sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um golpe na Língua Portuguesa

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras / Divinópolis-MG 



Nesta semana, o Ministério da Educação (MEC) se superou e distribuiu cerca de 500 mil cópias de um livro didático que é uma afronta aos princípios linguísticos da nossa gramática. Com o intuito de nivelar (por baixo, claro) o ensino e evitar possíveis “preconceitos linguísticos”, o MEC, que tem como finalidade principal zelar pela qualidade da educação no País, deferiu um tiro certeiro contra a nossa língua pátria. Expressões como “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, ou “nós pega peixe”, de acordo com esta publicação assinada pelo Ministério, deixam de fazer parte da categoria ‘errado’ para apenas ‘inadequado’. O volume “Por uma vida melhor”, distribuído para todas as escolas do ensino básico, mostra aos alunos que não é necessário seguir a norma culta para a regra da concordância. 
 
Na verdade, mais este equívoco do MEC (já não basta o que fizeram com o ENEM e o ENADE) ensina a usar a chamada “norma popular” da língua portuguesa. De acordo com os autores do livro, as regras da norma culta não levam em consideração a chamada “língua viva”. Um dos trechos do livro afirma também que muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. Ou seja, segundo o MEC, existe uma norma culta e correta, mas esta não precisa, necessariamente, ser seguida. Cadê a lógica? Para que, então, um professor preparado e conhecedor da norma culta?
 
Segundo o MEC, o aluno pode correr o risco de ser vítima de preconceito linguístico caso não use a norma culta. O livro é da editora Global e aprovado pelo MEC por meio do Programa Nacional do Livro Didático. Com esta inversão de valores, corremos o risco de excluir exatamente aqueles que conhecem a nossa língua culta, aquela mesma cobrada em vestibulares e concursos públicos. Com relação a esta cobrança, o MEC é taxativo em manter a norma culta da língua. Quanta incoerência... Ou seja, ensina-se uma coisa na educação básica e cobra-se outra na vida. Para ser mais direto, ensina-se errado na base e cobra-se o correto. Em resumo, o próprio MEC aumenta ainda mais a distância cultural entre alunos do ensino público e do privado. Isso impulsiona o preconceito, que o próprio ministério usa como justificativa para esta aberração. 
 
Em nota oficial, o MEC informou que não se envolverá na polêmica sobre o livro com erros gramaticais. Mas cadê a polêmica? Se está errado, não pode ser distribuído. A verdade é que o MEC se equivocou mais uma vez. Dentro de sala de aula, o professor sempre aborda a existência de outra linguagem, a popular, a coloquial, a não erudita. Entretanto, é óbvio que os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito. Afinal de contas, o popular está no dia-a-dia e não necessita de estudos técnicos. Pior: não precisa do incentivo do órgão que existe, unicamente, para combatê-lo e incentivar o ensino correto.
 
Na obra, da coleção “Viver, aprender”, os autores afirma num trecho: “Posso falar ‘os livro?’ Claro que pode, mas dependendo da situação, a pessoa pode ser vítima de preconceito linguístico.” Preconceito linguístico, a partir de agora, sofrerão os alunos que, por vontade própria e contrariando ao MEC, desejam aprender a língua que será exigida em todas as etapas de sua vida pessoal e profissional. Aqueles que, por orientação de casa (e não da escola, pasme) buscar se entranhar em nossa gramática e conhecer a nossa língua pátria. Vamos esperar, agora, as determinações para o ensino da Matemática. Afinal de contas, até hoje pela manhã, 2 e 2 somavam 4. Mas esperaremos novas orientações do MEC...

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