terça-feira, 22 de março de 2011

Denuncismo

Laura Aguiar
Jornalista
Professora dos cursos de Jornalismo da Faculdade Pitágoras/Divinópolis-MG


A palavra denúncia nunca esteve tão presente em nossas vidas como agora. Pode consultar qualquer veículo de comunicação e você encontrará pelo menos uma vez. Aqui mesmo, onde você me lê, deve ter estampado em algum lugar, a palavra com origem no latim.

Minha observação vem do acompanhamento diário da imprensa em suas várias formas de apresentação. Há uma onda de denuncismo vigorando por aí. Mas não é uma febre, creio eu. Febre vem e vai embora. Dessa vez, trata-se de doença crônica. Isso ocorre, entre outros motivos, porque nos sentimos, como povo e cidadão, mais livres, desejosos de usar todas as prerrogativas de uma democracia. Sob esse ângulo a publicação das denúncias pode ser positiva.

Somos, enquanto jornalistas, responsáveis por dar visibilidade àquilo que é velado por se tratar de coisa errada, fugidia dos padrões socialmente aceitos. Tal prática também pode refletir a valorização do ser humano, indivíduo como fonte de informação. Uma tendência fortemente referendada pela internet com as publicações de post, blogs, tweets e afins. Todos nós podemos deixar aflorar nossa porção adormecida de jornalista e por isso a quantidade de fatos que têm o tom de denuncismo. Vazão da indignação representada vez ou outra em filmes e novelas.

Entretanto é preciso ver tudo com dois pesos e duas medidas. São dois problemas: um é a denúncia vazia e irresponsável feita muitas vezes com avaliações pessoais e sem base em critérios jornalísticos. Nesse caso, vemos, lemos, ouvimos, acessamos imitações de reportagens com denunciantes sem nome, fatos duvidosos e até provas questionáveis. O segundo problema é que quanto mais vigora práticas deste tipo mais descrédito paira sobre a profissão. É a história da parte pelo todo. Profissionais inescrupulosos acabam manchando outros tantos jornalistas que apuram os boatos, enumeram provas e depoimentos com o objetivo de esclarecer, explicar e clarear um boato na tentativa de torná-lo noticiável. Pode parecer utópico, mas defendo que o consumidor de informação não é inocente. Ele sabe diferenciar o bom jornalismo do resto. Essa sim é uma boa dose de tranquilidade para todos nós, nos dias atuais.

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