Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior,
MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e
Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo,
Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
Já discutimos outra vez,
nesse mesmo espaço, que um mau hábito dos brasileiros diz respeito ao baixo
índice de leitura. Na ocasião, tal fato foi enunciado como um dos responsáveis
pelo sucesso dos jornais populares, que estão mais fortes a cada dia. Hoje, no
entanto, vamos continuar tocando nessa “ferida”, mas de outra forma: quando
leem, o que os brasileiros andam lendo?
Para quem não sabe, um dado
importante é que no ranking das 10 revistas mais lidas do país, sete, nada
menos do que sete tratam de fofocas, ou melhor, da vida interessantíssima das
celebridades e pseudofamosos. Com exceção das semanais Veja, Época e Isto É, as
demais 7 posições da lista das 10 mais lidas do país são ocupadas pelos
seguintes títulos: Caras, Viva Mais,
Ana Maria, Contigo, Tititi, Minha Novela e Malu. Percebe-se, pelos títulos, que
são revistas importantíssimas e que conseguem levar a seus leitores informações
de verdadeiro interesse público.
É
por dados como esse que às vezes me questiono se estou no país ou na profissão
errada (ou será nos dois?). Como pode um país que tem um bom jornalismo, bons
repórteres, bons escritores e bons títulos ser tão superficial assim? Não
possuo os dados, mas acredito que na mesma linha da preferência editorial estão
os programas televisivos destinados ao entretenimento puro, à fofoca ou a
conteúdos sem a devida importância.
Nos
livros o resultado é parecido. Basta analisar as listas dos mais vendidos
divulgadas semanalmente nas principais revistas do país e verá a forma como se
compõe o gosto nacional. Autoajuda, ficções “da moda” e biografias de famosos
predominam ano após ano. Isso num país que possui grandes poetas e escritores.
Talvez isso ocorra por problemas de educação (e falta de). Vou explicar melhor.
Um
dos problemas da educação é que as crianças, na fase escolar, são “obrigadas” a
lerem obras sobre temas que não gostam ou com linguagem inapropriada para sua
idade. Apesar de não ser psicólogo nem pedagogo, minha pequena experiência com
a docência me prova isso da forma mais prática possível: o que não envolve não
se aprende. E o que não se aprende costuma causar arrepios e desgostos eternos
em que é “obrigado” a fazer.
Por
isso, forçar os alunos a lerem obras de escritores como Machado de Assis,
Graciliano Ramos, José de Alencar, entre outros, em um período em que eles estão
mais preocupados com outras coisas contemporâneas, costuma causar traumas para
o resto da vida. Nada contra oferecer essas leituras aos alunos. Pelo
contrário, sou um grande defensor da leitura e sei a importância que ela tem
para a formação de qualquer pessoa. Mas “obrigar” uma criança ou adolescente a
ler uma obra que ela não se interessa e nem mesmo entende o sentido é dar murro
em ponta de faca.
Já
o outro problema, cultural e histórico, e por isso mais difícil de resolver,
diz respeito à falta de educação. Não vou nem comentar sobre a digitalização do
mundo e o fato de o hábito da leitura estar sendo deixado de lado em virtude da
dependência infanto-juvenil pela internet, pois esse assunto por si só já daria
um livro. E como ninguém tem mais paciência de ler... Quando falo de falta de
educação quero dizer sobre a falta de hábito e incentivo que as crianças têm,
ainda dentro de casa, para a leitura. Hoje em dia é muito mais prático deixar
os filhos serem “educados” pela TV do que “gastar um tempo” lendo para eles ou
conversando sobre literatura. É também mais cômodo dar um tablet para que ele
desenvolva sua capacidade de buscar boas leituras (?!) do que levá-lo a uma
biblioteca. E, assim, quando estes jovens, sem culpa, vão buscar algum tipo de
leitura, querem sempre o mais fácil, o mais rápido, o que dá para ler sem ter
que pensar muito. Isso explica um pouco o ranking das revistas e livros mais
vendidos do país.
Costumo
dizer para meus alunos que a melhor forma de escrever bem é ler, ler, ler, ler,
escrever, escrever, escrever e escrever. Para quem pensa que tal preocupação
sobre a falta de leitura é algo pessimista, apocalíptico ou que seus efeitos
ainda são muito distantes, deixo uma reflexão no ar. Repare a diferença nas
letras das músicas atuais e nas canções feitas antes de 1990. Será que não
teremos mais Chicos Buarques, Miltons, Caetanos, Gils? Será que temos que nos
contentar com Restart, Fernando e Sorocaba e outros dos novos gêneros? Será que
aqueles “caras” da hoje chamada MPB eram tão inteligentes assim do nada? Será
que é dom? Meus pais, que graças a Deus sempre me incentivaram a ler, me diziam
sempre: “Diga-me com quem andas e direi quem tu és”. Atrevido como sou, sugiro
a mudar o dito para: “Diga-me o que lês e direi qual o teu futuro”.
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