domingo, 30 de maio de 2010

A Dengue e a mídia

Febre, rosto avermelhado, dores, vômitos, exame de plaquetas. É a Dengue!



É possível que o leitor deste já tenha passado pela saga acima descrita, ou, pelo menos, conheça alguém próximo que tenha experimentado a desagradável situação. Eu, particularmente, que enfrentei o momento angustiante de ver meu pai com um diagnóstico de 13.000 plaquetas, na eminência de uma dengue hemorrágica, jamais esquecerei. Foram idas e vindas ao hospital, pronto-atendimento lotado pela mesma enfermidade, e uma constatação: a dengue realmente pode matar.

Passado o susto, a tristeza e preocupação dos momentos mais críticos, depois de 5 dias no hospital, meu pai, graças a Deus, já está voltando às suas atividades. No entanto, sei que tivemos, eu e minha família, muito perto de possibilidades reais de perdê-lo. E em meio a essas possibilidades me peguei fazendo um questionamento que gostaria de compartilhar. Por que uma doença tão grave foi e ainda é tratada de forma tão branda pela publicidade das campanhas de prevenção?

Pensemos. Que imaginário consegue relacionar um mosquito, ilustrado em vários cartazes como um personagem de história em quadrinhos, cujas expressões remetem no máximo a um “malvado”, com um mosquito transmissor? Quem irá entender de fato que as chuvas representam um perigo de infestação desse inseto transmissor, que carrega com ele um vírus altamente letal, quando esse inseto é mostrado como um sambista inocente, novamente ilustrado, numa animação para um filme de TV de uma emissora de grande abrangência?
Infelizmente, essa enfermidade - a dengue, já possui no nome a semelhança de fonia com a palavra dengo, e por isso, até hoje, o doente é obrigado a ouvir tiradas do tipo: “tá dengoso?”. Acho que as gravidades relatadas no boca-a-boca estão acabando um pouco com essas “gracinhas”. Mas a mídia tem um papel maior, uma função de cidadania essencial nesse contexto, que não pode ser deixada de lado. Os publicitários, os órgãos públicos que aprovam as campanhas, precisam se ater em mostrar a realidade de uma doença que desafia a saúde pública. Uma doença que realmente mata, sem tratamento específico e que tem como única e precisa solução apenas o valor da coletividade.

Por isso parabenizo atitudes e ações como a da Prefeitura de Divinópolis, que recentemente colocou no ar uma campanha mostrando depoimentos verídicos de cidadãos que tiveram a infelicidade de contrair a dengue. Não estou dizendo que a mídia (ou uma campanha publicitária) fará sozinha, o que é preciso para erradicar a Dengue. Mas acredito que uma publicidade coerente com os transtornos e as consequências dessa doença, cumprirá melhor o seu papel de informação, conscientização e sensibilização.



* Silvana Maria de Sousa
Publicitária e professora dos cursos de Jornalismo
e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras / Divinópolis

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