Bernardo
Rodrigues Espíndola
Jornalista,
Especialista em Filosofia, Mestre em Teoria da Literatura. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de
Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Engenharias.
“Protestos virtuais”. Este foi o
título de um artigo publicado pelo colega professor e jornalista Ricardo
Nogueira sobre a atuação crítica da juventude nas redes sociais digitais. E foi
quando li o texto do Ricardo que decidi escrever um pouco sobre essas novas
formas comunicação que surgem com a internet e seus hipertextos, neste mundo de
simulacros, hiperrealidade e hiperatividade.
Às vezes, parece que a linguagem
passa mesmo por um esvaziamento do sentido, uma desconexão cada vez maior entre
o discurso e o mundo atual. Enquanto isso, as pessoas tornam-se cada vez mais
dispersas, desengajadas, desatentas. Nesse sentido, até que ponto podemos falar
de uma consciência crítica que se fortalece com a internet? Se é que podemos
falar em fortalecimento de alguma crítica... O que percebo em ambientes como o
Twitter, Facebook etc. é mais um processo de “fetichização” da crítica do que
mesmo uma crítica.
Vemos cada vez mais a proliferação de
um discurso que gira em torno de si mesmo e se sobrepõe à realidade ou a uma
efetiva ação, além da ação de dizer e expor uma indignação. O importante parece
que é mesmo ir para a internet, “rodar a baiana” e esperar que mais gente entre
na roda. Se bombar, já valeu o protesto.
Pior ainda é o protesto e a
mobilização virtual em defesa do imbróglio. É o caso da campanha do voto nulo,
que, como tantas outras semelhantes, circulou pelo Facebook. A campanha
incentivava o voto nulo com o argumento de que, se mais da metade dos eleitores
anulasse o voto, haveria novas eleições. Falácia pura. Isso não está previsto
na lei; e, se estivesse, que vantagem traria? Por outro lado, a internet tem
permitido uma onda de denúncias irresponsáveis, quase sempre mentirosas, que se
escondem por trás do anonimato virtual para promover difamação e injúria. Seria
essa a contribuição da internet para a Democracia? Isso é um atentado à
Democracia, cada vez mais praticado no Brasil inteiro e que não se limita aos
sites de relacionamento.
O fato é que a reclamação vigora; os
protestos virtuais pululam. E a crítica responsável, coerente, sensata torna-se
cada vez mais rara. Fica o discurso sem fundamento, girando em torno de si
mesmo – fica o fetiche da crítica. Isso me lembra o pensamento de Jean
Baudrillard sobre a espetacularização da realidade. Já que a distorção do
pensamento do filósofo francês já inspirou até filme (Matrix), pode render
alguma reflexão aqui também. Se Baudrillard mostra que, na cultura
contemporânea, os sistemas de signos operam no lugar dos objetos, o que vemos
nos “protestos virtuais” não é algo muito diferente: é o discurso da
mobilização no lugar da mobilização – a crítica convertida em espetáculo.
Nesse cenário, não importa se a
crítica tem fundamento ou não, se a denúncia é verdadeira ou não, se as
propostas são viáveis ou não. O que importa é criticar, denunciar, protestar e
tornar-se um espetáculo. O que importa é a próxima atualização do perfil e suas
respectivas curtidas, compartilhamentos, comentários etc. Atualmente, busca-se
mais a proliferação de um discurso de protesto do que o seu resultado. Esse
efeito viral quase sempre não garante resultado nenhum além de mais uma moda
fugaz que se dissolve em poucos dias.
Não se pode generalizar, claro.
Afinal, casos de sucesso de flashmobs e outras ações que saem
da internet para as ruas existem aos montes por aí. É o caso dos desfiles de
fantasiados, guerras de travesseiros e outras festas que mostram que as redes
sociais não são apenas digitais, elas extrapolam a internet, especialmente quando
não tem função nenhuma além da simples diversão e entretenimento. Como tantos
protestos online, elas esgotam-se em si mesmas e revelam mais uma
vez que o que importa é mesmo “curtir”.
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