terça-feira, 14 de agosto de 2012

Toda unanimidade é burra?


Ricardo Nogueira
 
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.




O grande dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues foi extremamente feliz quando disse que “toda unanimidade é burra”. Tido como gênio e revolucionário por uns, e como louco e tarado por outros, o escritor sentenciou, como poucos, a importância de haver a contraprova, o questionamento, a dúvida. Para a imprensa, então, a frase deveria figurar numa lista de 10 mandamentos sagrados, no sentido de intocável mesmo. No entanto, infelizmente o que vemos na prática é que o benefício do contraditório passa longe das redações, na maioria dos casos.

Se vivemos em uma democracia em que o cidadão elege seus representantes por meio do voto direto, é de se esperar que estas pessoas representem, de fato, os anseios, vontades e necessidades da população. Porém, não é novidade para ninguém que este papel está longe de ser assumido por quem ganha para isso. Resta então a esperança no poder Judiciário. Este, por sua vez, padece da “burrocracia”, da lentidão e de seu linguajar técnico que o afasta das pessoas mais simples e, por consequência (ou por propósito), mantém-se quase sempre inacessível ou intocável.

Com as instâncias públicas “comprometidas”, coube à imprensa o dever e o papel de denunciar, investigar e, em certos casos, até mesmo punir as pessoas que agem contra os princípios da legalidade, moralidade e zelo com a coisa pública. Ao fazer uma análise do cenário político atual, percebe-se facilmente que nunca a imprensa teve a oportunidade de ser tão eficiente neste propósito, uma vez que não vivemos mais sob Censura (pelo menos legalmente) e, em tese, todos os órgãos de comunicação são livres para investigarem e publicarem o que bem entender.

Mas infelizmente não é isso o que vem acontecendo. Pelo contrário, é fácil perceber uma mordaça cada vez mais forte que cala a imprensa. A tática é que agora é outra: ao invés da Censura existir via Ato Institucional, ela ocorre pela questão financeira. É sabido por todos (ou ao menos deveria ser) que a imprensa, como toda e qualquer outra organização privada em um mercado capitalista, é movida por interesses mercantis. E, historicamente, há duas formas de se obter sucesso financeiro neste mercado de notícias: a primeira, publicando reportagens de interesse público, gerando, consequentemente, credibilidade e aumento nas vendas em bancas e assinaturas; e a segunda, dependendo financeiramente de anúncios publicitários (especialmente vindos do setor público) para manter a circulação em dia.

Não é preciso ser economista para entender que a segunda forma é mais fácil, mais lucrativa e corre-se menos risco. E como vivemos em uma época em que o que vale é a “lei do menor esforço”, a grande, quer dizer, a esmagadora maioria dos veículos de comunicação optou por lucrar desta forma. Quem ganha com isso? Os seus proprietários, que dormem tranqüilos (?!) em suas casas de luxo em condomínios e passeiam com seus carros importados sabendo que haverá sim recursos para manter o jornal em funcionamento. Quem perde? E precisa mesmo responder?

Vivemos então na era em que a frase de Nelson Rodrigues perde o sentido, pois agora toda unanimidade é correta! Viva a unanimidade! A “praga” invade todo o cenário nacional e as fontes deixam de serem fontes e passam a agir como editores dos jornais. Alguém acompanhou as estreitas relações entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o chefe da sucursal da “consagrada” Veja em Brasília, Policarpo Júnior? Pois é, se as coisas lá em cima acontecem assim, imagina nos menores veículos, em que a dependência financeira é ainda maior...

É cada vez mais comum então que a unanimidade dos discursos seja o imperativo na imprensa, especialmente nos menores veículos. Movidos pelo interesse (ou melhor, pela extrema dependência) financeiro(a) daqueles que ocupam o poder, os jornais (impressos, emissoras de rádio e TV) passam a levantar bandeiras conjuntas e, estranhamente, tudo passa a ser mais “normal” do que antes. O que outrora era passível de críticas, passa a ser encarado com naturalidade, como “desafios” e “percalços” de quem manda (de fato!)  E o interesse público? Quem mesmo?


terça-feira, 27 de março de 2012

O idioma nosso de cada dia

 Bernardo Rodrigues
Jornalista, Especialista em Filosofia, Mestre em Teoria da Literatura. Membro do grupo de pesquisa Intermídia, vinculado ao CNPq, com pesquisa sobre Semiótica e as relações entre literatura e outras artes.  Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Engenharias.



A dublagem de filmes estrangeiros exibidos na TV aberta e fechada está na pauta da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, e tem motivado uma série de críticas.
Um dos projetos que gerou mais polêmica é de autoria do deputado João Rodrigues (DEM de Santa Catarina), que defende que todo filme exibido seja dublado. No caso da TV por assinatura, 70% dos filmes devem ser dublados para o português. O deputado sugere ainda que, no caso da tecnologia SAP (Second Audio Program), em que o espectador pode escolher entre o áudio no idioma original ou dublado, a primeira opção seja sempre em português.
A preocupação do parlamentar é a de garantir que a população tenha pleno entendimento dos conteúdos da televisão. Ele afirma que a dificuldade do espectador em acompanhar as legendas prejudica a compreensão dos filmes: “acreditamos que a simples legendagem dos filmes não é suficiente, já que exclui um grande número de brasileiros que, seja por razões educacionais, seja por limitações visuais, não são capazes de compreender plenamente os conteúdos transmitidos nessas legendas. Além disso, a legendagem agrega pouco trabalho criativo nacional às obras estrangeiras, limitando assim a expansão da indústria criativa nacional”.
A proposta tem sido amplamente criticada na internet, com diversos argumentos. Alguns acham que, se o problema é a educação, que melhorem a educação, outros reclamam da qualidade das dublagens, outros argumentam que a dublagem ofusca a originalidade da interpretação dos atores no filme.
Entretanto, uma grande parte da população brasileira tem, sim, dificuldade para acompanhar as legendas. É fundamental que se melhore a educação no país, mas como ficam aqueles que não conseguem hoje acompanhar as legendas num filme? Até porque, da mesma forma como a dublagem nos impede de ouvir a intenção original do som no filme – as expressões, as intenções da fala, o sentimento etc. –, a legenda também exige que fixemos o olhar na parte baixa da tela, deixando passar muita coisa no entorno, podendo também prejudicar a percepção do filme, cuja linguagem é audiovisual. Inevitavelmente um brasileiro que só fale português perderá muito de um filme estrangeiro, seja ele dublado ou legendado.
Apesar das críticas, o projeto cumpre, sim, um papel de inclusão. Quem prefere o filme no idioma original pode apelar para a tecla SAP, ou correr para a locadora de vídeo. Afinal, o português ainda é o idioma nosso de cada dia.

Quem não aparece não é lembrado


Leonardo Marcos Rodrigues
Jornalista, Especialista em Liderança e Gestão de Pessoas. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Coordenador do Núcleo de Pós-Graduação da Faculdade Pitágoras Divinópolis/MG.




O ditado popular que abre esse artigo, mais do que nunca se aplica tanto para empresas quanto para os profissionais que atuam em um mercado cada vez mais competitivo e repleto de novas e boas oportunidades. Mas vale ressaltar que não basta apenas “existir” e esperar que por uma intercessão divina as oportunidades batam à sua porta. É preciso ir além e “aparecer”, mostrar seus potenciais e se “vender” diante dessas oportunidades.
A fórmula parece simples, mas, na prática, o que temos acompanhado é justamente o contrário. Empresas e profissionais, principalmente da comunicação, deixam escapar pelos dedos ótimas oportunidades justamente porque desapareceram diante de uma concorrência mais atuante e proativa, ou simplesmente porque ninguém sabia de sua existência.
Para as empresas, acredito fortemente que o desenvolvimento de estratégias de marketing é a solução para esse problema. Por exemplo, se você tem um produto ou um serviço que mais ninguém oferece, sua tarefa está bem fácil de ser executada. É fundamental que sejam criadas vantagens exclusivas para seus clientes. Seja qual for o caso, encontre as diferenças no seu produto ou serviço e capitalize em cima delas, sem deixar de lado um dos principais fatores que vai ajudar a criar esse diferencial competitivo: a divulgação através dos mais variados meios possíveis.
Uma dica de como encontrar esse diferencial para agarrar as oportunidades é colocar-se no lugar dos clientes. Aja (e pense) como eles agiriam. Pergunte-se por que seu concorrente consegue “aparecer” mais do que você, por que ele consegue mais oportunidades de negócios do que sua empresa. Creio que todos estes processos irão ajudá-lo a escolher as melhores estratégias para conseguir navegar em oceanos de águas calmas.
Já com relação aos profissionais, nada melhor do que o bom e velho marketing pessoal para trazer bons resultados. O professor Wagner Campos, especialista na área, dá sete dicas de como trabalhar melhor essa habilidade que tem feito o diferencial no mercado de trabalho. Aqui vão elas:

1. Você deve ter liderança, desenvolvendo assim habilidades de influenciar pessoas e ser um formador de opinião.
2.  Deve transmitir confiança aos seus chefes e companheiros de trabalho. Deve ser a pessoa que todos sabem que se algo precisa ser bem feito, tem que ser feito por você.
3. Precisa saber o que está fazendo e porque está fazendo. Fuja de fazer apenas algo que mandam fazer, sem saber do que se trata. Diferencie-se, torne-se um especialista em suas atividades e o motivo para a execução delas.
4.  Saiba trabalhar em equipe e administrar conflitos. Mesmo que você tenha mais habilidades em determinadas atividades, colabore para o desenvolvimento de seus colegas de trabalho. Afinal, uma equipe coesa produz mais, melhor e com maior satisfação.
5. Saiba valorizar seu trabalho e apresente bons resultados. Tenha uma boa visibilidade. Sempre que tiver oportunidade, além dos resultados apresente seus projetos e ideias, mesmo que informalmente.
6. Seja uma pessoa otimista e bem-humorada. Ninguém gosta de rabugentos, aqueles profissionais cuja presença faz murchar até o pequeno cacto ao lado da mesa. Pessoas otimistas e bem humoradas proporcionam um ambiente agradável e irradiam bem- estar a todos à sua volta.
7. Faça um bom planejamento de onde pretende chegar. Qual situação que almeja profissionalmente, e tenha paciência. Tudo acontecerá ao seu tempo desde que, obviamente, você direcione seus esforços para realizar-se, conforme o planejado.

E para finalizar, um toque especial, que foi o refrão da escola de samba Império Serrano, em 1987: “Quem não se comunica, Se trumbica e como fica, Fica na saudade, fica”. 

Se no for ao vivo, morre!


Laura Aguiar
Jornalista, Especialista em Ensino de Português, MBA em Gestão da Comunicação Integrada.
Professora da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda.




A vida como ela é já é uma arma pela disputa de audiência nas emissoras de rádio e TV. E a cada semana surgem programas, emissoras e iniciativas que reforçam essa constatação, como recentemente fez o SBT e a TV Alterosa incluindo em sua grade programas matutinos com conteúdo ao vivo. As justificativas vão desde o interesse mercadológico que perpassam pela audiência e, na minha leitura, um reflexo do novo comportamento do telespectador.
Os programas ao vivo, transmitidos ao mesmo tempo em que os fatos ocorrem, com narrativa simultânea dos acontecimentos, já nasceram com o rádio pelas suas capacidades técnicas que facilitam esse tipo de transmissão. E elas têm recebido inovações com as emissoras “all news” que ficam a todo o momento informando, contando histórias que estão se desenrolando no ritmo da vida das pessoas. No rádio dá para saber sobre a greve dos ônibus assim que ela começa e, com data, hora e minutos, sobre o trânsito, o acidente, a fila para entrar no show e as promoções de ultima hora do comércio. Mas isso era no rádio.
Na TV, inaugurada ao vivo, com toda a programação feita como se fosse um grande teatro, entregue à sorte dos improvisos, na marra, as coisas mudaram radicalmente desde a chegada do vídeo tape. O aparelho, gigantesco nos primórdios, hoje está inclusive nas máquinas caseiras e portáteis. A gravação revolucionou a produção televisiva e as entradas ao vivo foram perdendo status pela sua complexidade, e principalmente em nome da perfeição.
Entretanto, vislumbra-se uma nova revolução: a volta do ‘ao vivo’ nas emissoras de TV. Soa estranho dizer dessa volta em um veículo que tem tudo para ser a casa das transmissões simultâneas. Não era isso que ocorria. Hoje as iniciativas são muitas, como os telejornais que fazem edições especiais direto do local dos fatos, como na posse do Papa em que o Jornal Nacional montou um estúdio de frente para o Vaticano. No Jornal do SBT, repetido várias vezes na madrugada, as entradas ao vivo foram inseridas nas últimas repetições para dar um ar de novidade, de urgência, de novo, que, aliás, é uma das características do jornalismo.
E a disputa caminha para as emissoras menores. Aqui no nosso quintal vemos as emissoras locais imprimindo esse caráter de urgente, acompanhando o fato quando ele ocorre com os boletins durante a programação. Se tomarmos como base Minas Gerais também notaremos os investimentos nessa linha editorial. Como a TV Alterosa, exibindo o ‘Alterosa Alerta’ pela manhã, mostrando trânsito, manifestações, eventos, tudo ao vivo, ao mesmo tempo, com uma narração nervosa, cheia de improvisos, bem próxima da realidade.
Os motivos mercadológicos são óbvios. Não se pode ignorar a concorrência que usa constantemente o recurso do ao vivo. Ao usar essa forma de noticiar as emissoras mostram um perfil de atualidade, de competência em noticiar a vida como ela é. Na briga por verbas publicitárias, esse pode ser um diferencial importante.
Na minha análise, o principal motivo para as inovações, nem tão novas assim, tem a ver com uma questão de mudança de comportamento. E nós reproduzimos o que vigora na sociedade. Somos profissionais da vida, da realidade e muitos teóricos já trataram disso de forma científica. As produções midiáticas de um povo têm forte relação com sua formação cultural e a cultura de um povo é formada pelos comportamentos diários.
Nos nossos dias, com a modernidade e urbanização, a vida ficou mais premente e, portanto, as pessoas buscam atender suas necessidades de informação, papel cumprido pelos veículos de comunicação, também de forma urgente. Nas emissoras, programas que fogem desse formato tendem a perder audiência e, portanto, viabilidade econômica. Os novos formatos são uma resposta dos veículos de comunicação ao novo padrão social, impresso inclusive nos nomes dos programas e quadros: alerta, no ar, ao vivo, radar, em cima da hora. Além disso, com a chegada da internet, mais precisamente das redes sociais, as informações urgentes estão cada vez mais acessíveis. E com essa concorrência online, as emissoras são obrigadas a se adequar, mostrando o mais quente, o mais marcante, a vida como ela é.

Com diploma e com orgulho


Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais.
Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.



Já que o Carnaval passou e agora parece que o Brasil começa a funcionar de verdade, a classe jornalística aguarda ansiosa a votação em 2º turno da PEC 33/09, a PEC dos Jornalistas, de autoria do senador Inácio Arruda (PCdoB/CE). Aprovada em 1º turno no final de 2011, esta Proposta de Emenda à Constituição pretende regulamentar novamente a profissão de jornalista, exigindo a habilitação em um curso superior para a prática da profissão. Segundo as informações da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), um acordo de líderes partidários no Senado, no início de fevereiro, consagrou a perspectiva de votação da PEC dos Jornalistas em 2º turno após o Carnaval.
Os jornalistas profissionais e estudantes de Jornalismo aguardam com ansiedade a votação que, assim como no 1º turno no Senado, deve ser aprovada sem dificuldade. Há quem defenda que a PEC é discriminatória, classista e todos os adjetivos preconceituosos que venham à mente. Como jornalista formado e professor do curso, creio que, na verdade, a PEC foi votada a favor da sociedade como um todo, não apenas dos jornalistas. Isso porque, após passar pela votação no 2º turno no Senado e também em dois turnos na Câmara, será corrigido o que podemos classificar como um erro histórico do STF ao julgar improcedente a necessidade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão. Caso a PEC 33/2009 seja aprovada nas duas esferas legislativas, saem ganhando os profissionais, com mais valorização da sua profissão, os veículos, que poderão contar com profissionais mais bem preparados e qualificados e, acima de tudo, ganha a sociedade, que vai ter respeitado seu direito à informação por profissionais preparados para isso.
A aprovação da PEC e a nova regulamentação da profissão é um feito valioso para a categoria e estimulante para os estudantes que desejam seguir a profissão. Defendo a necessidade do diploma pois, além das técnicas de redação e apuração, o jornalista graduado tem noções importantíssimas para sua formação humana e cultural ao longo do curso, em matérias de Humanidades, Legislação e Ética, por exemplo, que somente a prática profissional não conseguem formar no indivíduo. Vamos ter, assim, uma seleção nivelada pelo alto, pela qualidade, e toda a sociedade ganha com isso.
É importante deixar claro, no entanto, que esta exigência de diploma diz respeito ao profissional que vai atuar como editor, repórter, produtor etc, enfim, em atividades realmente técnicas cuja formação acadêmica, em meu modo de ver, é essencial. Os colunistas e comentaristas, por sua vez, vão continuar a existir e não precisarão do diploma de Jornalismo para exercer estas atividades. Mas aquele profissional que atua na apuração, na redação e na edição de conteúdo jornalístico deve sim ter a sua graduação em curso superior específico da profissão. Talvez quem levante a bandeira contra a necessidade do diploma, com argumentos de que isso fere a liberdade de expressão (que é uma coisa totalmente distinta) seja alguém que tenha receio da investigação, apuração e redação jornalística feita por profissionais sérios e competentes.
Um exemplo disso é a defesa contra o diploma feita pelo atual senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL), que já sentiu na pele o que um trabalho sério, honesto e qualificado feito por jornalistas pode gerar para a sociedade. Logo, falar em ferir a liberdade de expressão é um argumento inválido, pois se formos levar ao pé da letra também posso me embasar e me manifestar diante de um Juiz e na defesa de direitos próprios (o que extinguiria a necessidade do diploma de Direito) ou teria, ainda, a possibilidade de me manifestar a respeito da forma correta de se erguer um edifício (extinguindo, assim, a necessidade do diploma das Engenharias), entre outras formas de “liberdade de expressão”.
Agora, nesta história toda, o mais incrível é que as previsões pessimistas de quem achava que a falta de exigência do diploma causaria uma baixa generalizada na procura pelo curso de Jornalismo foram totalmente refutadas. Nota-se isso pelo crescente aumento pela procura pelo curso em faculdades particulares (como no caso da Faculdade Pitágoras, por exemplo) e também em universidades públicas. O que aconteceu e, de certa forma, foi positivo, é que os alunos que entram para fazer o curso de Jornalismo são realmente decididos pela profissão. Isso porque mesmo sem a obrigatoriedade do diploma estes estudantes perceberam a importância da qualificação para melhor exercer a atividade, o que acaba elevando o nível dos profissionais formados no mercado.
Além disso, apesar da não exigência do diploma, os próprios veículos de comunicação continuam a contratar profissionais diplomados. Daí a necessidade, imposta pelo próprio mercado, da graduação em Jornalismo. Outras categorias profissionais que não necessitam do diploma para o exercício da profissão continuam a ser atrativas para os estudantes e o mesmo ocorre com o curso de Jornalismo. O que se esperava com a decisão do STF era a desvalorização salarial deste profissional, pois qualquer pessoa poderia exercer a profissão. Logo, se há um número maior de pessoas habilitadas a preencher determinada vaga, pelo entendimento do STF, o que ocorre é a baixa nos salários, pois haveria maior demanda e menor oferta de vagas. No entanto, não foi o que aconteceu e, caso a PEC venha a ser aprovada, haverá uma valorização profissional de toda a classe em nível nacional e toda a sociedade sairá ganhando com isso. É esperar para ver.

terça-feira, 6 de março de 2012

Simplificando a comunicação nas empresas

Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação   Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.



Uma das maiores dificuldades que empresários e trabalhadores encontram na atualidade diz respeito à comunicação. Por mais absurdo (e simples) que pareça, comunicar é um desafio e tanto para os atores sociais do mundo corporativo. Como tudo na vida, buscar o equilíbrio é o ponto ideal – e nem sempre fácil de ser alcançado. As dificuldades aparecem de forma quantitativa e qualitativa e é isso que pretendemos analisar neste artigo.
Os entraves à boa comunicação aparecem logo de cara, quando se tem uma organização como objeto de estudo. Influenciadas pelas questões modernas do marketing, que mostram a importância de um bom relacionamento entre patrões e empregados, não são raras as empresas que pregam aos trabalhadores a “liberdade” que eles têm para sugerir mudanças, fazer críticas, ficar frente a frente com os chefes e, na hora H, deixam todo o compromisso no discurso. E o pior: muitas vezes, o funcionário que se “atreve” a simplesmente usar alguns dos “direitos” que lhe foram concedidos, mas que vão contra o desejo da diretoria, acaba no olho da rua. E aí começa o drama.
As empresas sabem (ou, ao menos, deveriam saber) que a informação hoje é um bem valioso e muitas vezes erram na dose. Por excesso ou por falta. Os erros por falta, mais comuns, acontecem pelo desconhecimento de empresários, diretores e gerentes na capacidade mobilizadora da comunicação. Ora, aquele história de quem não se comunica se estrumbica é a mais pura verdade neste ambiente. Os funcionários que não sabem quais os objetivos da organização para a qual trabalham, não têm conhecimento das metas, dos processos e até mesmo dos planos, vão continuar trabalhando sem ao menos saber o motivo.
Claro que não estou falando aqui dos motivos pessoais e financeiros do trabalhador, que entrega sua força de trabalho em troca de um salário. Mas digo e sustento a informação de que vários trabalhadores não têm a mínima idéia do que se passa na cabeça daqueles que decidem os rumos das empresas. E aí a motivação (não aquela dos livros de auto-ajuda, mas o motivo que leva o sujeito a dar o melhor de si em busca do resultado) não ajuda. Fazer qualquer coisa, sem saber o porquê daquilo é muito desanimador, para não dizer desastroso.
O outro erro ocorre pelo excesso de informação. Sim, estes erros também acontecem. A facilidade de comunicação por email e por comunicadores instantâneos, por exemplo, é uma “mão na roda” para aqueles que fazem questão de dividir tudo com os colaboradores da empresa, até mesmo o que não precisa. Como esta nova tecnologia da informação prevê uma comunicação imediata, está começando a aparecer um novo tipo que costumo chamar de “mala corporativo”. Esta espécie, ainda em desenvolvimento no mundo organizacional, vem proliferando à medida em que novos dispositivos vão sendo lançados. Com a popularização do smartphone então, o “mala corporativo” faz questão de informar tudo a todos em todo o momento! Não há nem final de semana que resista.
O grande problema deste excesso de informações é que as pessoas acabam confundidas. Já vivemos hoje em um mundo em que somos bombardeados por informações o tempo todo: seja em casa, no lazer, no ambiente de trabalho. E, com o excesso de informação corporativa, o prazo para a recepção, o processamento e o entendimento das mensagens torna-se mínimo, o que faz, muitas vezes, a desinformação acontecer. Seria cômico se não fosse triste. O excesso de informação causa desinformação.
E este excesso é visto de duas formas principais: no número e na extensão de mensagens. No primeiro caso, o funcionário recebe tantas informações, ao mesmo tempo, que não dá conta de processá-las separadamente e acaba confundindo-as. No nível de stress que grande parte da população encontra-se hoje, é algo muito fácil de acontecer. Logo, erros como o acontecido na última semana, quando foi publicado, por engano, no Diário Oficial do TRT da Paraíba, uma carta de amor envolvendo dois funcionários, vão se tornar cada vez mais frequentes. Infelizmente, parece que o cérebro humano ainda não acompanha a velocidade de processamento das máquinas atuais.
O outro excesso diz respeito à extensão das mensagens. Na comunicação, mais especificamente no Jornalismo, aprendemos a nunca usar duas palavras onde podemos usar somente uma. E isso não é por uma questão de estilo, mas sim por uma questão de lógica. Assim como temos dificuldade em processar muitas informações distintas recebidas de uma só vez, também temos mais dificuldade em ler textos longos e complexos do que aqueles que contenham somente a informação necessária.
Não sei se para “embelezar” ou para qual outro fim, o meio corporativo passou a usar expressões rebuscadas para falar coisas simples. De repente, vendedor passou a ser consultor de vendas, faxineiro virou operador de limpeza e office boy foi elevado a agente de serviços externos. Demissões viraram desligamentos, problemas tornaram-se desafios e profissionais engajados são aqueles “que dormem e vivem pela empresa” (aliás, todos nós deveríamos ser assim segundo quem escreve, não?) Aí vem a pergunta: quem ganha com isso?
Se as empresas não passarem a enxergar a comunicação simples e eficiente como um elemento fundamental na gestão e não utilizarem as ferramentas corretas para isso, correm o sério risco de caírem fora do mercado. É preciso diferenciar quantidade de qualidade e buscar o equilíbrio entre a falta e o excesso de informação. Pode até não ser o ponto principal da gestão agora. Mas saber relacionar e comunicar são tarefas cada vez mais fundamentais na sociedade em que vivemos: a da informação. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ensino Superior e empregabilidade

Francisco Resende
Diretor-geral da Faculdade Pitágoras - Divinópolis - MG



Tive a honra de participar, na última semana, de um interessante e rico debate sobre educação superior, a convite do amigo e competente vice-prefeito, Francisco Martins, que conduz o excelente programa Ideias & Negócios, semanalmente, na TV Candides. Após uma hora elencando os principais problemas e as enormes possibilidades proporcionadas à carreira daqueles que buscam o Ensino Superior como uma forma de alavancar suas carreiras, acho extremamente importante estender este debate também nas páginas da Gazeta do Oeste e no blog Observatório de Mídia, uma vez que considero importante mostrar, com números e dados oficiais, como a decisão de se buscar uma maior qualificação no Ensino Superior pode abrir grandes portas no mercado.

Recentemente, o pesquisador Marcelo Neri, que é o atual diretor do Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia, órgão ligado à Fundação Getúlio Vargas (FGV), publicou alguns trabalhos que discutem problemas nas áreas de avaliação de programas sociais, mensuração de pobreza e desigualdade, economia do trabalho e microeconomia. Seu estudo mais recente, “Os Retornos da Educação no Mercado de Trabalho”, através de uma pesquisa que culminou com a elaboração um ranking nacional das profissões em todas as 27 unidades federais e nos 200 maiores municípios do país, tornou-se referência no assunto.

O estudo de Marcelo Neri procura responder diversas perguntas, entre elas: Em que carreira se ganha mais? Quem tem mais chance de conseguir um emprego? Qual a profissão que tem a maior jornada de trabalho? Além disso, o pesquisador também fala dos desafios do ensino superior no Brasil e poder de inclusão social da educação. Sua entrevista à revista Ensino Superior, edição 87, na qual ele revela todos os resultados desta pesquisa, é extremamente reveladora e tentarei discutir alguns pontos que considero importantes.

De acordo com Neri, é legítima e inquestionável a importância do Ensino Superior como porta de entrada para os melhores e mais bem remunerados empregos. Além disso, a pesquisa revela que, independentemente da carreira e da área de atuação, fazer um mestrado ou doutorado confere um nível de remuneração sempre maior do que aquela que só tem graduação ou apenas o ensino médio, além de ser um diferencial na disputa pelos cargos mais bem remunerados. Outro dado interessante é que, segundo a pesquisa, o ápice profissional de um indivíduo se dá, normalmente, aos 45 anos, e o ápice da remuneração ocorre aos 51 anos. Ou seja, não adianta querer dominar o mercado em curto prazo, pois aumenta também a altura do tombo.

Outra questão interessante. Segundo Neri, em Brasília a carreira de maior remuneração não está na política e nem na medicina, mas na publicidade. Lá, os maiores salários são dos publicitários, muitos deles possuindo apenas o nível de graduação. No Rio de Janeiro, são os advogados com mestrado ou doutorado possuem os melhores salários. Fato que contraria o achismo de muitas pessoas que acreditam que existem bons empregos apenas para médicos e outros profissionais de saúde.

A pesquisa fornece um retrato da relação Ensino Superior x Empregabilidade. Em termos relativos, o Brasil tem poucas pessoas com nível de graduação comparado a outros países, apesar do crescimento acumulado de 27% nos últimos anos (30% no ensino superior privado e 15% no público). Hoje em dia, 75% dos estudantes do ensino superior no Brasil estão nas universidades privadas, contra 25% das públicas. Utilizando ainda os dados do Censo do IBGE, entre as pessoas com 15 a 65 anos, mais de 5,3 milhões possuem curso de graduação. Por fim, o estudo revela que o Brasil tem hoje 162 mil profissionais com mestrado e doutorado, um índice muito pequeno se comparado aos países desenvolvidos.

Na entrevista, Marcelo Neri comunga do mesmo pensamento que divido com todos em apresentações e até mesmo em conversas esporádicas. Por isso, faço questão de reproduzi-la na íntegra: “O Brasil tem muito caminho pela frente, mesmo comparando aos nossos vizinhos latino-americanos. Principalmente, quando vemos que a velocidade e demanda por trabalho qualificado tem aumentado. Há, de fato, um certo descompasso. Faltam pessoas qualificadas com o ensino superior”. As oportunidades estão aí...