quarta-feira, 4 de maio de 2011

Equívocos e gafes jornalísticas

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras / Divinópolis-MG


Temos uma forte tendência em gostar de assistir a derrocada dos outros. Não é a toa que o quadro mais assistido de um dos programas dominicais de auditório é intitulado de “Vídeo-Cassetada”. O brasileiro gosta deste tipo de coisa, a ponto de ficar acordado até meia-noite, em plena segunda-feira, para assistir ao “Top Five”, quadro do CQC que mostra vídeos com equívocos e gafes na programação televisiva brasileira. Neste sentido, o jornalista é um dos profissionais mais expostos a erros, sobretudo quando a programação é ao vivo. Recentemente, alguns casos chamaram a atenção do público. 

No último dia 3 de abril, o apresentador Caio Blinder, do Manhattan Connection, da Globonews (TV a cabo), admitiu a utilização de uma expressão errada (piranha) para se referir à rainha da Jordânia, Rania Al-Abdullah. "Politicamente, ela (Rania) e as outras piranhas (mulheres de ditadores) são intragáveis. Todas elas têm uma fachada de modernização desses regimes, ou seja, não querem parecer que são realeza parasita e nem mulher muçulmana submissa". Depois de um protesto da embaixada da Jordânia, o jornalista se desculpou pelo excesso. "Falei bobagem e agora estou corretamente pagando por isso”, retratou Blinder.

Na história do jornalismo brasileiro, várias gafes foram registradas. O apresentador do Jornal Nacional, Willian Bonner, tem em seu currículo um vídeo disponível no Youtube, no qual ele imita grosseiramente o ex-apresentador Clodovil Hernandez. A competente Lilian Witte Fibbe tem um antológico vídeo do UOL NOTÍCIAS, no qual ela dispara a rir, de forma incontrolável, ao ler uma notícia de uma idosa que traficava comprimidos de êxtase, afirmando achar que se tratava de Viagra. Outros grandes nomes do jornalismo nacional já deram sua mancada “ao vivo” ou escreveram coisas que foram obrigados a se retratarem depois. Com a inserção de dispositivos tecnológicos como o Teleprompter (para leitura ao vivo) e o ponto eletrônico, esta exposição ficou ainda maior.

Errar faz parte da carreira de qualquer jornalista. Assumir e corrigir o erro são habilidades de poucos. Existe sim uma soberba injustificada enraizada em centenas de jornalistas que, além de cometerem injustiças e gafes, sustentam o erro como se ele não tivesse existido. Um mito de que jornalista que erra não tem competência. A nobreza e a grandeza dos grandes e reconhecidos jornalistas de nossa história está justamente no fato de reconhecerem suas fragilidades, assumindo seus erros e conquistando uma enorme credibilidade junto ao público.

Recentemente, um caso específico chamou a atenção da imprensa internacional e acendeu a “luz amarela” na busca desmedida pelo furo jornalístico. Em agosto de 2010, o clube espanhol Villareal contratou o atacante Nestor Coratella por 3 milhões de euros, vindo do Danubio, do Uruguai. Grandes jornais esportivos da Espanha, como o “As” e o “Mundo Deportivo”, estamparam matérias de capa sobre a nova contratação. Porém, o que chamou atenção da imprensa no dia seguinte surpreendeu a todos: o jogador, simplesmente, não existia! O atleta e a venda foram frutos da invenção de um grupo de internautas, que fizeram uma brincadeira nas Redes Sociais. Entretanto, de tão massificada na web, a brincadeira se transformou em notícia. Uma prova de que a apuração criteriosa permanece como uma relevante ferramenta para o jornalismo. 

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