terça-feira, 20 de setembro de 2011

Educação, imoralidade e a mídia

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras – Divinópolis-MG


Todos sabem falar quando questionados sobre o que é ser imoral. Em poucas palavras, imoral é aquele que não tem moral, ética. Tem o conhecimento, mas por diversos motivos, não aplica os conceitos. Imoral é tudo aquilo que contraria os bons costumes e regras de conduta propostos por uma determinada doutrina ou inerente a uma determinada condição. Quando há falta de pudor, quando algo induz ao pecado, à indecência, há falta de moral, ou seja, há imoralidade. Em Brasília, por exemplo, estes termos são tão comuns quanto o “uai” em Minas Geras ou o “tchê” gaúcho. No Congresso, no Senado e em outras esferas do poder, falar em moralidade é motivo, inclusive, de chacota. Inverteram-se alguns valores.

Acompanhando, pelo Twitter, alguns pensamentos do senador Cristovam Buarque, com quem comungo muito de minha forma de pensar a tríplice relação entre política, mídia e educação, fiquei bons momentos pensando sobre mais umas de suas belas e pontuais reflexões: “Limitamos preocupação moral à corrupção no comportamento, não olhamos a imoralidade política de se manter o analfabetismo (…) No futuro, nos verão como imorais ao gastarmos com 3 estádios para a Copa, o necessário para erradicar o analfabetismo. (…) Desigualdade educacional nos séc XX-XXI corresponde à escravidão nos séculos XVI-XIX.É imoralidade na política”.

Mensalão é imoral. Dinheiro escondido na cueca nem se fala. Aceitar propina de empreiteira para serviços públicos é quase uma indecência. Desviar dinheiro da saúde e da educação coletiva para o bel lazer individual deveria ser crime inafiançável, de tão imoral. Entra governo, sai governo, e a nossa esperança em um país mais educado rejuvenesce a cada pacote de promessas políticas que nos é vendido. Há 20 anos, saúde e educação tem sido prioridade de todos os planos de governo. E a realidade, em âmbito global (apesar de algumas boas iniciativas locais), é uma população cada vez mais dependente de um sistema de saúde famigerado, uma previdência pública praticamente falida e uma formação educacional que, mesmo atingindo mais pessoas nos últimos anos, peca pela extrema falta de qualidade e carência de estrutura. Mas qual seria a ligação entre analfabetismo, corrupção e a mídia?

É latente que a melhor e mais eficiente forma de controle político e ideológico se dá através da manutenção do analfabetismo. Existe um senso comum na política de que é necessário justificar o controle sobre as pessoas, na busca pelo voto, através do assistencialismo. Oferece-se o peixe pronto, mas nunca se ensina a arte de pescar. Por isso o analfabetismo e a pobreza tendem a ser problemas crônicos, sem soluções de curto prazo. Quanto menos formada e informada é a população, maior é a capacidade de perpetuação da falta de contestação. Prato cheio para qualquer sistema político, inclusive a “pseudodemocracia” instaurada no Brasil há 30 anos. Uma breve reflexão: vivemos hoje em uma democracia de quê? Uns tem saúde, outros não. Alguns tem acesso a educação superior, a maioria não. Favelas paupérrimas, controladas pelo tráfico de drogas e pela violência, “mancham” a paisagem dos bairros de classe média/alta das grandes cidades. Lazer e entretenimento, presentes na constituição como direito de todos, são considerados regalias. É possível enxergar democracia e desigualdade social convivendo juntos?  Uma massa alienada, sem direito à educação, é o cenário perfeito para ações imorais como a corrupção.  

É neste sentido que a mídia, não só através da imprensa, mas também de revistas, novelas e seriados, possui um papel estratégico para a educação. É um longo debate, que já vem de décadas, que discute se os grandes grupos de mídia, enquanto pertencentes à esfera privada e com fins lucrativos, possui realmente a obrigação de educar. Não é questão de obrigação, mas sim de levar aos lares brasileiros, sobretudo através da TV (mídia que atinge mais de 95% dos lares brasileiros), mensagens que, de alguma forma contribuam para a boa formação cidadã. E que, mesmo assim, vendam e garantam o lucro! Ao mesmo tempo em que refletia para escrever esta coluna, via minha família inteira em silêncio, em frente à TV, vendo uma novela em que uma senhora de mais de 80 anos traía o marido com o mordomo. Coincidência? Na cena seguinte, duas prostitutas brigando a tapas, chutes e puxões de cabelo, deixando para os telespectadores um grande ensinamento, em alto e bom som: “Até para ser vagabunda é preciso ter talento”. Chego à conclusão de que todo o raciocínio desenvolvido neste texto tinha, de fato, pouco sentido prático. Apenas mais uma teoria...    

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