segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pesquisa eleitoral na mídia

* Silvana Maria de Sousa
Professora dos cursos de Jornalismo
e Publicidade & Propaganda
Faculdade Pitágoras / Divinópolis


Nesses últimos dois meses fui procurada por estudantes de comunicação, por jornalistas com um questionamento bem presente nas suas colocações e entrevistas: “pesquisa eleitoral influencia o voto do eleitor?”. Quem ouviu o rápido bate papo sobre o assunto na Rádio Divinópolis, no programa Observatório da Mídia, ou leu a entrevista que dei a um jornal de Divinópolis soube um pouco sobre o que penso sobre a relação mídia e divulgação de pesquisa eleitoral.

Na qualidade de professora das disciplinas Pesquisa de Opinião e Pesquisa de Mercado da Faculdade Pitágoras, percebo que há um equívoco em se pensar pesquisa como um instrumento de influência. Na essência, a pesquisa é uma ferramenta, que tem como objetivo principal captar dados que ao serem coletados são analisados e se transformam em informações que, por sua vez, contribuem para tomada de decisões. Seu objetivo de aplicação não é, e nunca foi de influenciar.

Portanto é legítimo utilizar essa ferramenta, desde que ela seja feita com a ética e com o conhecimento técnico que é necessário para que a captação de dados seja digna de ser chamada de pesquisa. Trata-se de um aparato científico, técnico pertinente aos processos de apreensão de realidades. Concordo sim, que no caso eleitoral, especificamente, há alguns nuances que precisam ser enfatizados para que o entendimento sobre o a relação mídia e pesquisas eleitoral não fique míope.

O primeiro é a ética. Quem contrata um instituto de pesquisa para sondar a intenção de voto precisa estabelecer um propósito de dignidade e não de manipulação de resultados para fins eleitoreiros. Por outro lado, o instituto contrato precisa ter o compromisso de aceitar somente trabalhos de contratantes que tenham a mesma coerência ética.

O segundo é a divulgação. Essa, geralmente, feita por veículos de comunicação de massa, deve primar pelo esclarecimento dos procedimentos e condições em que as pesquisas são feitas. Títulos totalmente persuasivos em folhetos e materiais do próprio candidato é “compreensível” dentro de uma lógica do marketing político, mas, os “já ganhou” presente em alguns veículos de comunicação é lamentável.

Por fim, o terceiro, é a cultura. Nós, brasileiros, temos um traço cultural que realmente permite que a divulgação de pesquisa eleitoral influencie no voto. É que, muitos de nós acreditamos que ao escolher, ao votar num candidato que não ganhe, é “perder o voto”. Assim, quando ainda não temos uma escolha firme, decidida, optamos por aquele que está à frente, segundo as pesquisas. E isso muda todo cenário. Afinal, a corrida pelo voto dos indecisos na reta final do pleito eleitoral é comum. Principalmente por que a discussão social em torno de eleições tem significativo índice de rejeição, e as pessoas começam a comentar e decidir mesmo somente nos últimos dias.
Nesse contexto, a Pesquisa Eleitoral, uma ferramenta legítima sofre o ônus da falta de ética tanto na sua aplicação quanto na sua divulgação. E ganha um contorno de descrença. Candidatos que aparecem mal em pesquisas pedem para não acreditar nelas. Quem aparece bem, divulga o máximo e coloca a pesquisa no patamar do inquestionável. Extremos distorcidos e comprometedores. Pesquisa não é uma questão de fé, em se acreditar ou não. É racional, científica, técnica. Pesquisa não é eleição, sonda apenas a intenção de votar. E entre um extremo e outro, a melhor decisão é entender o que é pesquisa, como ela é feita, quem contrata e quem está realizando. Pense nisso, e boa eleição. Que vença as melhores propostas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário