quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Facebook aproxima ou afasta as pessoas?

Vânia Vasconcelos
Publicitária, especialista em Marketing, consultora em Comunicação
Professora no curso de Comunicação Social Pitágoras - Divinópolis


Recentemente eu tinha achado um pouco estranho receber 200 mensagens de aniversário pelo FB (Facebook )e menos de 10% disso em telefonemas. Abraços e visitas pessoais, então, só mesmo de alguns amigos e familiares muito muito próximos. 

Mas receber a notícia do falecimento de uma amiga pelo mural de alguém foi muito mais chocante. E o restante das informações sobre o assunto vieram também via inbox, enquanto uma ligação (ou um SMS, no máximo), seria muito mais imediato, caloroso, humano. Várias mensagens de despedida foram postadas em sua página. Inclusive a minha. Sim, eu também escrevi um recado pra ela, num misto de negação e ilusão de que aquilo ali amenizaria meu desentendimento diante de tudo, já que um dia antes a gente havia se encontrado e feito planos tão próximos... Foi aí que comecei a refletir sobre o papel do FB... Sem dúvida, manifestações sinceras de carinho dos que ficam. Isso é inquestionável. Mas, em vez de compartilhar mensagens e fotos, cadê o abraço apertado para compartilhar a dor? Cadê alguém pra chorar com você? Cadê o conforto pessoal, o lado humano, o silêncio em companhia de alguém? O que questiono não é o desconforto da perda, mas o jeito de manifestá-lo.  A frieza em que o facebook vem transformando as relações. O quão cômodo é deixar recado em vez de olhar no olho e se expressar com a alma.

Tirando o peso deste acontecimento lamentável, as pessoas esperam que a gente fique 100% do tempo conectados ao FB (Facebook) e, se não estamos, somos meio induzidos a ficar porque informações importantes pra gente agora são repassadas por aqui. Até o pedido de socorro de um amigo que precisa sair do tédio no domingo é via inbox. Ou seja, se você vir a mensagem só no dia seguinte, corre lá pra conferir se o amigo sobreviveu à overdose de Rivotril, este sim, um recurso infalível para te afastar temporariamente da sua realidade insossa. 

O facebook nos contamina também de outras maneiras. Perdemos horas irrecuperáveis assistindo à vida alheia. Voyeurs de um cotidiano que te move sem direção. Descobrimos quem está sofrendo por amor através de citações literárias, quem está perdido por meio do excesso de posts, quem está sustentando um personagem contrário à vida real e quem está querendo dizer algo nas entrelinhas, mas não pode se revelar tanto diante de tamanha publicidade do FB. Repare que quando alguém ensaia assumir um estado de espírito mais deprimente o faz timidamente, com medo dos julgamentos. Mas, ao mesmo tempo, se alguém está te escondendo algo na vida real, fatalmente o Face vai denunciar. 

Aliás, julgar é o verbo mais praticado no FB (Facebook).  Se postamos fotos das nossas viagens, somos considerados “esnobes”. Se não respondemos uma marcação a tempo, somos displicentes. Se não postamos no mínimo diariamente, somos out. E se tentamos disseminar algum conhecimento um pouquinho mais cult, o fraco ibope medido pelo “curtir” te detona como uma buzina dos programas de calouros. Ficamos escravos da aprovação do outro e vamos nos adaptando até conseguir. Uma construção diária de amizades fake, de exposição sem colete à prova de balas e sem nenhum ganho real, porque quando você realmente precisa de alguém, certamente não vai encontrá-lo no facebook.

Tudo bem que o FB (Facebook) é a maneira mais moderna de se comunicar. Concordo e continuarei usando, pois de alguma forma é uma ferramenta útil. Minha reflexão é só para que ele não substitua os contatos pessoais, porque em certas horas a gente precisa de gente. Não quero causar polêmica, nem generalizar. Só expressar minha dificuldade de aceitar e acompanhar a decadência das relações humanas na era digital.

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