segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Protestos virtuais: o último suspiro

 

Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.



Nunca um artigo nesse espaço gerou tanta repercussão como o publicado há três semanas, “Protestos virtuais”. Após a publicação de um texto endossando o seu conteúdo há duas semanas (escrito com maestria pelo professor e jornalista Bernardo Rodrigues), e de uma “carta argumentativa” contestando o original, publicado na semana passada, pretendo encerrar hoje o assunto, sem parecer autoritário. Apesar do anonimato da “carta argumentativa” (parece ser de autoria de Igor Bastos, com base no endereço de email encaminhado pela redação do Gazeta do Oeste a este articulista), fiz questão de ceder este espaço na última semana para a publicação de uma visão contrária a minha. Hoje tento analisar tudo isso, por meio de uma última discussão acerca do fato e da própria repercussão que a publicação gerou.

 

O primeiro ponto a ser destacado é a confirmação das atitudes que nascem, crescem e morrem na internet. Após o link do artigo original ser disponibilizado na rede, por meio do Portal G37, começaram os “protestos”. Não pude acompanhar em tempo real, pois ela se deu no Facebook, meio ao qual não possuo acesso. Mas tive notícias da repercussão e fiquei extremamente feliz com isso. Além de provocar uma ação (nem que seja virtual), pude perceber que os próprios atores sociais envolvidos nos fatos não concordam com a passividade de certas coisas. E, apesar do texto não ter sido endereçado a alguém, pude notar que a carapuça serviu.

 

Da mesma forma, admiro o fato do autor da “carta argumentativa” ter se dado ao trabalho de escrevê-la e enviado para a redação do Gazeta do Oeste em contestação ao conteúdo do “Protestos Virtuais”. Isso mostra que, muitas vezes, ter atitudes além das redes sociais virtuais pode resultar em processos muito mais produtivos do que cantar aos quatro cantos sua opinião via Twitter ou Facebook. No mínimo, meu caro autor, tenha certeza que um número muito maior de pessoas teve acesso ao que você pensa. Concordando ou não com seus argumentos, saiba que emitir as opiniões no mundo “físico” faz com que um elo seja estabelecido com muitas pessoas além de nossos relacionamentos. Assim como eu e você. E isso é extremamente produtivo e gratificante para um debate maduro. Pode acreditar nisso.

 

Ainda em referência ao artigo original, o autor afirma que este jornalista generaliza todas as ações nas redes sociais como se fossem “de mentirinha”, o que é uma inverdade. Concordo com você na potencialidade que as redes sociais virtuais têm para mobilizar as pessoas. O exemplo da “Primavera Árabe” é excelente para atestar isso, assim como o belo trabalho feito por uma parcela da juventude divinopolitana em protesto contra o aumento dos salários de nossos vereadores. Atitude louvável, admirável e muito importante para o estabelecimento da democracia. E é exatamente esse o ponto em que discordamos: quando afirmo que a grande maioria das atitudes nas redes sociais virtuais nasce e morre no próprio meio.

 

Não tenho nada contra utilizar a rede para combinar encontros físicos com fins plenamente de entretenimento, como os zumbis ou a guerra de travesseiros. Apenas acho incoerente ações como essas atingirem um público maior do que em “convocações” para protestos e/ou reivindicações com fins sociais, já que esses mesmos participantes adoram se mostrar indignados com as desmazelas do mundo real. Mas levantar da cadeira, da cama ou do sofá para contestar isso parece que não vale a pena, né? Por isso sugiro que a geração M reveja seus conceitos no que tange ao seu “orgulho” de ter um “modelo diferente” do que existiu nos anos 1990 e antes. Esse novo modelo, extremamente passivo, não gera resultados tão eficazes quanto os de anteriormente e todos sabemos disso.

 

O espaço aqui é curto para uma discussão. Quero apenas deixar claro que concordo com você no que diz respeito à passividade social (dos usuários ou não das redes sociais virtuais) e que, como entusiasta destas novas tecnologias, pessoas como você deviam utilizá-las mais vezes para fins mais nobres, como já foi feito. Uma dica: aproveitem esse projeto que está em tramitação na Câmara de Vereadores, visando diminuir o grau de escolaridade para os assessores parlamentares, e realizem uma ação nesse sentido. Para fins como esse, creio que as redes sociais virtuais sejam uma ótima ferramenta para a reunião e convocação de pessoas que, assim como eu, acham tal projeto uma afronta à nossa inteligência. Caso auxilie, conte comigo nisso. 

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