terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eleições sem maquiagem


Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.



É na reta final das eleições que tudo se decide. Os indecisos resolvem “vestir uma camisa”, os quase decididos têm a chance de mudar o voto e aqueles fervorosos defensores de determinada candidatura fazem de tudo para convencer os amigos, parentes e vizinhos a fazer a mesma escolha que a sua. De dois em dois anos é o que ocorre. Mas, de quatro em quatro anos, quando as eleições ocorrem exclusivamente em nível municipal, é que o espetáculo desperta paixões, raivas e sentimentos ao extremo, por envolver de perto o interesse da população.

Neste ano não é diferente. Na última semana pipocam pesquisas apontando que um candidato X será eleito, ou que o concorrente está subindo nas intenções de voto. É, ainda, o momento do “vale tudo” nos programas eleitorais obrigatórios de rádio e TV. Aqueles “segredos” que estavam escondidos debaixo dos panos vêm à tona e a baixaria rola solta pelo ar. Neste momento, os tratos de “respeito” ou de “bom senso”, se é que eles existem, vão para o ralo e qualquer argumento é válido para convencer aquele eleitor indeciso, ou para mudar o voto de quem não está tão certo de sua escolha.

Nesta estratégia, vale muito a pena ver o último programa do horário eleitoral. É certo que todos os candidatos, depois de tanto “bater” nos adversários, vão aparecer ao lado de suas famílias, abraçando crianças e pobres, e provavelmente participando de alguma cerimônia religiosa – é claro, pois não basta convencer pelos argumentos, tem que mostrar que é fiel a Deus e que Ele vai dar um jeito em todos os problemas vividos pelos menos favorecidos. É batata! Caso isso não ocorra na próxima sexta-feira podem mandar um email cobrando...

Tudo isso é tão previsível porque o marketing político, apesar de ter evoluído bastante, mantém os mesmos princípios desde que começou a ser utilizado pelos norte-americanos, na década de 1950. Fazer o candidato ser mais “simpático” do que realmente é, estimulá-lo a falar a linguagem do povo, abraçar criancinhas e mendigos, entre outras ações, são mais velhas do que andar para frente. E o pior é que, apesar disso, ainda funciona. Por isso, entra eleição e sai eleição nos deparamos com as mesmas promessas faraônicas de sempre, os mesmos discursos de “fazer diferente”, os mesmos “papagaios de pirata” posando ao lado dos candidatos numa promessa de ajuda para o bem das cidades – ajuda essa que dura não mais de 6 meses, porque depois devem rever seus “apoios” devido ao cenário político estadual ou nacional.

E o povo, aliás, o eleitor, acredita nestas promessas quase natalinas e deposita seu “voto de esperança” em um produto do marketing que, provavelmente, terá muita dificuldade em ser tão bom, honesto e amigo de todos quanto no tempo do pleito.

No entanto, a reta final das eleições é também um dos poucos momentos em que o eleitor tem a oportunidade de conhecer os candidatos “sem maquiagem”. É o período dos debates transmitidos pela TV. Sei que, assim como eu, algumas pessoas acreditam que seria muito melhor oferecer mais debates e menos programas eleitorais “maquiados” para que o eleitor tivesse condições de fazer a sua escolha de forma mais acertada. A única coisa negativa é o horário em que os debates vão ao ar. Por volta das 22h30, 23h, grande parte da população já está dormindo, pois precisa acordar cedo no outro dia para trabalhar. Mas isso é papo para outra hora.

É no debate que os candidatos ficam “cara a cara” e têm a possibilidade de questionar uns aos outros sobre as promessas faraônicas e determinadas declarações sem fundamento técnico. É, ainda, a chance dos postulantes aos cargos públicos terem um tempo igual para a proposição de suas ideias, diferente do horário eleitoral, que divide o tempo de exposição de acordo com as bancadas partidárias no Congresso Nacional – o que, a meu ver, não torna justo o processo.

Ao ser questionado sobre um tema sobre o qual a sua assessoria política e de comunicação (os verdadeiros candidatos, pois são quem de fato elaboram as propostas) não lhe deu argumentos, o candidato fica perdido e pode levar tudo a perder. Falar sem a possibilidade de edição e ao vivo é excelente, para o eleitor, por isso: mostra a realidade. Mostra quem é quem, qual o nível de controle emocional de cada postulante e melhor, faz com que o verdadeiro debate de ideias aconteça. Portanto, a dica para os eleitores é acompanhar os debates eleitorais antes de decidir seu voto. Com certeza vai fazer a diferença.

 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A net e as teorias da conspiração



Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.


Ao final de mais uma rodada do Campeonato Brasileiro, as “teorias da conspiração” voltam com toda força. Alguns dizem que o Atlético/MG continua sendo prejudicado pela arbitragem, outros afirmam que o Fluminense foi favorecido. Mas ninguém analisa, de fato, que vencer no futebol é mais do que contar com erros ou ajuda da arbitragem. De nada adianta o juiz marcar um pênalti inexistente, por exemplo, a fim de “ajudar” algum clube e o batedor desperdiçar a cobrança. Assim como também não adianta uma equipe dominar a partida inteira, ter o dobro de posse de bola do adversário mas não concretizar esse domínio em gols. É bem como disse Samuel Rosa: “Bola na trave não altera o placar...”

Este exemplo do futebol não é o único. Por ser mais “quente” e ter acontecido neste final de semana, serve para ilustrar a onda das “teorias da conspiração” que toma conta da internet, especialmente nas redes sociais virtuais. E este é o tema que vamos debater hoje. Já é sabido que a internet propiciou uma revolução como nenhum outro meio de comunicação por permitir que qualquer pessoa com acesso à rede torne-se um publicador de informações. Só que isso, diferentemente do que muitos pensam, não se trata de jornalismo. Entre o fato e a sua publicação há uma importante tarefa, que nas redes sociais virtuais permanece esquecida para sempre: a apuração, ou a checagem das informações.

Se não houver esse cuidado de checar a veracidade do que se publica, corremos o risco de ser bombardeados por boatos vendidos como verdades. E aí a informação passa a ser tratada, de forma intensificada, como descartável, sem sentido e sem validade. Esse é o grande problema da “liberdade” proporcionada pela internet. Nada contra o meio, até mesmo porque muitas máscaras caem e fica, cada dia mais claro para os leitores, ouvintes e telespectadores, os filtros que os grandes veículos de comunicação utilizam para priorizar um fato ao invés de outro em seu noticiário. Mas daí a acreditar em tudo o que é publicado na rede mundial de computadores é, no mínimo, inocência.

Para se ter uma ideia, nos últimos meses diversas “notícias” foram publicadas nesse meio que vieram a ser desmentidas posteriormente. A morte de alguns famosos, alguns aplicativos para smartphones que começariam a ter seu uso cobrado, os estranhos “pactos” que celebridades fazem com entidades para ter sucesso, entre outros assuntos, dominaram por algumas horas (ou minutos) a atenção dos internautas. Este último exemplo está diretamente ligado às “teorias da conspiração”, que só aumentam a cada dia que passa. Elas dizem respeito a assuntos tão variados que passam pelo sucesso de famosos, equipes de futebol que conquistam (ou não) títulos até a versões sobre o fim do mundo. Se tudo o que anunciam fosse realmente verídico, a Terra já teria acabado, pelo menos, umas cinco vezes.

O que mais assusta é que várias dessas “teorias” apresentam argumentos convincentes e, para os mais impressionados, chegam de fato a causar sentido. No entanto, a grande maioria dessas “verdades” não sobrevive a uma pesquisa aprofundada e, especialmente, a uma apuração séria. O que faz sentido, geralmente, é publicado em outros meios. O documentário “Fahrenheit 9/11” do norte-americano Michael Moore, lançado em 2004, por exemplo, mostra claramente as ligações políticas e comerciais entre as famílias Bush e Bin Laden, um dos motivos, segundo o cineasta, para os atentados do fatídico 11 de setembro de 2001. A diferença entre um produto como esse (documentário) e os vídeos e frases soltas pela net é que, no primeiro, o receptor da informação consegue ver as provas, os documentos que fizeram com que o diretor chegasse a suas conclusões. Já os enunciados da net nunca têm um autor, ou líder, ou sequer fundamento.

Tudo isso serve para alertar o internauta de ter cuidado ao buscar informações. Costumo dizer que a internet tem espaço para tudo, tudo mesmo. E tudo o que se busca se encontra lá. O problema então não é mais da busca de conteúdo, mas de seleção. Quando se tem muita coisa à disposição, selecionar o que vale e o que não vale exige conhecimento. E conhecimento só se conquista com estudo, esforço e investimento. Portanto, ao invés de ficar questionando o porquê da arbitragem brasileira prejudicar tanto o Galo, procure conhecer um pouco mais sobre futebol. É certo que, nesse momento, saberá que para vencer é preciso fazer gols. E aí, não há “teoria da conspiração” que resolva.

 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Reclamar de que?


 
Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica.Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.

 
Uma coisa é muito clara em qualquer profissão, em qualquer situação de nossa vida: a grama do vizinho é sempre mais verde. Temos uma infeliz mania de achar sempre que a vida, o emprego, o carro, a mulher e tudo mais dos outros são melhores do que o nosso. Na área da comunicação não é diferente. Ou o jornal que o outro trabalha é melhor do que o que trabalhamos, ou os clientes que uma agência concorrente atende são melhores, pagam mais e são mais “bonzinhos”. Mas será que é isso mesmo que acontece? Será que, ao invés de agradecermos pela vida que temos, não perdemos muito tempo olhando para fora?
Creio que é quase inerente ao ser humano essa prática de só enxergar as dificuldades e desafios da própria vida e, por outro lado, somente as alegrias e felicidades das vidas alheias. Assim, não é raro escutarmos frases do tipo: “fulano nem bem começou a vida e já é chefe”. Ou “só porque sicrana é bonita que conseguiu aquela vaga tão disputada”. Por mais que, em alguns casos, tais “verdades” possam de fato parecer verdadeiras, olhar somente a superfície e tirar daí suas conclusões está longe de parecer inteligente.
No mercado de comunicação deparamos com afirmações como estas o tempo todo. Ou determinada pessoa está hoje em um posto superior pela “graça divina” ou então porque teve uma ajudinha extra para conseguir tal feito. Mas será que realmente não há uma justificativa plausível para a situação acontecer? Digo, com certeza, que há sim. E que, geralmente, conquistas chegam após muito trabalho, esforço, renúncia e dedicação. Portanto, ao “invejar” uma posição profissional ou pessoal alheia, procure saber antes o que de fato o vizinho fez para alcançar tal posto e, ao invés de denegrir, esforce-se para conquistar o que de fato busca.
As pessoas perdem tanto tempo olhando para fora, “pesquisando o mercado”, que se esquecem de aprimorar pessoal e profissionalmente. Nós, professores, temos uma benção muito grande: a oportunidade de ver pessoas conquistando seu espaço no mercado, prosperando e alcançando seus objetivos profissionais. Temos essa chance de acompanhar tudo bem de perto e, especialmente gratificante, compreender como o esforço e a dedicação são, de fato, regras essenciais para se atingir os resultados esperados.
Neste tempo digital, em que a maioria dos jovens passa mais tempo em “aventuras cibernéticas”, e concentram seu tempo livre na busca de relacionamentos e diversões mediadas por computador, é muito claro perceber, logo no início da carreira, qual profissional cada um deles será no futuro. Enquanto alguns acham e agem como se o mundo não fizesse sentido sem as redes sociais (Facebook, Twitter e afins) e, por isso, despejam uma quantidade absurda de tempo e energia em curtir e compartilhar coisas desnecessárias, outros estão buscando o seu aprimoramento profissional. E aí, ao invés de ficar na internet esperando a vida passar, estes outros buscam os ensinamentos em livros, fazem além do pedido, procuram conhecer na prática os segredos das profissões para as quais estão se capacitando.
A minha “eterna inquietação” com as redes sociais virtuais não é por um mero julgamento de valor do tipo “gosto/não gosto”. Jamais vou desprezar o lado positivo deste meio de comunicação, as facilidades que trouxe para a vida de várias pessoas e, especialmente, como profissional de comunicação, o seu potencial como ferramenta estratégica em praticamente todos os setores produtivos. A minha implicância é com o fato de que, por ser obviamente mais atrativa visualmente do que um velho livro, essa nova mídia acabe com o hábito de buscar conhecimento nas formas tradicionais pelos mais jovens. E, com isso, o medo de que essa geração mediada pelo digital não compreenda a si própria sem a virtualização do mundo. 
Há um dito popular que afirma sermos responsáveis por fazer o nosso próprio destino. Pela ainda curta experiência de vida, acredito cada vez mais nisso e de que as escolhas que fazemos acabam por determinar quem somos e o que fazemos. Então, ao invés de reclamar da vida, do emprego, do salário, quem sabe não é tempo de rever nossas atitudes e dedicar mais tempo ao aprimoramento pessoal e profissional? Tenho absoluta certeza de que, ao fazer isso, cada um vai crescer mais e viver mais feliz. E isso não é pouco. O resto é consequência.
 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O sucesso dos populares – parte 02

Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.


 
 
Em continuidade ao artigo da última semana, continuamos a análise dos motivos que levam jornais populares como o “Super Notícia” e o “Aqui” a ser sucesso de público, apesar do questionamento de vários intelectuais. Na primeira parte falamos sobre dois dos ingredientes da receita de sucesso: os temas que os leitores querem ler e o uso de palavras inteligíveis pelo público. Hoje falaremos dos outros três ingredientes responsáveis pela grande audiência dos populares: o formato gráfico, o preço acessível e a sensação de leitura feita.

A adoção do formato tablóide, assim como os jornais ingleses, agradou em cheio ao leitor. Por ser menor do que o seu primo mais tradicional, de formato standard, a medida é ideal para aquele leitor que quer levar consigo o jornal debaixo do braço, dentro de uma pasta ou caderno, o que era impossível (e continua sendo) no formato maior. E, além disso, em tempos de mobilidade e tablets, as pessoas querem praticidade para a leitura. Logo, um formato que torne mais fácil o transporte e a leitura das páginas tem tudo para agradar ao leitor.

A “descoberta” faz tanto sentido que é comum perceber cada vez mais pessoas fazendo suas leituras enquanto usam o transporte coletivo, em ônibus ou no metrô. É que o formato tablóide favorece este tipo de leitura ao oferecer condições para que o jornal possa ser aberto e lido sem incomodar o vizinho. Por isso, dos três maiores jornais de Minas Gerais, dois já passaram por mudanças gráficas e adotaram o formato tablóide, preferido pelo público: “O Tempo” e “Hoje em Dia”. O “Estado de Minas” ainda insiste no formato standard, apesar do grupo que o detém (Diários Associados) possuir outro título já adaptado ao gosto do leitor popular, o “Aqui”. De qualquer forma, mantendo o formato maior por uma questão de tradição, o “jornal dos mineiros” corre o risco de tornar-se cada vez mais elitizado e, em longo prazo, ser esquecido pelos leitores.

O quarto ingrediente da receita de sucesso é o preço acessível. Ora, para um público que tem oferta de informação “gratuita” o tempo todo em meios como a TV, o rádio e a internet, qual o sentido de jornais cobrarem preços fora da realidade do brasileiro? A conta é simples: se um trabalhador recebe um salário mínimo por mês, atualmente R$ 625,00, faz sentido um jornal custar R$ 4,00 a edição? Como temos em média 30 dias por mês, esse mesmo trabalhador gastaria R$ 120,00, cerca de 20% de seu salário, para manter-se informado. E as outras obrigações como moradia, alimentação, transporte, saúde, lazer?

Se vivêssemos em um país onde o trabalhador não tivesse as preocupações financeiras acima e um salário compatível com a realidade social, não acredito que este valor cobrado pelos jornais fosse tão absurdo assim. Mas, infelizmente, a realidade é outra. Sem querer desmerecer a qualidade das produções e nem dizer que os jornais não valham isso, não dá para conseguir um grande número de leitores cobrando preços fora do acessível. Então os populares, percebendo isso, passaram a conseguir sua receita à base de anunciantes de peso (o que também não é o ideal, por comprometer a imparcialidade) e a venderem seus jornais por R$ 0,25. Aí sim, custando mais barato que um cafezinho na rua, conseguem ter tiragens altas e uma circulação convincente.

  Este detalhe, do preço, está diretamente ligado ao último ingrediente da receita milagrosa: a sensação de dever cumprido. Sabe-se que a leitura não figura entre os principais hábitos do brasileiro. Sem querer discutir a causa, isso é um fato. Mas, ao mesmo tempo, várias pessoas fazem questão de mostrar que são “cultas” e, a contragosto, lêem, menos pelo prazer e mais para convencer os outros de que é um leitor. Só que ler não é tarefa fácil. Exige tempo, raciocínio e hábito.

Os populares então fecham com chave de ouro a receita de sucesso ao proporcionar àqueles que têm necessidade de autoafirmação intelectual a possibilidade de fazer a sua leitura diária, e por meros R$ 0,25. Xeque-mate! Não que o conteúdo mostrado por estes populares vá acrescentar algo à bagagem cultural destas pessoas, por privilegiar temas como Esporte, Polícia e Celebridades. Mas que cumpre o papel de fazer com que este sujeito tenha a sensação de dever cumprido, isso sim.

Portanto, o sucesso dos populares não é fruto do acaso. É resultado, sim, de pesquisas de opinião e na entrega de algo bem próximo ao que o público deseja. Se nestes casos o jornal não cumpre o seu papel de levar informações relevantes para a vida das pessoas, paciência. Acredito, sinceramente, que é melhor que as pessoas leiam os populares do que não ler nada. O sucesso de público já está mais que comprovado. Resta saber se, um dia, os populares serão também sucesso de crítica. Pelo menos na concepção do negócio como mercadoria podemos afirmar que sim, já são sucesso absoluto!

 

 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O sucesso dos populares – parte 01


Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.

 
Algumas pessoas contestam o sucesso de jornais como o “Super Notícia”, o “Aqui” e de programas televisivos que apelam para o sensacionalismo como maior arma para segurar a audiência. Por mais absurdo que pareça, alguns autores estudiosos da prática jornalística afirmam que isso é culpa (?!) dos próprios jornalistas e dos outros veículos. Com certo elitismo em suas páginas e o privilégio a assuntos que, infelizmente, não são o supra-sumo do gosto popular, os meios tradicionais vêm perdendo a disputa pela audiência com os popularescos que, se já experimentaram o sucesso no Brasil na década de 1980, ressurgiram nos anos 2000 com força absoluta.

Utilizando como atrativos manchetes com letras garrafais, cores fortes, sensacionalismo elevado ao cubo, abusando das fotos e, principalmente, privilegiando temas relacionados às editorias de Polícia, Esporte e Entretenimento (por favor, não vamos confundir fofoca com Cultura), os novos jornais populares dão um show como negócio nas mídias tradicionais. Não que seu conteúdo seja excelente. Mas é inegável que o sucesso financeiro destas publicações, especialmente pelos anúncios publicitários e tiragem elevada, alcança patamares sonhados pelos jornais tradicionais. E grande sacada para este sucesso é muito simples: fazer o que o “povo” quer, do jeito que o “povo” quer.

E satisfazer esse desejo do povo se resume, nesses casos, a cinco elementos principais: trazer os assuntos sobre os quais se quer ler; escrever as reportagens com palavras próximas à realidade do público, tornando os textos legíveis e compreensíveis; adotar um formato gráfico que torne a leitura e o transporte mais fáceis; ter um preço realmente acessível a toda a população; e, como não poderia deixar de ser, dar a sensação ao leitor de que ele está lendo, fomentando seu senso crítico e elevá-lo a um antigo patamar de que somente os mais cultos liam jornais.

Para analisar o sucesso da receita acima, vamos analisar cada um dos ingredientes. O primeiro diz respeito aos assuntos tratados por estes jornais. Infelizmente, sabe-se que a grande massa da população, por mais que se diz interessada em temas mais importantes em época de pesquisas eleitorais, está pouco disposta em ler sobre assuntos mais “complexos” ou “difíceis” como política ou economia. Por isso, pensar em um jornal que ofereça as matérias de gosto popular como Esporte, Polícia e Entretenimento (fofoca de celebridades) é garantia de agradar o público, por mais que isso não traga informações dignas de mudar a vida de ninguém.

O segundo ingrediente é, para mim, o principal responsável pelo sucesso estrondoso: o uso da linguagem popular. Por mais que todos (repito, todos) os manuais de redação e livros que tratam de redação jornalística sempre trazerem recomendações para o uso de palavras simples no texto das reportagens, a prática cotidiana nos mostra que os repórteres, redatores e editores insistem em utilizar expressões complicadas, especialmente em editorias menos populares. Isso, talvez, para erroneamente tentar mostrar certo nível de erudição, que não é papel do jornal. Para isso existe a literatura e outras obras mais livres, onde se pode usar e abusar de expressões rebuscadas.

O jornalismo não é lugar para mostrar vocabulário estranho à população. Deve-se, sim, mostrar riqueza de vocabulário sabendo “traduzir” expressões técnicas para o entendimento do leitor e, também, conhecer o significado das palavras e usá-las de acordo com seu real significado. Costumo sempre afirmar que o jornalismo não vende notícia nem informação. O jornalismo vende entendimento. É isso, simples assim. O leitor médio brasileiro, que por problemas sociais não teve acesso a uma educação de qualidade, não tem a mínima ideia do que seja uma MP, uma taxa Selic ou um spread bancário, expressões que são usadas diariamente pela nossa imprensa. Logo, ao privilegiar uma falsa erudição, os jornais tradicionais continuam perdendo audiência para os populares. Se a ficha demorar muito a cair, pode ser tarde demais.

No artigo da próxima semana daremos continuidade a essa discussão, uma vez que o tema é relevante e merece uma reflexão mais profunda. Além de finalizar essa análise sobre a linguagem, falaremos também sobre os outros três ingredientes da receita “milagrosa”: formato gráfico, preço acessível e sensação de leitura feita. Até lá.

     

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Imprensa e eleições

Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica.Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
 
Começamos mais um processo eleitoral. É perceptível como os humores tornam-se exaltados nesse período, os justos tornam-se justíssimos e a imprensa, claro, sempre ela, tenta passar mais uma vez sua imagem de imparcialidade. E é aí que a coisa não funciona. Mesmo com todas as regras estabelecidas pela Justiça Eleitoral a fim de preservar a isenção dos meios de comunicação neste período, ao analisarmos friamente o cenário percebemos facilmente como a imprensa ainda consegue se manter parcial, defendendo seus interesses políticos e ideológico$$!

 A coisa começa logo que a última eleição é definida. Apurados os votos e determinado o vencedor, começam os conchavos e o estabelecimento de parcerias que vão durar pelos próximos quatro anos. Como é sabido por todos que, infelizmente, a maior parte dos recursos para a manutenção dos veículos ainda vêm dos cofres públicos, por meio da publicidade governamental, o público assiste então a quatro anos de notícias positivas e omissões impensáveis numa democracia. Mas é assim que rolam os dados.

Então, o cidadão (ou eleitor) fica por todo um mandato sendo alimentado por notícias que destacam o papel “brilhante” desempenhado por um governo e por seu governante – em qualquer esfera, executiva ou legislativa, seja nos âmbitos municipal, estadual ou federal. O que é negativo não aparece e as denúncias são adjetivadas como vazias ou infundadas. E aí a legislação estabelece regras determinando que os meios de comunicação, nos meses que antecedem o pleito, concedam o mesmo espaço editorial dado a um determinado candidato para os demais. É justo isso? E os três anos e tantos meses anteriores de privilégio? Esses não contam?

Outro fato questionável é a divisão do tempo entre os candidatos no horário eleitoral gratuito do rádio e TV. É óbvio que aquele postulante a um cargo eletivo que dispõe de mais tempo para apresentar suas propostas leva vantagem na disputa. E, apesar de saber que o tempo destinado a cada um é proporcional aos partidos de uma coligação e a sua respectiva representação no Congresso Nacional, não vejo nessa divisão uma forma justa equânime e certa. 

Longe de querer ser um legislador, até mesmo porque minha formação não permite, mas parece que tem algo errado aí, não? Falar em imparcialidade com vários interesses econômicos mediando a relação entre imprensa e governos é, no mínimo, falível. Diante disso, qual o papel do jornalista? Em primeiro lugar, acredito, é o de deixar claro para o público como as coisas funcionam.

Com o intuito de preservar a democracia e levar informações para que o público tenha autonomia em sua tomada de decisões, a imprensa pode, se quiser, contribuir de forma decisiva para a transparência do processo eleitoral. De início, seria importante mostrar à população como funcionam os cálculos do quociente eleitoral, qual o papel dos vereadores, do prefeito, entre outras coisas. Depois, explicar como os recursos chegam para as Prefeituras e as Câmaras Municipais, e mostrar como e com que eles são gastos. Isso já seria um grande avanço. Mas, infelizmente, acho que ainda fica no campo das utopias.

Diante disso, cabe ao cidadão-eleitor buscar o máximo de informações possível, preferencialmente em fontes diversas, a fim de formar sua opinião sobre os candidatos. A internet mostra-se uma grande aliada neste processo e tem dado resultados expressivos, especialmente entre os mais jovens. Mas com todos os seus problemas de inserção popular, ainda é fraca na formação da opinião pública se comparada às mídias tradicionais. Já que não costuma ajudar muito, tomara que a mídia pelo menos não prejudique esse processo democrático.

 

 
PS: O programa Observatório de Mídia da TV Pitágoras volta com novo formato neste final de semana, na TV Candidés. Apresentado por este jornalista, a primeira edição do 2º semestre recebe os professores Bernardo Rodrigues e Sérgio Gildin para debater o assunto Mídia e Parcialidade, além do papel da imprensa no período eleitoral. Confira no próximo domingo (02/09), às 13h, na TV Candidés

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Quanto custa a consciência?

      
Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.


 
       Na última semana, especificamente na última quinta-feira, um importante aniversário de 20 anos foi pouco lembrado pela imprensa nacional. Em 16 de agosto de 1992 um grande número de estudantes brasileiros foi às ruas, vestindo roupas pretas e com as caras pintadas da mesma cor, em protesto aos demandos do Governo Federal, ocupado então por Fernando Collor. A ironia é que o presidente havia convocado, na véspera, uma manifestação popular conclamando os jovens a vestirem verde e amarelo e ocuparem as ruas para mostrar seu apoio à Presidência. Tal manifestação serve como marca por vários motivos: demonstração de força popular, mobilização (verdadeira) da juventude em torno de uma causa nobre e a imprensa atuando como elemento decisivo para levar as informações de interesse público à população.

Por ter sido um momento ímpar e extremamente relevante para a história nacional, fico surpreso pelo fato não ter sido lembrado da forma como merece pela grande imprensa. Um dos motivos pode, como já discutido anteriormente neste espaço, dizer respeito à superficialidade e falta de investigação em temas relevantes atualmente na mídia nacional. Sobre isso, vale a pena citar o brilhante jornalista Mário Sérgio Conti, atualmente apresentador do Roda Viva e repórter da revista Piauí, que lançou em 1999 o livro “Notícias do Planalto”, em que conta a relação de Collor com a grande imprensa.

A obra, indispensável para quem gosta de estudar a relação entre jornalismo e política, analisa desde o surgimento do fenômeno midiático Collor como “caçador de marajás” até sua queda, provocada em parte pela atuação da imprensa. O principal fio condutor do texto é a íntima relação do protagonista com a mídia, responsável em grande parte por sua eleição e também por seu processo de impeachment, ao denunciar em belas reportagens investigativas os esquemas de corrupção comandados pelo fiel escudeiro PC Farias. Resenhas à parte, “Notícias do Planalto” revela os bastidores de investigações conduzidas por repórteres com compromisso com o interesse público.

Hoje, 20 anos depois de tudo isso, o mesmo Mário Sérgio Conti publicou no último mês, na Piauí, uma reportagem sob o título “Escândalos da república 1.2”, em que analisa a situação da imprensa hoje e seus principais personagens à época das denúncias. De forma surpreendente, o jornalista expõe que a maioria esmagadora dos então repórteres investigativos atualmente está “do outro lado do balcão”, tendo atuado ou atuando como assessores de comunicação e imprensa de personalidades e políticos de reputação duvidosa como João Paulo Cunha, Agnelo Queiroz, Joaquim Roriz, Roseana Sarney, Ricardo Teixeira (CBF), Daniel Dantas (banco Opportunity), Fernando Cavendish (empreiteira Delta) e mesmo Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Sabe-se que, atualmente, as áreas de consultoria e assessoria de comunicação, especialmente relacionadas à área política, costumam ser as mais bem remuneradas para estes profissionais de palavras e ideias. Apesar disso, como pode um time inteiro de grandes profissionais deixar de lado sua vocação, expertise e, especialmente, compromisso público para servir à blindagem de figuras tão particulares? Será mesmo que vale a pena abrir mão dos princípios e de uma reputação construída à base da competência para ganhar uns trocadinhos a mais (mesmo que sejam trocadões a mais) no final do mês? E a consciência, quanto custa?

Um dito popular enuncia que todo homem tem seu preço. Há quem duvide e quem concorde com a afirmação. E há ainda quem se vende por um preço muito baixo, irrisório até. Acho que seria interessante implantar, nos vestibulares de jornalismo, um teste para medir o caráter e a corruptibilidade de cada candidato a repórter. Manter-se fiel aos princípios em uma profissão passível de ofertas “tentadoras” a todo o momento não é tarefa fácil. Mas também não é impossível e milhares de exemplos podem ser dados. Nada contra a ambição coerente, mas tudo contra a ganância desenfreada. Há formas e formas de se dar bem e ser reconhecido (inclusive financeiramente) no meio profissional do jornalismo. Cabe a cada um a decisão entre subir a pé ou num jato superfaturado.