terça-feira, 29 de novembro de 2011

Comunicação, pós-modernidade e déficit de atenção

Bernardo Rodrigues 
Jornalista, especialista em Filosofia e Mestre em Teoria da Literatura.
Professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
da Faculdade Pitágoras/Divinópolis



Talvez a maior questão para a comunicação hoje seja a seguinte: até que ponto podemos contar com a atenção dos nossos interlocutores? No meio de tanta informação, quando é que alguém vai parar para se concentrar numa coisa só? Existe esse momento num mundo em que informações pululam o tempo todo entre smartphones, iPads, tevês a cabo, jornais, outdoors?

Nós vivemos um momento em que, ao mesmo tempo em que buscamos mais e mais informações, dispomos de menos e menos tempo para elas. Queremos tudo prêt-à-porter, ou melhor, pronto para consumir, e tem de ser fast, bem rápido. Diferente do sanduíche do fast-food a informação fast-food é aquela de fácil digestão, que não nos exija muito tempo, nem muito pensamento. Vemos isso na impaciência diante da televisão na hora dos intervalos, diante do vídeo que demora demais para baixar, diante do livro (que coisa arcaica!) que nos toma horas até que se conclua a leitura – isso quando não lemos a orelha e nos damos por satisfeitos, ou preferimos esperar sair sua versão para o cinema.

Quase todo mundo hoje dedica um tempo do dia para dar suas “twittadas”, publicar um novo vídeo no Youtube, postar algumas fotos em sua página no Facebook, cancelar o antigo perfil no Orkut (porque Orkut é coisa de um passado muito distante)... Enfim, já se tornou até lugar-comum falar das possibilidades comunicativas na contemporaneidade, de como a tecnologia tem propiciado novas oportunidades de vocalização, meios para expressar opiniões etc. Mas uma pergunta que intriga é: quem liga?

Enquanto a cultura contemporânea é cada vez mais complexa, nossas interações simbólicas  caminham exatamente contra a complexidade. O complicado não nos interessa. Queremos soluções imediatas, antes mesmo de conhecermos os problemas. Queremos linguagem simples e, de preferência, conteúdos leves, banais. Nos interessa o sabor, mais do que o saber.

Não existe comunicação se não houver um movimento convergente entre quem fala e quem ouve; sem a atenção do ouvinte, o falante não se comunica, por mais que fale. Hoje, o desafio para nós, comunicadores, é saber como interagir com um público cada vez mais disperso. Como informar, convencer, explicar algo para quem não está muito “aí” para essas coisas? Que hora vamos poder contar com “um minuto de sua atenção” numa era em que um minuto é tempo demais para se atentar a uma única coisa?

O déficit de atenção parece ser o maior sintoma da pós-modernidade. Nesse furacão informacional, ainda precisamos descobrir a melhor maneira de nos comunicarmos. Fiquemos atentos!

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