Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
Ao final de mais uma rodada
do Campeonato Brasileiro, as “teorias da conspiração” voltam com toda força.
Alguns dizem que o Atlético/MG continua sendo prejudicado pela arbitragem,
outros afirmam que o Fluminense foi favorecido. Mas ninguém analisa, de fato,
que vencer no futebol é mais do que contar com erros ou ajuda da arbitragem. De
nada adianta o juiz marcar um pênalti inexistente, por exemplo, a fim de
“ajudar” algum clube e o batedor desperdiçar a cobrança. Assim como também não
adianta uma equipe dominar a partida inteira, ter o dobro de posse de bola do
adversário mas não concretizar esse domínio em gols. É bem como disse Samuel
Rosa: “Bola na trave não altera o placar...”
Este exemplo do futebol não
é o único. Por ser mais “quente” e ter acontecido neste final de semana, serve
para ilustrar a onda das “teorias da conspiração” que toma conta da internet,
especialmente nas redes sociais virtuais. E este é o tema que vamos debater
hoje. Já é sabido que a internet propiciou uma revolução como nenhum outro meio
de comunicação por permitir que qualquer pessoa com acesso à rede torne-se um
publicador de informações. Só que isso, diferentemente do que muitos pensam,
não se trata de jornalismo. Entre o fato e a sua publicação há uma importante
tarefa, que nas redes sociais virtuais permanece esquecida para sempre: a
apuração, ou a checagem das informações.
Se não houver esse cuidado
de checar a veracidade do que se publica, corremos o risco de ser bombardeados
por boatos vendidos como verdades. E aí a informação passa a ser tratada, de
forma intensificada, como descartável, sem sentido e sem validade. Esse é o
grande problema da “liberdade” proporcionada pela internet. Nada contra o meio,
até mesmo porque muitas máscaras caem e fica, cada dia mais claro para os
leitores, ouvintes e telespectadores, os filtros que os grandes veículos de
comunicação utilizam para priorizar um fato ao invés de outro em seu
noticiário. Mas daí a acreditar em tudo o que é publicado na rede mundial de
computadores é, no mínimo, inocência.
Para se ter uma ideia, nos
últimos meses diversas “notícias” foram publicadas nesse meio que vieram a ser
desmentidas posteriormente. A morte de alguns famosos, alguns aplicativos para
smartphones que começariam a ter seu uso cobrado, os estranhos “pactos” que
celebridades fazem com entidades para ter sucesso, entre outros assuntos,
dominaram por algumas horas (ou minutos) a atenção dos internautas. Este último
exemplo está diretamente ligado às “teorias da conspiração”, que só aumentam a
cada dia que passa. Elas dizem respeito a assuntos tão variados que passam pelo
sucesso de famosos, equipes de futebol que conquistam (ou não) títulos até a
versões sobre o fim do mundo. Se tudo o que anunciam fosse realmente verídico,
a Terra já teria acabado, pelo menos, umas cinco vezes.
O que mais assusta é que
várias dessas “teorias” apresentam argumentos convincentes e, para os mais
impressionados, chegam de fato a causar sentido. No entanto, a grande maioria
dessas “verdades” não sobrevive a uma pesquisa aprofundada e, especialmente, a
uma apuração séria. O que faz sentido, geralmente, é publicado em outros meios.
O documentário “Fahrenheit 9/11” do norte-americano Michael Moore, lançado em
2004, por exemplo, mostra claramente as ligações políticas e comerciais entre
as famílias Bush e Bin Laden, um dos motivos, segundo o cineasta, para os
atentados do fatídico 11 de setembro de 2001. A diferença entre um produto como
esse (documentário) e os vídeos e frases soltas pela net é que, no primeiro, o
receptor da informação consegue ver as provas, os documentos que fizeram com
que o diretor chegasse a suas conclusões. Já os enunciados da net nunca têm um
autor, ou líder, ou sequer fundamento.
Tudo isso serve para alertar
o internauta de ter cuidado ao buscar informações. Costumo dizer que a internet
tem espaço para tudo, tudo mesmo. E tudo o que se busca se encontra lá. O
problema então não é mais da busca de conteúdo, mas de seleção. Quando se tem
muita coisa à disposição, selecionar o que vale e o que não vale exige
conhecimento. E conhecimento só se conquista com estudo, esforço e
investimento. Portanto, ao invés de ficar questionando o porquê da arbitragem
brasileira prejudicar tanto o Galo, procure conhecer um pouco mais sobre futebol.
É certo que, nesse momento, saberá que para vencer é preciso fazer gols. E aí,
não há “teoria da conspiração” que resolva.