terça-feira, 13 de julho de 2010

Comunicação? É tudo pra ontem !!!

A frase do título é uma das mais ouvidas pelos profissionais que trabalham com Comunicação Social – seja com jornalismo, publicidade ou relações públicas. Por sermos prestadores de serviço, muitas vezes aceitamos ordens como essa e o resultado, como não poderia deixar de ser, é muitas vezes insatisfatório. Isto porque parte dos gestores ainda não percebeu que a Comunicação, assim como qualquer outra estratégia ou ferramenta empresarial, precisa de tempo para cada uma de suas fases: planejamento, criação, redação etc.

O que se percebe atualmente no mercado são algumas situações cujos entendimentos são necessários para uma análise desta “pressão” em que nós, comunicólogos, vivemos atualmente. Uma delas diz respeito a valorização (ou a falta dela) da Comunicação no ambiente empresarial. Ao mesmo tempo em que encontramos na literatura de marketing relatos de grandes sucessos em organizações que elevaram a comunicação a um patamar de respeito dentro do organograma empresarial, vemos algumas realidades um pouco diferentes, principalmente no mercado do interior.

É simples perceber a diferença. Quem aí não se recorda de alguma ação ou, mais especificamente, de algum comercial de TV que ficou na memória? Posso citar aqui vários exemplos, como o fantástico jingle do Guaraná Antarctica na década de 90 (“Pipoca na panela, começa a esquentar...”), o comercial da Parmalat na mesma década (“O Elefante é fã de Parmalat...”), até o recente comercial do Novo Uno (ou os vários comerciais do mesmo produto). E qual a semelhança entre todos eles? São duas: a primeira, é que os comerciais foram responsáveis por um grande sucesso de vendas. A segunda, e a mais importante do ponto de vista desta análise, é o planejamento: todos estes comerciais chegaram ao sucesso após passar por um grande e minucioso processo de planejamento. Ou alguém ainda acredita que comunicólogos trabalham simplesmente quando têm idéias brilhantes de uma hora para a outra?

Em contrapartida, vemos algumas situações locais que caminham exatamente no oposto disso. Empresários e gestores que acreditam que uma marca de sucesso se constrói de um dia para o outro, sem investimento e, muitas vezes, contando apenas com o trabalho de um sobrinho do cunhado do primo que sabe “mexer no computador” (sic). Ora, se a coisa fosse fácil assim, não haveria a necessidade de profissionais, estudos, graduações, escolas e outras instituições que pregam acertadamente, o tempo todo, a necessidade do trabalho embasado.

Mas como infelizmente as coisas nem sempre caminham como devem, e a necessidade (?!) faz pseudocomunicólogos toparam qualquer serviço a qualquer preço, o que se vê são gestores incrédulos no poder da Comunicação. Isto porque, ao contratarem estes pseudoprofissionais, os empresários/gestores são convencidos de que um investimento insignificante, aliado a um trabalho sem planejamento, vai levá-los (e as suas empresas) a um sucesso nunca antes experimentado. E aí eu pergunto: o que acontece? Fracasso – pelo menos em 99% dos casos.

Certa vez eu escutei de um grande profissional que o que é caro não é caro à toa. E a explicação dele foi simples e direta: o que é bom tem preço. E realmente funciona assim mesmo. Mas o triste nesta história é que, apesar de grande parte dos gestores saberem disso, continuam achando que somente o que é produto (ou bem) de qualidade deve ser valorizado – serviço não. E tem alguma lógica nessa linha de raciocínio? Se tiver, alguém faça o favor de me explicar.

Aí acontece do sujeito bem sucedido andar de carro do ano, morar em uma mansão, só usar roupas e sapatos de grife, mas ficar “chorando” preço quando lhe é apresentada uma proposta de um trabalho de Comunicação (um trabalho de verdade, com todas as etapas que deve ter, inclusive o tão “desprezado” Planejamento). A desculpa? Aquela de sempre, a do sobrinho do cunhado do primo que sabe mexer em computador...

Será por acaso que os vinhos e whiskys ficam mais caros à medida que ficam mais velhos? Ou será que o tempo de fermentação e envelhecimento nos barris influi no sabor final? Será que um trabalho planejado, com maiores chances de dar certo do que um sem planejamento, não deve ser valorizado também? A resposta é simples, não? Não na prática de mercado, infelizmente.

O que me deixa de certo modo esperançoso nisso tudo é que, apesar de ainda serem poucos, alguns gestores já perceberam a importância de se fazer um trabalho de Comunicação em todas as suas fases – e hoje comemoram os resultados. Tenho percebido que a mentalidade empresarial vem mudando aos poucos no que diz respeito à importância da Comunicação. A área vem ganhando espaço e, principalmente, vem subindo os degraus nos organogramas empresariais, ficando cada vez mais ligada às decisões estratégicas – onde realmente deve estar.

Mas também seria incoerente de minha parte querer que toda uma cultura de “sobrinho do cunhado do primo” caísse de um dia para o outro. Assim como o sucesso de uma marca depende de tempo e muito trabalho, mudar uma cultura empresarial atrasada também demanda bastante esforço. Enquanto isso não se torna uma realidade absoluta (desculpe pelo trocadilho), restam duas alternativas: ou os profissionais começam a trabalhar da forma correta, dando o devido valor ao seu serviço e, com isso, levando os gestores também a fazê-lo, ou continuamos na cultura do “é pra ontem”. Resta dúvida de qual a melhor alternativa?


* Ricardo Nogueira
Jornalista, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais.
Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda.

3 comentários:

  1. Ricardo, concordo plenamente. Aqueles que implementam estrategicamente a Comunicação em suas empresas saem na frente nos processos de tomadas de decisão!

    ResponderExcluir
  2. Parabens Ricardo. Concordo plenamente. Quem planeja sempre sai na frente.

    Abracos.

    FRANCISCO RESENDE

    ResponderExcluir
  3. Realmente cultura de interior é um caso sério. Pensam que comunicação é mais um gasto que um investimento! E sim, "o que é caro não é caro à toa."

    ResponderExcluir