Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
“Seria mais fácil fazer como
todo mundo faz. O milésimo gol sentado na mesa do bar”. A frase, extraída da
música “Outras Frequências”, do artista gaúcho Humberto Gessinger, mostra bem a
situação em que vivemos atualmente. A promessa da internet e suas quebras de
fronteiras culturais e sociais, ao contrário do previsto, não gerou jovens mais
politizados e atuantes. Ao invés disso, temos cada vez mais protestos de
mentirinha, revoluções no sofá e pessoas extremamente corajosas protegidas pelo
falso anonimato da rede mundial de computadores. É uma atualização das pessoas
que, na minha infância, eram acusadas de “jogar bolinha de gude no tapete” ou de
“soltar pipa no ventilador”.
A geração M (mundi,
millenium, multimídia) é hoje campeã dos protestos virtuais. Recentemente, uma
mobilização entre os “facebookeiros” tomou conta de todo o país. As pessoas,
com indignação frente a uma possível retirada de determinada tribo indígena de
seu habitat em virtude da necessidade progressista, resolveram protestar. E
fizeram isso da seguinte forma: inseriram entre seu primeiro nome e o sobrenome
alguns nomes indígenas, tais como Guarani-Pataxó. Então, um João da Silva
qualquer passou a se chamar, no Facebook, João Guarani Pataxó da Silva. Seria
engraçado, se não fosse triste.
E essa tristeza vem da
passividade da juventude em suas formas de reivindicação. O impressionante é
que, para contestar pais, parentes, amigos ou (especialmente) professores, há
uma agressividade e uma intensidade física fora do comum. Mas se é para apoiar
a tribo indígena, lutar pelos direitos dos pandas chineses ou protestar contra
um governo corrupto, a internet parece ser o lugar ideal e mais seguro. Ponto
para a tecnologia.
Num passado bem recente, a
juventude, responsável pelas principais mudanças revolucionárias da História,
ainda possuía uma atividade intensa em seus movimentos sociais. No Brasil
mesmo, as décadas de 1980 e 1990 foram palco de duas grandes manifestações
populares, lideradas pela juventude, que geraram resultados positivos para a
questão democrática. Mesmo quem não teve a oportunidade de participar, com
certeza conhece a campanha pelas “Diretas Já” e os “caras-pintadas” que
ajudaram a derrubar o então presidente Fernando Collor.
Hoje, além das diversas
mobilizações virtuais, os jovens também vão para as ruas em ocasiões especiais.
No entanto, os motivos são outros. No começo desse mês tivemos um claro exemplo
disso. Em “comemoração” (?!) ao Dia de Finados, centenas de jovens (inclusive
em Divinópolis) tomaram as ruas e pintaram suas caras. Não, não era um protesto
contra a desigualdade social, contra a corrupção ou em defesa de uma causa
ambiental. O motivo é chamado de “Zombie Walk Day”, ou seja, uma imitação de
uma tradição estadunidense em que as pessoas, em referência aos “mortos-vivos”,
se vestem e se maquiam com temas de terror. E tem havido, ainda, uma outra
grande mobilização na cidade nos últimos anos. Trata-se da Guerra de
Travesseiros (Pillow Fight Day), que reúne a “nata” da juventude virtual em
alguns dos poucos momentos de contato físico. Esta é a diferença entre as
mobilizações de ontem e de hoje.
Não é preciso ser psicólogo
ou analista social diplomado para perceber o quanto essas mudanças estão reinventando
a forma de relacionamento entre as pessoas. O tema é extremamente amplo e as
discussões são muitas para caber neste espaço. Até mesmo porque não só de
coisas ruins é feito o ambiente virtual. O polêmico blog “Diário de Classe”,
feito pela adolescente catarinense Isadora Faber, é um exemplo disso. Ela
utilizou a internet como forma de denúncia para os problemas encontrados na
estrutura escolar. Mas, nesse caso, a rede é usada apenas como ponto de
partida, e não de chegada.
Já que atitudes como essa
são infinitamente mais raras do que os protestos virtuais, fica a esperança de
que a juventude entenda que há vida além da net. E, principalmente, que
aproveite as oportunidades que a rede mundial de computadores gera para iniciar
as mobilizações, mas não para terminarem ali. É fato que fazer o milésimo gol sentado
na mesa de um bar, no conforto de um sofá ou em frente ao computador é mais
fácil. É por isso que, apesar das críticas, Túlio Maravilha é um sujeito a se
admirar. Afinal, tentar fazer o milésimo gol em um campo de verdade exige mais
talento e vontade do que fazê-lo no Playstation.
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