terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eleições sem maquiagem


Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.



É na reta final das eleições que tudo se decide. Os indecisos resolvem “vestir uma camisa”, os quase decididos têm a chance de mudar o voto e aqueles fervorosos defensores de determinada candidatura fazem de tudo para convencer os amigos, parentes e vizinhos a fazer a mesma escolha que a sua. De dois em dois anos é o que ocorre. Mas, de quatro em quatro anos, quando as eleições ocorrem exclusivamente em nível municipal, é que o espetáculo desperta paixões, raivas e sentimentos ao extremo, por envolver de perto o interesse da população.

Neste ano não é diferente. Na última semana pipocam pesquisas apontando que um candidato X será eleito, ou que o concorrente está subindo nas intenções de voto. É, ainda, o momento do “vale tudo” nos programas eleitorais obrigatórios de rádio e TV. Aqueles “segredos” que estavam escondidos debaixo dos panos vêm à tona e a baixaria rola solta pelo ar. Neste momento, os tratos de “respeito” ou de “bom senso”, se é que eles existem, vão para o ralo e qualquer argumento é válido para convencer aquele eleitor indeciso, ou para mudar o voto de quem não está tão certo de sua escolha.

Nesta estratégia, vale muito a pena ver o último programa do horário eleitoral. É certo que todos os candidatos, depois de tanto “bater” nos adversários, vão aparecer ao lado de suas famílias, abraçando crianças e pobres, e provavelmente participando de alguma cerimônia religiosa – é claro, pois não basta convencer pelos argumentos, tem que mostrar que é fiel a Deus e que Ele vai dar um jeito em todos os problemas vividos pelos menos favorecidos. É batata! Caso isso não ocorra na próxima sexta-feira podem mandar um email cobrando...

Tudo isso é tão previsível porque o marketing político, apesar de ter evoluído bastante, mantém os mesmos princípios desde que começou a ser utilizado pelos norte-americanos, na década de 1950. Fazer o candidato ser mais “simpático” do que realmente é, estimulá-lo a falar a linguagem do povo, abraçar criancinhas e mendigos, entre outras ações, são mais velhas do que andar para frente. E o pior é que, apesar disso, ainda funciona. Por isso, entra eleição e sai eleição nos deparamos com as mesmas promessas faraônicas de sempre, os mesmos discursos de “fazer diferente”, os mesmos “papagaios de pirata” posando ao lado dos candidatos numa promessa de ajuda para o bem das cidades – ajuda essa que dura não mais de 6 meses, porque depois devem rever seus “apoios” devido ao cenário político estadual ou nacional.

E o povo, aliás, o eleitor, acredita nestas promessas quase natalinas e deposita seu “voto de esperança” em um produto do marketing que, provavelmente, terá muita dificuldade em ser tão bom, honesto e amigo de todos quanto no tempo do pleito.

No entanto, a reta final das eleições é também um dos poucos momentos em que o eleitor tem a oportunidade de conhecer os candidatos “sem maquiagem”. É o período dos debates transmitidos pela TV. Sei que, assim como eu, algumas pessoas acreditam que seria muito melhor oferecer mais debates e menos programas eleitorais “maquiados” para que o eleitor tivesse condições de fazer a sua escolha de forma mais acertada. A única coisa negativa é o horário em que os debates vão ao ar. Por volta das 22h30, 23h, grande parte da população já está dormindo, pois precisa acordar cedo no outro dia para trabalhar. Mas isso é papo para outra hora.

É no debate que os candidatos ficam “cara a cara” e têm a possibilidade de questionar uns aos outros sobre as promessas faraônicas e determinadas declarações sem fundamento técnico. É, ainda, a chance dos postulantes aos cargos públicos terem um tempo igual para a proposição de suas ideias, diferente do horário eleitoral, que divide o tempo de exposição de acordo com as bancadas partidárias no Congresso Nacional – o que, a meu ver, não torna justo o processo.

Ao ser questionado sobre um tema sobre o qual a sua assessoria política e de comunicação (os verdadeiros candidatos, pois são quem de fato elaboram as propostas) não lhe deu argumentos, o candidato fica perdido e pode levar tudo a perder. Falar sem a possibilidade de edição e ao vivo é excelente, para o eleitor, por isso: mostra a realidade. Mostra quem é quem, qual o nível de controle emocional de cada postulante e melhor, faz com que o verdadeiro debate de ideias aconteça. Portanto, a dica para os eleitores é acompanhar os debates eleitorais antes de decidir seu voto. Com certeza vai fazer a diferença.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário