Ricardo
Nogueira
Jornalista, Especialista
em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre
em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da
Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão
Comercial.Nunca um artigo nesse espaço gerou tanta repercussão (contrárias e favoráveis) como o último, “Protestos virtuais” (apesar da maior parte deles ficar restrita ao ambiente virtual, confirmando o que o próprio artigo expõe). Após a publicação de um texto endossando o seu conteúdo na última semana (brilhante, aliás, escrito com maestria pelo amigo, professor, jornalista e Mestre, Bernardo Rodrigues), nesta semana acho justo e democrático oferecer o espaço para uma visão contrária à exposta originalmente. Recebi da redação do jornal Gazeta do Oeste uma “carta argumentativa”, sem título e assinatura, contestando o conteúdo do “Protestos virtuais”. Parece ser de autoria de Igor Bastos (faço a afirmação com base no endereço de email do autor da “carta”, encaminhado a este articulista).
Apesar do
anonimato, creio justo contrariar um pouquinho a Constituição que assegura a
“liberdade de expressão”, em seu artigo quinto, pelos incisos “IV – é livre a manifestação do
pensamento, sendo vedado o anonimato” e “IX- é livre a expressão de atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou
licença”. Portanto, segue abaixo a íntegra da “carta argumentativa” recebida na
última semana. Na próxima (por questão de espaço não será possível comentá-la
hoje), tentarei fechar o assunto por meio de uma análise sobre o próprio
fenômeno que o artigo original gerou.
“Divinópolis,
15 de Novembro de 2012
Prezado
Ricardo Nogueira,
A
preocupação do senhor com os jovens é legítima e merece o apoio da sociedade,
mas existem alguns pontos que devemos ressaltar. No
artigo ‘Protestos Virtuais’, (Jornal Gazeta, 12/11/12), o senhor diz que a rede
social gerou apenas protestos de mentirinha, o que muito me assusta. Como o
senhor já sabe, e tem acompanhado, desde 2010 estão em noticiários de todo os
países os protestos no mundo árabe, conhecidos como ‘Primavera Árabe’, nos
quais o povo luta por direitos iguais e democracia. Como jornalista o senhor
tem conhecimento do papel fundamental das redes sociais para que essas pessoas
pudessem se conectar, mobilizar e lutar em meio a ditadura.
Mas eu
entendo a sua preocupação, a rede social também tem gerado protestos inválidos,
como o viral de 1 ano atrás que voltou com força em 2012, o ‘Protesto Gota
D’água’ e vale lembrar que o vídeo foi feito por artistas de televisão. Graças
aos estudantes da USP (Geração M), em conjunto com um professor, fizeram um
vídeo resposta, desmascarando todas as falácias ditas em tal vídeo. O senhor
deve lembrar muito bem desse episódio que foi capa de todas as principais
‘mídias físicas’ de nosso país.
O
senhor cita também os revolucionários do passado como exemplos. A geração M
nasceu sem ditadura e sem o medo da inflação. A conexão com o mundo, cada vez
mais digital, cria uma nova forma de se relacionar. Sem limites físicos ou
sociais, a internet é a nova forma de organizar o jeito de pensar do jovem. O
modelo que foi válido até os anos 90 não faz mais sentido hoje. O engajamento
político daquela época exigia mais sacrifícios. Um abandono a uma questão
individual para se integrar inteiramente a um objetivo. Hoje, desejos
individuais, como o caso dos Índios Guarani, são expostos nas redes, e
rapidamente pessoas com os mesmos interesses e opiniões se conectam e começam a
se movimentar, criando pequenas revoluções para tentarem mudar a sua comunidade
local ou um coletivo maior.
A nota
mais lamentável do texto é quando o senhor se refere aos flash mob’s (Pillow
Fight e Zombie Walk). Fui um dos idealizadores de ambos em nossa cidade e
entendo muito bem do assunto. Um flash mob nada mais é que uma aglomeração instantânea de pessoas para realizar
determinada ação inusitada previamente combinada. Essas ações não têm o intuito
de revolucionar o planeta, e pessoalmente não creio que os flash mob’s mudarão
algo ou melhorarão a vida de alguma pessoa. O objetivo principal do flash mob é
a diversão. Quando analisado socialmente, o senhor verá que existem pessoas de
diferentes posições políticas interagindo, bem como pessoas racistas com
pessoas de outras raças, pessoas homofóbicas com pessoas homossexuais, etc.
Nada tão sério ao ponto de mudar os pensamentos, porém é um fator interessante
a ser observado.
Eu entendo a sua crítica, mas creio que é melhor um
jovem se divertir vestido de zumbi ou interagindo com seus amigos da internet,
do que ir a um bar ou festa ‘encher a cara’, sem ter ao menos 18 anos, o que
tem sido cada vez mais freqüente em nossa cidade. Não digo que os
frequentadores de flash mobs não fazem isso. Reafirmo que o intuito desses
movimentos é apenas criar uma via alternativa de diversão, nada mais que isso.
Outro ponto importante que devo citar, é que, graças a rede de contatos que
construí com essas mobilizações em 2011, foi possível ajudar o professor Juarez
Nogueira, e outros amigos da Geração M, a encher a Câmara Municipal contra o
aumento do salário dos vereadores, um acontecimento nunca visto em Divinópolis,
onde estavam presentes muitos dos jovens que participaram dos flash mobs,
justamente por serem os mais atuantes na Internet em nossa cidade.
Não faz diferença se estamos na rua ou na internet, a
realidade é de comodidade, como o senhor mesmo disse. Precisamos de mais gente
com o pensamento de mudança, assim como o senhor e eu. Fazer um protesto nas
ruas com 3 pessoas não irá nos levar a lugar algum. Mas eu acredito que um
futuro melhor está por vir, onde jovens líderes possam contribuir para mudar a
nossa realidade. Onde utilizemos a rede social não apenas pra namorar ou fazer
festa, mas para nos mobilizarmos efetivamente e construirmos nossas opiniões de
uma forma mais concreta e sem hipocrisias. Onde as pessoas realmente se
importem com o coletivo, para tornar o mundo cada vez melhor. Que se manifestem
de forma a levar ao conhecimento das autoridades o verdadeiro pensamento
coletivo. Mas o papel da rede social não é educar e conscientizar, a rede
social nada mais é que um veículo de mídia, uma ferramenta, assim como toda a
Internet. Se teremos jovens politizados ou não, dependerá do acesso a educação
e cultura de qualidade. Agora é como eu sempre digo, se nós jovens ficamos
quietos, somos ‘alienados’, se vamos pras ruas somos ‘baderneiros’.
Independente do que aconteça, sempre haverá alguém reclamando no conforto do
sofá de casa”.
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