quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Conversa de consumo – parte 02

 
 

Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica.Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
 
Em continuidade ao tema da última semana, nada melhor do que voltarmos a falar sobre a sociedade do consumo em pleno Natal. É incrível como a “magia” da data motiva todos a gastarem bastante, às vezes mais do que podem, para não ficar de fora do “espírito” natalino. Nada contra presentear as pessoas de quem se gosta, que merecem, especialmente as crianças, que ainda – em poucas e boas exceções – se esforçam em ser bons meninos à espera do presente do bom velhinho. O que tem mudado nos últimos anos é o foco: tanto sobre “o que” se dar, passando pelo “como” adquirir e terminando no “quanto” se pode gastar.

 

Novamente vêm as lembranças e a nostalgia de ser uma criança na década de 1980. Quem, nessa época, não aguardou e desejou com toda força receber uma camionete, de plástico, alaranjada, no dia 25 de dezembro? Além dela, lembro bem de já ter desejado ganhar um velotrol imitando a Lotus preta do Ayrton Senna, alguns bonequinhos do Comandos em Ação e até mesmo um disco (vinil) do Trem da Alegria ou Balão Mágico. O que dá para notar é que, nessa época (como se fosse tão distante assim), as crianças ainda gostavam de ganhar presentes de criança.

 

Hoje, no entanto, alguns valores estão invertidos. Claro que ainda há aqueles garotos e garotas que sonham com presentes infantis, mas há uma crescente tendência que aponta para a inclusão de objetos de desejo do mundo adulto cada vez presentes no universo das crianças. Como se vê nas reportagens sobre a economia nessa época, os presentes “vedetes” neste ano são os tablets e smartphones. E acredite: grande parte deles será destinado a um menino ou menina que, antes mesmo de ser alfabetizado(a), já saberá como curtir e compartilhar uma foto nas redes sociais virtuais. Sinal dos tempos? Não sei.

 

A forma como os presentes são adquiridos também mudou bastante. Apesar de ser uma verdadeira aventura caminhar pelas ruas das cidades nessa época devido ao excessivo volume de pessoas no trânsito (a pé ou de carro), é notável como a “comodidade” da internet tem alterado o hábito de compra das pessoas. Impressionam alguns dados de pesquisas que apontam um crescimento assustador no número de aquisições feitas por meio da rede de computadores. Devemos lembrar que os números não abrangem toda a sociedade, mesmo porque, por mais incrível que pareça, ainda existem pessoas que não têm acesso regular à internet ou sequer a conhecem.

 

Mas se o foco estiver sobre as pessoas da classe média (a tão falada classe C), os números mostram que a grande maioria dos usuários da rede faz regularmente compras pela internet. Nessa hora, a da empolgação, esquece-se até mesmo de cuidados básicos de segurança na exposição de dados em sites pouco confiáveis. Aí depois vem o problema de cartões clonados, dívidas não reconhecidas e todo tipo de dificuldade que as instituições financeiras devem rezar para não acontecer.

 

No entanto, com tantas ofertas de sites de descontos e compras coletivas, quem resiste a comprar uma viagem em pleno verão para relaxar nas águas quentes de Caldas Novas? Ou pegar um ticket (aliás, voucher) de desconto em um restaurante na capital, mesmo sem ter ido lá uma vez sequer? Não dá para resistir. Mesmo que não use – e nem vá usar o bem ou serviço adquirido –, o que não pode é perder a oferta.

 

E é aqui que finalizo esse papo: a relatividade do “quanto” se pode gastar. Afinal, custo e valor são critérios extremamente subjetivos. Luto diariamente para entender o que faz uma pessoa a economizar (!?) para um passeio de férias, comprando uma viagem nesses sites de compras coletivas sem ao menos saber o destino e o que lhe espera (na maioria das vezes uma surpresa negativa, pois exibir fotos esplêndidas de um paraíso é fácil). E, ao mesmo tempo, essa pessoa paga 10 vezes mais no valor de uma camisa – igual a outra básica – apenas porque ela tem um escrito de uma marca que virou hit de uma hora para outra e está mais batida do que caipirinha (A Hollister e Abercrombie agradecem a preferência). Cada um, cada um...

 

Desejo a meus leitores um Feliz Natal e um momento bem interessante de reflexão. Agora, se me dão licença, tenho que responder minhas felicitações natalinas de amigos virtuais que nunca vi, mas que insistem em desejar o bem a toda a humanidade nesse período.

 

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