segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ser jornalista é...

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras/Divinópolis



"Hoje e sempre ser jornalista é tentar ser uma testemunha do seu tempo. Essa é nossa humilde tarefa. Não é ser juiz, promotor. Atualmente, temos uma tendência de julgar e até condenar. Quanto mais complexa a sociedade, mais se exige esse papel do jornalista". Esta frase do respeitado jornalista e escritor Zuenir Ventura descreve, em frases rápidas e bem coerentes, a linha que divide os papéis desempenhados pelo jornalista em nossa sociedade. Principalmente no Brasil, onde a carência de confiança em instituições públicas como o Governo e a Justiça faz do jornalista um guardião dos direitos mais básicos da sociedade. Na verdade, o jornalista é, de fato, o guardião unicamente do direito à informação qualificada, verdadeira e isenta. E é aí que vivenciamos uma inversão de valores muito perigosa para a democracia e muito cômoda para quem, de fato, deve zelar oferecer essas condições à sociedade.

Ser jornalista é saber persuadir, seduzir. É ser um contador de histórias de forma que atinja seus objetivos: informar, sem ter medo de nada nem de ninguém. É aventurar-se no desconhecido, desafiar o destino, questionar insistentemente aquilo que é imposto sem resquícios de lógica ou explicações. É abrir caminhos, desbravar e ter sempre a curiosidade aflorada. É ter o dom da palavra e, às vezes, a sabedoria do silêncio. É dominar o perigo, enfrenta-lo e destruí-lo. Perguntar, perguntar e perguntar... É saber que entre um furo e outro de reportagem haverá muitas coisas no caminho. É saber que a vivência advinda de cada reportagem, de cada pesquisa ou entrevista irá compor um belo álbum de experiências que ninguém terá a capacidade de tirá-lo. 

A profissão de jornalista exige do profissional o conhecimento e a técnica de saber trabalhar com as diferentes formas de captação e difusão da notícia. A comunicação é um campo do conhecimento muito amplo, que incorpora o receptor no processo de transmissão da mensagem. Ser jornalista, nos dias de hoje, é abrir canais para a interatividade. Entender que os receptores de hoje, fatalmente, podem se transformar em fonte de informações. Ser jornalista é ter o dom do bom relacionamento, evitando conflitos pessoais que podem interferir na apuração futura de uma reportagem. Pela conjuntura, o jornalista continua como principal defensor da liberdade de expressão e analista dos acontecimentos diários. Mas é preciso deixar claro que esta é uma consequência, e não uma causa.

Percebo uma dificuldade cada vez mais constante de se definir realmente o que é notícia nos meios de comunicação e de como mostrá-la de forma verdadeira e clara, deixando de lado todas as convicções e pré-conceitos (que todos temos) e se concentrar naquilo que é apurado e verificado. No jornalismo ético e feito com responsabilidade, principalmente com o cidadão, só há lugar para opiniões em colunas, artigos e editoriais. E isso, claramente, não vem acontecendo na cobertura desses casos que abordam crimes, principalmente naqueles que envolvem pessoas famosas. Um erro que vem da base do nosso jornalismo, mas que precisa urgentemente ser revisto. Jornalista não é delegado, juiz ou qualquer autoridade jurídica.

Muito se tem debatido sobre o futuro do jornalismo nesta nova era em que todos são capazes de produzir e consumir informações ao mesmo tempo. Após um século de estagnação nas formas de produção e consumo de notícias, baseadas principalmente no predomínio de poucas plataformas de disseminação das informações (basicamente rádio, TV e impresso), vivemos um momento de redesenho dos formatos e das plataformas tecnológicas. Neste novo cenário, o jornalismo ganha ferozes “concorrentes”. Mas, como em qualquer outro segmento, a concorrência é salutar, ao contrário do que muitos pensam, é extremamente benéfica para o jornalismo, uma vez que obriga empresas e profissionais e se qualificarem e oferecerem diferenciais que garantam, entre outros atributos, a credibilidade, aceitação, penetração e, acima de tudo, qualidade na apuração e a construção da notícia. Ou seja, esta nova concorrência cria um cenário em que profissionais sem qualificação e que não possuem diferenciais se percam em um oceano imenso a ser desbravado, mas que necessita de marinheiros competentes e dispostos ao risco. Lembrando que a disposição pelo risco eleva as possibilidades de sucesso em qualquer carreira.

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