo de desabamento de um muro em cima de uma escola. Na ocasião, o repórter levou um soco no rosto. Passados quinze dias desta afronta, o mesmo Danilo Gentili, acompanhado do produtor Yuri Cruz Costa foi agredido, na última quinta-feira (01/07), enquanto apurava uma denúncia na cidade de Analândia, interior de São Paulo. Segundo o portal Comunique-se, a agressão aconteceu quando Gentili e seu produtor tentavam entrar na prefeitura. O repórter levou um soco na barriga e o produtor teve a mão prensada na porta do órgão público. O agressor teria sido José Roberto Perin, ex-prefeito da cidade e atual chefe do gabinete do executivo, e Luiz Fernando Carvalho, vereador e cunhado de Perin. Sem contar que, em julho do ano passado, o mesmo Danilo Gentili fora covardemente agredido por seguranças do senador José Sarney, dentro do Senado Nacional, simplesmente porque tentava entrevistá-lo.

Interessante perceber como este tipo de abordagem feita pelo CQC tem incomodando as autoridades políticas. Acostumados a terem a imprensa do seu lado em virtude de negociatas sem transparência, a maioria desses agentes políticos se coloca em uma situação constrangedora quando algum profissional do jornalismo exerce, de fato, sua profissão. Quando alguém faz uma pergunta que não estava acordada no script passado pela sua assessoria ou quando questionados sobre temas de interesse público (inclusive, de seus eleitores, responsáveis diretos pelo cargo que ocupam), as reações costumam ser de rebeldia e covardia. A cada dia que passa, torno-me um fã incondicional do CQC e aplaudo, de pé, cada edição do programa, que completou, recentemente, a marca de 100 exibições. Que eu esteja vivo para parabenizá-los pelo milésimo programa, uma marca que será histórica para o jornalismo brasileiro. Quem sabe a Band organiza o torneio de Luta Livre para comemorar?

* Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras / Divinópolis

Um comentário:

  1. Muito bom, e é tão verdade, que querem impedir a entrada de programas como Pânico e o CQC no congresso. Realmente o CQC faz jornalismo de forma diferente, e inteligente que sai do padrão "Jornal Nacional" e afins. Eles sim representam a voz do povo!

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