terça-feira, 4 de outubro de 2011

O futebol como exemplo – lições do marketing esportivo

Ricardo Nogueira
Professor nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda.
Faculdade Pitágoras - Divinópolis - MG


Apesar do momento conturbado que o futebol brasileiro passa, o esporte que movimenta a nação tupiniquim tem lições muito importantes para o ambiente empresarial. No entanto, mesmo com um cenário promissor nos próximos anos, o esporte brasileiro ainda carece de profissionais qualificados para lidar de forma séria e honesta com algo intangível, mas que, como todas as grandes marcas, vendem um patrimônio inestimável: a paixão. Não aquela paixão fugaz, que acende e se apaga com a mesma velocidade, mas uma paixão que dura toda a vida. É sobre isso que vamos falar hoje: como as os clubes/empresas podem (e devem) criar e usufruir de clientes/torcedores pela vida toda.
O Brasil está sendo visto com outros olhos pelo resto do mundo. A economia, de certa forma, estável, as riquezas naturais e o incremento do consumo pela celebrada classe C despertam nos investidores estrangeiros sentimentos otimistas. Além disso, não podemos desprezar o fato de que o país abrigará, em breve, dois dos maiores eventos esportivos mundiais: a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Com lados positivos e negativos, não podemos negar, tais celebrações são uma oportunidade de ouro para que o esporte se profissionalize, o que pode deixar um legado importante para as próximas gerações.
Além de equipar as cidades-sede com infraestrutura invejável na mobilidade e em centros esportivos de primeiro mundo, as competições internacionais configuram-se uma oportunidade ímpar para a profissionalização dos clubes e entidades esportivas no que diz respeito a gestão e marketing. Não faltam matérias comparativas entre as formas de administração dos clubes de futebol brasileiros e ingleses, italianos ou espanhóis, por exemplo, e em todas elas fica claro que o sucesso não se trata de uma questão de paixão dos torcedores (que, guardadas as proporções, é a mesma em todos estes países), mas sim da forma de gestão do futebol profissional.
O futebol brasileiro tem diversas características que o fazem destacar no cenário mundial: celeiro de craques, tradição em campeonatos internacionais e clubes com torcidas compostas por milhões de torcedores. Para se ter uma idéia, o número de torcedores de Flamengo e Corinthians é maior do que a população de vários países. O problema mora justamente aí: ao invés de utilizar isso para o bem, os clubes “ignoram” este fato de ter milhões de clientes/torcedores apaixonados, capaz de fazer loucuras em nome deste “amor”.
O objetivo de toda e qualquer empresa é ter o chamado cliente fiel, aquele que não tem dúvida sobre qual marca consumir sempre que precisar de um determinado produto ou serviço. Os clubes, por sua vez, têm estes clientes fiéis e não utilizam disso para benefício próprio. Um atleticano, por exemplo, salvas raríssimas exceções, vai ser atleticano (e, com isso, um potencial consumidor de produtos ligados ao Clube Atlético Mineiro) para o resto da vida. E uma forma como isso pode gerar receita é em relação a produtos licenciados. Enquanto os grandes clubes europeus faturam milhões de dólares e euros com a venda de produtos (de camisas a canecas, passando por adesivos e canais por assinatura, entre outros), os times brasileiros ainda engatinham neste sentido.
No entanto, a mudança na gestão dos clubes nacionais demanda profissionais qualificados e especializados para tratar da paixão nacional – mas gerir sem paixão, se é possível. É neste cenário que os administradores, comunicadores e profissionais de marketing podem se dar bem. Recente reportagem no “Estado de Minas” falava justamente sobre o fato do Estado não ter mão-de-obra especializada para a gestão de recursos, pessoas, comunicação e relacionamento com os públicos de interesse dos clubes. Portanto, a hora de se especializar é agora.
E para quem pensa que este papo é só teoria e que no Brasil é impossível fazer uma gestão profissional, indico pesquisar um pouco a respeito da administração do Sport Club Internacional de Porto Alegre (RS). A mudança na forma de gerir o clube rio-grandense vem trazendo conquistas significativas nos resultados financeiros e de marca do time, o que reflete positivamente dentro de campo. Afinal, o clube foi recentemente campeão dos dois principais torneios do mundo (Bi da Libertadores da América e Copa do Mundo de Clubes) e, com certeza, a forma de administrar a equipe favoreceu os resultados. Não cabe falar aqui de todas as estratégias de marketing do time – que vão de um projeto bem feito de sócio-torcedor a participações em torneios internacionais para projetar mundialmente a imagem do clube –, mas sim de mostrar como é possível ter resultados positivos graças a uma gestão profissional.
Assim como as empresas, as agremiações de futebol brasileiras devem ser geridas de forma competente e profissional. É pensar em uma troca: que os clubes aprendam a administrar como as empresas privadas, em busca de resultados certos, e que as organizações consigam clientes/torcedores tão fiéis e apaixonados como os times têm e passem a ver o esporte como um investimento com retorno certo para a consolidação de suas marcas. Só assim os brasileiros poderão usufruir, na prática, de todos os sonhos que envolvem a realização dos grandes eventos esportivos no país. Profissionalização. Esta é a palavra-chave para tudo acontecer.

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