segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cultura caça-níquel

Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
 

 
 
Cena comum hoje em dia é ver adolescentes carregando para cima e para baixo livros enormes com enredos sobre guerras entre humanos, “elfos” e demais criaturas estranhas nos chamados “reinos distantes” ou encantados. Aliás, não é de hoje que a procura pela literatura fantasiosa desperta atenção na população. Em menos de uma década tivemos o auge de histórias sobre jovens bruxinhos e ainda sobre os vampiros, que voltaram a ficar na “moda” depois de certo tempo esquecidos. O que vale a pena analisar, nesses casos, é como a mídia consegue impor produtos “culturais” e, de certa forma, estabelecer os padrões de gostos que moldam uma geração inteira.

Esse aparato midiático não se resume à literatura. A consequência imediata deste boom reflete-se também em outras mídias como nas revistas, na TV, no cinema e na internet. Parece que é tudo planejado. Basta uma obra literária começar a fazer sucesso que surge a notícia de que seus direitos foram vendidos para a produtora X e que, em breve, começa a ser produzido o filme referente ao livro. É neste ponto que os preguiçosos se deleitam. Ao ouvir falar que determinada história vai acabar nas telonas, pensa-se: “Para que gastar meu tempo lendo um livro se em breve posso assistir ao filme?”

E assim vai sendo moldado o gosto de toda uma geração. Seja na literatura, no cinema, na TV, na música, o que importa é estar por dentro do que a mídia impõe e ter os discursos prontos na ponta da língua. Sair fora disso é perda de tempo e faz com que o adolescente seja visto como um “estranho no ninho”. Em um período tão conturbado da vida, em que o sujeito busca sua afirmação perante a sociedade, o trauma de sair fora desse caminho pode ser catastrófico. Então, resta sucumbir ao desejo popular e gostar de tudo o que vem sendo imposto. Yes!

As empresas de entretenimento é que vibram com essa situação. Sabendo que sempre haverá demanda por esse tipo de produto cultural midiático massificado, os investimentos se multiplicam na certeza de que um futuro promissor virá por aí. E geralmente vem. Como estratégia certeira basta apostar no que está “na moda” e nadar em piscinas de lucro depois.

Há tempos não muito distantes uma das principais críticas dos estudiosos da chamada “Indústria Cultural” dizia respeito ao famoso “jabá”, referenciando as influências econômicas e políticas que faziam com que determinados artistas estivessem sempre nos primeiros lugares entre as músicas mais tocadas pelas rádios. A prática, tão antiga quanto o próprio meio, deixou de ser tão discutida com a chegada da internet e a suposta democratização do acesso à cultura. No entanto, apesar da real oportunidade do sujeito buscar na rede mundial de computadores algo diferente do estabelecido pelo mainstream, fica claro que esta não é uma opção válida, ao menos se ele quer manter as aparências de sociabilidade. Então, tome sertanejo universitário, funks e todo e qualquer tipo de compartilhamento de lixo cultural.

O alemão Walter Benjamim, na primeira metade do séc. XX, já enunciava a “morte da aura” artística devido a sua possibilidade de reprodução em larga escala. Talvez hoje ele tivesse que ser internado em um manicômio, por não suportar ver a oportunidade desperdiçada pelas pessoas que, com acesso quase irrestrito a um gigantesco universo cultural via internet, preferem consumir o que lhes é imposto pela mídia sem a mínima crítica. Esses tempos modernos...

Por fim, fica a receita para os pseudoempreendedores culturais em busca de retorno rápido: procure um tema que não vem sendo tratado há algum tempo (algo como um grupo de jovens japoneses que se transformam em super-herois e lutam contra o mal, bem “anos 80”), produza um best-seller (até mesmo porque eles já são produzidos por encomenda), venda logo seus direitos cinematográficos e, claro, não se esqueça de preparar os dois sucessores para formar uma trilogia. É sucesso garantido! Não foi assim com os elfos, os vampiros, os bruxinhos alquimistas? Creio que uma versão contemporânea de Jaspions, Changemans ou até mesmo Power Rangers pode sim “causar”! Afinal, neste mercado o que vale é entregar produtos revisitados de digestão fácil, certo? E viva Lavoisier com seu “nada se cria, tudo se transforma!”

 

 

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