terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Jornalismo investigativo volta a cena

* Ricardo Nogueira

Jornalista, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais.
Professor nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propagandada
Faculdade Pitágoras/Divinópolis-MG

Entre dezembro e janeiro somos bombardeados por listas e mais listas contendo os melhores e os piores do ano que chega ao fim. E vale para tudo: música, restaurantes, celebridades, “casamento do ano”, programas de TV, entre outras coisas. Até aí tudo bem, nada fora do esperado. O que realmente chamou a atenção nesta virada de 2010 para 2011 foi o destaque dado aos programas jornalísticos que, ao lado das minisséries, encabeçaram os rankings dos melhores do ano na TV brasileira.

A volta do jornalismo investigativo na TV, aquele que não apenas “noticia” superficialmente os fatos, merece reflexão. Nos tempos de redes sociais virtuais, “crise” dos jornais impressos e consumismo desenfreado, há que se louvar os programas jornalísticos que trazem o que está por trás da notícia, que mostram ao telespectador não apenas o fato, mas as causas e consequências que um acontecimento pode trazer para a vida de todos nós.

Esse gênero, tido por diversos autores como jornalismo interpretativo, tem na reportagem seu ponto máximo e, ainda bem, está voltando com tudo na TV brasileira. Pessoalmente destaco duas produções que surgiram e/ou amadureceram em 2010: “Profissão Repórter”, da TV Globo, e “A Liga”, da Band.

O primeiro, comandado pelo excelente Caco Barcellos, mostra a dificuldade enfrentada por jovens repórteres na cobertura de eventos diversos, desde uma festa de debutante à invasão das favelas cariocas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. Tendo como objetivo principal revelar ao telespectador o “making off” dos noticiários, o programa apresenta uma visão absolutamente nova até então no telejornalismo nacional: ao invés de produções perfeitas e impecáveis (o expoente máximo de Padrão Globo de Qualidade), mostra a realidade enfrentada por repórteres e cinegrafistas em busca das melhores entrevistas, imagens e ângulos pouco explorados da história.

Já “A Liga”, da Band, causou grande impacto logo no seu primeiro episódio, relatando a vida dos moradores de rua em São Paulo. A diferença não está no tema, mas sim na abordagem. Ao invés de usar das já manjadas câmeras escondidas ou em coletar depoimentos de mendigos ou representantes de ONGs, os repórteres (liderados pelo competente Rafinha Bastos) foram às ruas, viveram, dormiram, fizeram suas refeições e literalmente “sentiram na pele” o mesmo que os moradores passam cotidianamente. E não foi só isso: a atração ousou ao tocar em assuntos delicados e discutir abertamente temas como a relação dos jovens com o sexo, a vida nas penitenciárias, o trânsito, o mundo dos milionários, entre outros.
 
Em comum, os dois programas têm o objetivo de “humanizar” o jornalismo, revelando aos telespectadores os bastidores das grandes reportagens e, com isso, além de conseguirem um maior grau de credibilidade, fascinam diversas pessoas a acreditarem na possibilidade de um jornalismo verdadeiro, onde o jogo de interesses políticos e financeiros não está em primeiro plano, como acontece em grande parte dos tradicionais veículos de comunicação.

A velha discussão entre fato e opinião, tão comum nas faculdades e demais espaços de debates sobre o jornalismo, não cabe neste momento, pois o que as atrações em destaque apresentam, como já dito, é o chamado jornalismo interpretativo: aquele que não apenas informa, mas que não chega a emitir opinião – ele procura mostrar ao leitor/ouvinte/telespectador não somente o fato, mas todo o seu entorno, para que quem receba aquela informação possa criar seu próprio juízo de valor e fazer seu próprio julgamento.

Não que isso tudo seja novidade, até mesmo porque as revistas e as edições de fim de semana dos jornais impressos ainda dedicam bom espaço para este tipo de abordagem. O que acende a esperança de que este tipo de jornalismo, tão fascinante e polêmico, volte a ter local de destaque é a sua inserção na programação da TV que, como se sabe, ainda detém o posto de veículo de comunicação mais popular no país. Que os prêmios e as listas de melhores do ano sirvam de estímulo para termos cada vez mais produções de qualidade no jornalismo, não só na TV, mas em todos os meios de comunicação. Talvez assim a credibilidade e a confiança perdida pelos jornais (impressos, rádio, TV e internet) ao longo dos anos possa ser recuperada. Assim seja!

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