terça-feira, 17 de maio de 2011

História se faz com Estória

Bernardo Rodrigues 
Jornalista, especialista em Filosofia e Mestre em Teoria da Literatura.
Professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
da Faculdade Pitágoras/Divinópolis



A reflexão sobre comunicação deve ir além da crítica sobre a mídia; deve observar os processos comunicativos com um viés mais amplo. Um debate oportuno para este momento em que Divinópolis se aproxima de seu Centenário é o papel da comunicação na preservação da memória e do patrimônio histórico.

Aqui já vale ressaltar que Cultura e Comunicação são conceitos que caminham juntos. Por um lado, o ato de comunicar já é, por si, cultural; por outro, sem comunicação, não há comunhão de ideias, de significações, de sentidos... não há transmissão cultural.

Uma área que carece de ações comunicativas mais efetivas refere-se à política de preservação dos patrimônios culturais, pois preservar um patrimônio não se resume a mantê-lo perene, mas atrelar, à sua materialidade, sua história. 

De acordo com o Iphan (Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), há uma distinção entre patrimônios culturais materiais e imateriais. O imaterial, para o Iphan, “é aquele em que as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas, instrumentos, objetos, artefatos e lugares são reconhecidos por comunidades como parte integrante de seu patrimônio cultural”. Um exemplo de patrimônio imaterial registrado em Divinópolis é o Reinado, uma tradição marcante na cultura do Centro-Oeste Mineiro. Já o patrimônio material é dividido pelo instituto em “bens imóveis – núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais – e móveis – coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos”. São bens imóveis tombados em Divinópolis o sobrado onde hoje funciona o Museu Histórico, o Teatro Municipal e a Praça do Santuário, entre outros.

A distinção é didática e importante para que se definam diretrizes para políticas públicas de proteção do patrimônio cultural. Entretanto, é preciso reconhecer que todo patrimônio histórico é essencialmente imaterial: mesmo uma casa, uma igreja ou uma praça são tombados como patrimônio por sua dimensão representativa, simbólica. Um material só é simbólico por encarnar um valor e, no caso de um patrimônio histórico, uma memória –  que deve ser socializada. Manter de pé um prédio (patrimônio material) sem difundir na comunidade a narrativa que está por trás do concreto não basta como política patrimonial.

Para manter viva uma memória, é preciso comunicá-la, traduzi-la em discurso e fazer com que seja compartilhada pela comunidade. Aí, sim, podemos falar em memória social, sem a qual não podemos falar em patrimônio cultural.

Isso só acontece com comunicação social, seja através da imprensa, das escolas, da internet, dos museus... É preciso revelar o verbo da história que está encarnada no ferro, madeira e concreto das casas, igrejas e praças tombadas.

De fato, há de se preservar de pé nosso patrimônio histórico que ainda sobrevive, mas lembrando-se sempre de não deixar que ele se torne apenas um corpo sem espírito, definhando ad aeternum como tantos outros pelo mundo afora. Porque, se não se comunica – não se torna comum – seu valor, aquilo que fez dele um patrimônio, ele deixa de ser reconhecido como tal. E, então, a chacota com a dubiedade do verbo tombar – essa sim – é que será preservada.

Mas, já que este é um Observatório de Mídia, observemos as atuais contribuições da mídia para a divulgação das Estórias que formam a nossa História.

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