segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Quando o menos prejudica o mais

* Laura Aguiar

Jornalista e professora do curso de Jornalismo
da Faculdade Pitágoras/Divinópolis



Então estamos em 2011! A cada ano que começa as pessoas programam-se para viver 365 dias de novidades. Deveria ser assim com as empresas de comunicação e seus jornalistas. Os profissionais dos veículos midiáticos precisariam estar de olhos bem abertos para um dos fatores que determinam quando um fato é, e pode ser notícia: o quão novo, inusitado, é um acontecimento. Mas o que se vê não é bem isso!
 
Antes mesmo de o ano começar, as redações preparam-se para as repetições, mantendo agendas atualizadas com as datas comemorativas e sugestões de coberturas para esses dias. Nada que condene essa atitude, pois também em comunicação diária, deve-se usar das ferramentas de gestão como o planejamento estratégico. O que questiono aqui é quando uma exceção vira regra, notadamente percebido nas publicações e transmissões noticiosas, espaço demais para as celebrações fixas e lugar de menos para os casos diversos.

Posso estar sendo incompreendida se tomarem como referência as reportagens policiais que invadem os jornais a cada dia. A cobertura dessas ocorrências é burocrática, tecnicamente fácil, pois os fatos estão postos, se apresentam naturalmente e ainda são pré-apurados pelos policiais. Quando menciono novidades, fatos raros e acontecimentos inesperados trato de histórias escondidas, porém preciosas, enredos repentinos, mas que requer esforço para serem desvendados.

Entretanto, as desculpas são muitas para não se fazer esse serviço de garimpagem ou de lapidação. Com o pretexto de redações reduzidas pela pressão econômica, de profissionais com múltiplas tarefas e até do interesse do público por esses assuntos, as chefias de reportagem optam pelos temas mais aparentes: a cobertura policial, os eventos oficiais, as manchetes programadas, e as notícias prontas empacotadas pelas agências de comunicação públicas e privadas. Nesse caso menos trabalho, para mim, não significa melhores resultados.

Não há uma solução imediata para esse problema de incoerência, ou seja, sendo o jornalismo a ferramenta para informar sobre o novo, o quente, o inusitado, se valer de mecanismos para publicar coisas velhas, frias e tão previsíveis. O último Fantástico de 2010, exibido dia 26 de dezembro, já exibia um resumo de suas pautas dos programas deste ano. O aniversário de 70 anos de Roberto Carlos, os 80 de João Gilberto, os 100 de descoberta de Machu Picchu... e você verá com certeza, os 10 anos do atentado de 11 de setembro. Claro que tudo isso é notícia! Mas será que só isso é notícia?

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