segunda-feira, 24 de maio de 2010

Comunicação e participação

O Observatório de Mídia levou a uma emissora de rádio de Divinópolis uma interessante discussão sobre a participação do receptor no jornalismo contemporâneo. Se, por um lado, deve-se ressaltar que não existe comunicação sem participação do leitor, do ouvinte, do espectador – mesmo que apenas na interpretação do texto – por outro, essa interação evidencia aspectos relevantes da dinâmica da comunicação social atualmente.

Quando falamos em participação do receptor na comunicação, devemos sempre lembrar que essa participação já começa antes mesmo de o texto existir, pois se um texto é elaborado de forma dirigida a um perfil de público, já ha uma interferência deste publico na construção discursiva. Ou seja, na medida em que a imagem que se tem do receptor interfere no modo como se constrói o discurso, já se pode verificar nesse processo uma primeira participação do leitor.

Mas tratemos aqui de uma participação mais efetiva – e ativa – do receptor. Comunicar é compartilhar. E os sentidos compartilhados pela mídia dependem de uma participação ativa do receptor. Já foi o tempo em que se acreditava que o discurso da imprensa tinha o poder de controlar o leitor, percebido como uma caixa vazia na qual se depositava um conteúdo aceito sem nenhuma resistência. Não é assim. É na recepção que o texto adquire sentido, é a interpretação do leitor, no fim das contas, que define a significação de um texto. E essa significação será construída de acordo com as aspirações, preferências, repertório e cultura desse receptor.

Dessa forma, toda comunicação é participativa. Se não, não é comunicação. Todavia, há outras possibilidades de participação do receptor no processo comunicativo. Isso já foi evidenciado desde os programas de rádio, com participação do ouvinte através de ligações; nas revistas e jornais, com as cartas dos leitores etc. Na televisão, já se experimentou até deixar o espectador decidir qual será o final de uma história ou que filme deve ser exibido na semana seguinte.

Hoje vemos algo diferente no jornalismo, em que essa participação passa a integrar a própria produção da notícia. O público assume muitas vezes o papel de jornalista no registro audiovisual de um acidente, de uma tempestade, de uma cena inusitada, que, com as facilidades que a tecnologia trouxe, pode ser imediatamente disponibilizado por meio de um celular, por exemplo. Essas imagens aparecem cada vez mais na televisão, apontando mudanças significativas no jornalismo, que passa a trazer para a instância da produção da notícia a participação do público que até então era apenas espectador. Percebe-se, por outro lado, como a linguagem audiovisual passa a ser compartilhada pelo público, que já incorpora a escrita da televisão nos registros que se fazem por esses “cinegrafistas amadores”, cujas imagens tornam-se cada vez mais comuns na televisão e, especialmente, na internet.

A internet abre ainda mais possibilidades de produção jornalística interativa, com sites de conteúdo aberto, em que os internautas, coletivamente, podem construir um mesmo texto “a várias mãos”. No Youtube, muitas vezes se tem acesso a imagens de certos acontecimentos antes mesmo de a televisão divulgá-los.

Há então uma inversão. O veículo de comunicação que monopolizava a “emissão” de “mensagens” perde essa exclusividade e torna-se também recebedor de uma infinidade de informações que lhe chegam de diversos pontos. Cabe ao jornalista saber organizar essa informação e disponibilizá-la ao público com qualidade e credibilidade. Esse é um grande desafio.


* Bernardo Rodrigues
Jornalista, especialista em Filosofia e Mestre em Teoria da Literatura.
Professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
da Faculdade Pitágoras/Divinópolis

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