quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Conversa de consumo – parte 01


 
 
                                             
 

Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica.Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.


 

Em minha época de Faculdade, me lembro bem de um texto sobre a “Cultura do Consumo e Pós-Modernismo”, de Mike Featherstone. Isso já faz mais de 10 anos e a obra é de 1995. O interessante disso tudo é que seu conteúdo continua atualíssimo e, cada vez mais, é perceptível como a ênfase no consumo instantâneo e imediato prevalece em nossa sociedade contemporânea. Longe de pretender estabelecer verdades e teorias, essa conversa pretende refletir sobre as causas e os efeitos dessa supervalorização do ter em detrimento do ser (ou do conhecer).

 

O mais interessante é que, de geração em geração, de tempos em tempos, mudam as marcas, mudam os interesses, mas a “necessidade” de consumir continua a mesma. E, hoje em dia, com a facilidade da internet, esse hábito pode se tornar um vício. Basta um clique e pronto: você consegue comprar roupas, periféricos de computadores, perfumes, viagens, sessões de drenagem linfática, carros, casas, entre outros. E aí, aliadas às possibilidades de crédito, as dívidas vão se acumulando até formarem uma bola de neve.

 

No último domingo, após a vitória do Corinthians no Mundial de Clubes da Fifa, pipocaram piadinhas sobre os torcedores da Fiel. Estereotipados como malandros e “manos”, as zoações focavam no fato de que os corintianos estão, agora, menos preocupados com a conquista do clube e mais em saber o que fazer para quitar os carnês da CVC. Se existe um fundo de verdade na gozação, mais uma vez a sociedade do consumo se faz presente. Viajar para o Japão e ir acompanhar seu time na Final do Mundial de Clubes é fácil. Difícil é quitar as dívidas.

 

Ainda dentro do futebol, tema frequentemente abordado por aqui, outras duas atitudes me chamam bastante atenção. A primeira diz respeito ao valor dos ingressos dos novos estádios ou “arenas” multiuso do Brasil, remodelados em virtude da Copa de 2014. Além de todas agora possuírem cadeiras no lugar dos tradicionais assentos cimentados da arquibancada, os preços dos ingressos dispararam. Me assustei com a venda antecipada dos ingressos para a partida que será disputada no Mineirão na primeira fase da Copa das Confederações em 2013. Mesmo com preços na casa dos “centos”, foram esgotados em menos de 24h após o início das vendas. Tudo bem que é raro assistir a uma partida entre duas seleções internacionais em BH, mas será que vale mesmo gastar boa parte do salário só para dizer que foi?

 

Isso sem falar na possível elitização de todo o contexto que envolve os estádios, tradicionais redutos da testosterona. Lembro-me que ir ao Mineirão significava descarregar no juiz todos os palavrões que queria falar para o chefe. E, para tal, era necessária quase uma preparação espiritual, que começava na combinação da carona, na zoação e nos cantos no caminho do estádio, além, é claro, do famoso tropeiro com aquela cervejinha gelada. Aí, na hora do gol, se abraçava quem estava do lado, indiferente da cor, gênero, religião – só importava a paixão pelas mesmas cores de futebol. Com as mudanças, talvez as pessoas passem a assistir às partidas assentadas, balançando seus lenços de seda coloridos e saboreando croissants de ricota com espinafre, acompanhados por uma taça de frisante.

 

A outra atitude refere-se ao valor gasto nos materiais esportivos oficiais dos clubes. Ainda quero muito entender (quem sabe um dia não exista um estudo científico sobre isso?) o que leva uma pessoa a gastar mais de R$ 200 em uma camisa oficial do clube, mesmo sabendo que ela deverá “perder a validade” em menos de um ano? Isso sem falar nos outdoors ambulantes em que as camisas vão se transformando, com patrocínios percorrendo praticamente toda a extensão de pano disponível. O escudo do clube vira quase um minimalismo, um enfeite para uma espécie de abadá de micareta.

 

Mas, no mercado do consumo, tudo é possível. O que vale é possuir, participar e, principalmente, mostrar para os outros o que se fez. Na próxima semana continuamos nessa conversa sobre o consumo desenfreado.

 
 

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