segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Protestos virtuais: o outro lado


 
 
Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.



Nunca um artigo nesse espaço gerou tanta repercussão (contrárias e favoráveis) como o último, “Protestos virtuais” (apesar da maior parte deles ficar restrita ao ambiente virtual, confirmando o que o próprio artigo expõe). Após a publicação de um texto endossando o seu conteúdo na última semana (brilhante, aliás, escrito com maestria pelo amigo, professor, jornalista e Mestre, Bernardo Rodrigues), nesta semana acho justo e democrático oferecer o espaço para uma visão contrária à exposta originalmente. Recebi da redação do jornal Gazeta do Oeste uma “carta argumentativa”, sem título e assinatura, contestando o conteúdo do “Protestos virtuais”. Parece ser de autoria de Igor Bastos (faço a afirmação com base no endereço de email do autor da “carta”, encaminhado a este articulista).

 

Apesar do anonimato, creio justo contrariar um pouquinho a Constituição que assegura a “liberdade de expressão”, em seu artigo quinto, pelos incisos “IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” e “IX- é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença”. Portanto, segue abaixo a íntegra da “carta argumentativa” recebida na última semana. Na próxima (por questão de espaço não será possível comentá-la hoje), tentarei fechar o assunto por meio de uma análise sobre o próprio fenômeno que o artigo original gerou.

 

“Divinópolis, 15 de Novembro de 2012

Prezado Ricardo Nogueira,

A preocupação do senhor com os jovens é legítima e merece o apoio da sociedade, mas existem alguns pontos que devemos ressaltar. No artigo ‘Protestos Virtuais’, (Jornal Gazeta, 12/11/12), o senhor diz que a rede social gerou apenas protestos de mentirinha, o que muito me assusta. Como o senhor já sabe, e tem acompanhado, desde 2010 estão em noticiários de todo os países os protestos no mundo árabe, conhecidos como ‘Primavera Árabe’, nos quais o povo luta por direitos iguais e democracia. Como jornalista o senhor tem conhecimento do papel fundamental das redes sociais para que essas pessoas pudessem se conectar, mobilizar e lutar em meio a ditadura.

Mas eu entendo a sua preocupação, a rede social também tem gerado protestos inválidos, como o viral de 1 ano atrás que voltou com força em 2012, o ‘Protesto Gota D’água’ e vale lembrar que o vídeo foi feito por artistas de televisão. Graças aos estudantes da USP (Geração M), em conjunto com um professor, fizeram um vídeo resposta, desmascarando todas as falácias ditas em tal vídeo. O senhor deve lembrar muito bem desse episódio que foi capa de todas as principais ‘mídias físicas’ de nosso país.

O senhor cita também os revolucionários do passado como exemplos. A geração M nasceu sem ditadura e sem o medo da inflação. A conexão com o mundo, cada vez mais digital, cria uma nova forma de se relacionar. Sem limites físicos ou sociais, a internet é a nova forma de organizar o jeito de pensar do jovem. O modelo que foi válido até os anos 90 não faz mais sentido hoje. O engajamento político daquela época exigia mais sacrifícios. Um abandono a uma questão individual para se integrar inteiramente a um objetivo. Hoje, desejos individuais, como o caso dos Índios Guarani, são expostos nas redes, e rapidamente pessoas com os mesmos interesses e opiniões se conectam e começam a se movimentar, criando pequenas revoluções para tentarem mudar a sua comunidade local ou um coletivo maior.

A nota mais lamentável do texto é quando o senhor se refere aos flash mob’s (Pillow Fight e Zombie Walk). Fui um dos idealizadores de ambos em nossa cidade e entendo muito bem do assunto. Um flash mob nada mais é que uma aglomeração instantânea de pessoas para realizar determinada ação inusitada previamente combinada. Essas ações não têm o intuito de revolucionar o planeta, e pessoalmente não creio que os flash mob’s mudarão algo ou melhorarão a vida de alguma pessoa. O objetivo principal do flash mob é a diversão. Quando analisado socialmente, o senhor verá que existem pessoas de diferentes posições políticas interagindo, bem como pessoas racistas com pessoas de outras raças, pessoas homofóbicas com pessoas homossexuais, etc. Nada tão sério ao ponto de mudar os pensamentos, porém é um fator interessante a ser observado.

Eu entendo a sua crítica, mas creio que é melhor um jovem se divertir vestido de zumbi ou interagindo com seus amigos da internet, do que ir a um bar ou festa ‘encher a cara’, sem ter ao menos 18 anos, o que tem sido cada vez mais freqüente em nossa cidade. Não digo que os frequentadores de flash mobs não fazem isso. Reafirmo que o intuito desses movimentos é apenas criar uma via alternativa de diversão, nada mais que isso. Outro ponto importante que devo citar, é que, graças a rede de contatos que construí com essas mobilizações em 2011, foi possível ajudar o professor Juarez Nogueira, e outros amigos da Geração M, a encher a Câmara Municipal contra o aumento do salário dos vereadores, um acontecimento nunca visto em Divinópolis, onde estavam presentes muitos dos jovens que participaram dos flash mobs, justamente por serem os mais atuantes na Internet em nossa cidade.

Não faz diferença se estamos na rua ou na internet, a realidade é de comodidade, como o senhor mesmo disse. Precisamos de mais gente com o pensamento de mudança, assim como o senhor e eu. Fazer um protesto nas ruas com 3 pessoas não irá nos levar a lugar algum. Mas eu acredito que um futuro melhor está por vir, onde jovens líderes possam contribuir para mudar a nossa realidade. Onde utilizemos a rede social não apenas pra namorar ou fazer festa, mas para nos mobilizarmos efetivamente e construirmos nossas opiniões de uma forma mais concreta e sem hipocrisias. Onde as pessoas realmente se importem com o coletivo, para tornar o mundo cada vez melhor. Que se manifestem de forma a levar ao conhecimento das autoridades o verdadeiro pensamento coletivo. Mas o papel da rede social não é educar e conscientizar, a rede social nada mais é que um veículo de mídia, uma ferramenta, assim como toda a Internet. Se teremos jovens politizados ou não, dependerá do acesso a educação e cultura de qualidade. Agora é como eu sempre digo, se nós jovens ficamos quietos, somos ‘alienados’, se vamos pras ruas somos ‘baderneiros’. Independente do que aconteça, sempre haverá alguém reclamando no conforto do sofá de casa”.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Protestos virtuais e o fetiche da crítica



Bernardo Rodrigues Espíndola
Jornalista, Especialista em Filosofia, Mestre em Teoria da Literatura. Membro do grupo de pesquisa Intermídia, vinculado ao CNPq, com pesquisa sobre Semiótica e as relações entre literatura e outras artes.  Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Engenharias.



“Protestos virtuais”. Este foi o título de um artigo publicado pelo colega professor e jornalista Ricardo Nogueira sobre a atuação crítica da juventude nas redes sociais digitais. E foi quando li o texto do Ricardo que decidi escrever um pouco sobre essas novas formas comunicação que surgem com a internet e seus hipertextos, neste mundo de simulacros, hiperrealidade e hiperatividade.

Às vezes, parece que a linguagem passa mesmo por um esvaziamento do sentido, uma desconexão cada vez maior entre o discurso e o mundo atual. Enquanto isso, as pessoas tornam-se cada vez mais dispersas, desengajadas, desatentas. Nesse sentido, até que ponto podemos falar de uma consciência crítica que se fortalece com a internet? Se é que podemos falar em fortalecimento de alguma crítica... O que percebo em ambientes como o Twitter, Facebook etc. é mais um processo de “fetichização” da crítica do que mesmo uma crítica.

Vemos cada vez mais a proliferação de um discurso que gira em torno de si mesmo e se sobrepõe à realidade ou a uma efetiva ação, além da ação de dizer e expor uma indignação. O importante parece que é mesmo ir para a internet, “rodar a baiana” e esperar que mais gente entre na roda. Se bombar, já valeu o protesto.

Pior ainda é o protesto e a mobilização virtual em defesa do imbróglio. É o caso da campanha do voto nulo, que, como tantas outras semelhantes, circulou pelo Facebook. A campanha incentivava o voto nulo com o argumento de que, se mais da metade dos eleitores anulasse o voto, haveria novas eleições. Falácia pura. Isso não está previsto na lei; e, se estivesse, que vantagem traria? Por outro lado, a internet tem permitido uma onda de denúncias irresponsáveis, quase sempre mentirosas, que se escondem por trás do anonimato virtual para promover difamação e injúria. Seria essa a contribuição da internet para a Democracia? Isso é um atentado à Democracia, cada vez mais praticado no Brasil inteiro e que não se limita aos sites de relacionamento.

O fato é que a reclamação vigora; os protestos virtuais pululam. E a crítica responsável, coerente, sensata torna-se cada vez mais rara. Fica o discurso sem fundamento, girando em torno de si mesmo – fica o fetiche da crítica. Isso me lembra o pensamento de Jean Baudrillard sobre a espetacularização da realidade. Já que a distorção do pensamento do filósofo francês já inspirou até filme (Matrix), pode render alguma reflexão aqui também. Se Baudrillard mostra que, na cultura contemporânea, os sistemas de signos operam no lugar dos objetos, o que vemos nos “protestos virtuais” não é algo muito diferente: é o discurso da mobilização no lugar da mobilização – a crítica convertida em espetáculo.

Nesse cenário, não importa se a crítica tem fundamento ou não, se a denúncia é verdadeira ou não, se as propostas são viáveis ou não. O que importa é criticar, denunciar, protestar e tornar-se um espetáculo. O que importa é a próxima atualização do perfil e suas respectivas curtidas, compartilhamentos, comentários etc. Atualmente, busca-se mais a proliferação de um discurso de protesto do que o seu resultado. Esse efeito viral quase sempre não garante resultado nenhum além de mais uma moda fugaz que se dissolve em poucos dias.

Não se pode generalizar, claro. Afinal, casos de sucesso de flashmobs e outras ações que saem da internet para as ruas existem aos montes por aí. É o caso dos desfiles de fantasiados, guerras de travesseiros e outras festas que mostram que as redes sociais não são apenas digitais, elas extrapolam a internet, especialmente quando não tem função nenhuma além da simples diversão e entretenimento. Como tantos protestos online, elas esgotam-se em si mesmas e revelam mais uma vez que o que importa é mesmo “curtir”.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Protestos virtuais

 
Ricardo Nogueira
Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da Faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
 


 
“Seria mais fácil fazer como todo mundo faz. O milésimo gol sentado na mesa do bar”. A frase, extraída da música “Outras Frequências”, do artista gaúcho Humberto Gessinger, mostra bem a situação em que vivemos atualmente. A promessa da internet e suas quebras de fronteiras culturais e sociais, ao contrário do previsto, não gerou jovens mais politizados e atuantes. Ao invés disso, temos cada vez mais protestos de mentirinha, revoluções no sofá e pessoas extremamente corajosas protegidas pelo falso anonimato da rede mundial de computadores. É uma atualização das pessoas que, na minha infância, eram acusadas de “jogar bolinha de gude no tapete” ou de “soltar pipa no ventilador”.

A geração M (mundi, millenium, multimídia) é hoje campeã dos protestos virtuais. Recentemente, uma mobilização entre os “facebookeiros” tomou conta de todo o país. As pessoas, com indignação frente a uma possível retirada de determinada tribo indígena de seu habitat em virtude da necessidade progressista, resolveram protestar. E fizeram isso da seguinte forma: inseriram entre seu primeiro nome e o sobrenome alguns nomes indígenas, tais como Guarani-Pataxó. Então, um João da Silva qualquer passou a se chamar, no Facebook, João Guarani Pataxó da Silva. Seria engraçado, se não fosse triste.

E essa tristeza vem da passividade da juventude em suas formas de reivindicação. O impressionante é que, para contestar pais, parentes, amigos ou (especialmente) professores, há uma agressividade e uma intensidade física fora do comum. Mas se é para apoiar a tribo indígena, lutar pelos direitos dos pandas chineses ou protestar contra um governo corrupto, a internet parece ser o lugar ideal e mais seguro. Ponto para a tecnologia.

Num passado bem recente, a juventude, responsável pelas principais mudanças revolucionárias da História, ainda possuía uma atividade intensa em seus movimentos sociais. No Brasil mesmo, as décadas de 1980 e 1990 foram palco de duas grandes manifestações populares, lideradas pela juventude, que geraram resultados positivos para a questão democrática. Mesmo quem não teve a oportunidade de participar, com certeza conhece a campanha pelas “Diretas Já” e os “caras-pintadas” que ajudaram a derrubar o então presidente Fernando Collor.

Hoje, além das diversas mobilizações virtuais, os jovens também vão para as ruas em ocasiões especiais. No entanto, os motivos são outros. No começo desse mês tivemos um claro exemplo disso. Em “comemoração” (?!) ao Dia de Finados, centenas de jovens (inclusive em Divinópolis) tomaram as ruas e pintaram suas caras. Não, não era um protesto contra a desigualdade social, contra a corrupção ou em defesa de uma causa ambiental. O motivo é chamado de “Zombie Walk Day”, ou seja, uma imitação de uma tradição estadunidense em que as pessoas, em referência aos “mortos-vivos”, se vestem e se maquiam com temas de terror. E tem havido, ainda, uma outra grande mobilização na cidade nos últimos anos. Trata-se da Guerra de Travesseiros (Pillow Fight Day), que reúne a “nata” da juventude virtual em alguns dos poucos momentos de contato físico. Esta é a diferença entre as mobilizações de ontem e de hoje.

Não é preciso ser psicólogo ou analista social diplomado para perceber o quanto essas mudanças estão reinventando a forma de relacionamento entre as pessoas. O tema é extremamente amplo e as discussões são muitas para caber neste espaço. Até mesmo porque não só de coisas ruins é feito o ambiente virtual. O polêmico blog “Diário de Classe”, feito pela adolescente catarinense Isadora Faber, é um exemplo disso. Ela utilizou a internet como forma de denúncia para os problemas encontrados na estrutura escolar. Mas, nesse caso, a rede é usada apenas como ponto de partida, e não de chegada.

Já que atitudes como essa são infinitamente mais raras do que os protestos virtuais, fica a esperança de que a juventude entenda que há vida além da net. E, principalmente, que aproveite as oportunidades que a rede mundial de computadores gera para iniciar as mobilizações, mas não para terminarem ali. É fato que fazer o milésimo gol sentado na mesa de um bar, no conforto de um sofá ou em frente ao computador é mais fácil. É por isso que, apesar das críticas, Túlio Maravilha é um sujeito a se admirar. Afinal, tentar fazer o milésimo gol em um campo de verdade exige mais talento e vontade do que fazê-lo no Playstation.  

 

 

 
 

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cultura caça-níquel

Ricardo Nogueira

Jornalista, Especialista em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão da Comunicação Integrada, Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais, Mestrando em Educação Tecnológica. Professor da faculdade Pitágoras nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Gestão Comercial.
 

 
 
Cena comum hoje em dia é ver adolescentes carregando para cima e para baixo livros enormes com enredos sobre guerras entre humanos, “elfos” e demais criaturas estranhas nos chamados “reinos distantes” ou encantados. Aliás, não é de hoje que a procura pela literatura fantasiosa desperta atenção na população. Em menos de uma década tivemos o auge de histórias sobre jovens bruxinhos e ainda sobre os vampiros, que voltaram a ficar na “moda” depois de certo tempo esquecidos. O que vale a pena analisar, nesses casos, é como a mídia consegue impor produtos “culturais” e, de certa forma, estabelecer os padrões de gostos que moldam uma geração inteira.

Esse aparato midiático não se resume à literatura. A consequência imediata deste boom reflete-se também em outras mídias como nas revistas, na TV, no cinema e na internet. Parece que é tudo planejado. Basta uma obra literária começar a fazer sucesso que surge a notícia de que seus direitos foram vendidos para a produtora X e que, em breve, começa a ser produzido o filme referente ao livro. É neste ponto que os preguiçosos se deleitam. Ao ouvir falar que determinada história vai acabar nas telonas, pensa-se: “Para que gastar meu tempo lendo um livro se em breve posso assistir ao filme?”

E assim vai sendo moldado o gosto de toda uma geração. Seja na literatura, no cinema, na TV, na música, o que importa é estar por dentro do que a mídia impõe e ter os discursos prontos na ponta da língua. Sair fora disso é perda de tempo e faz com que o adolescente seja visto como um “estranho no ninho”. Em um período tão conturbado da vida, em que o sujeito busca sua afirmação perante a sociedade, o trauma de sair fora desse caminho pode ser catastrófico. Então, resta sucumbir ao desejo popular e gostar de tudo o que vem sendo imposto. Yes!

As empresas de entretenimento é que vibram com essa situação. Sabendo que sempre haverá demanda por esse tipo de produto cultural midiático massificado, os investimentos se multiplicam na certeza de que um futuro promissor virá por aí. E geralmente vem. Como estratégia certeira basta apostar no que está “na moda” e nadar em piscinas de lucro depois.

Há tempos não muito distantes uma das principais críticas dos estudiosos da chamada “Indústria Cultural” dizia respeito ao famoso “jabá”, referenciando as influências econômicas e políticas que faziam com que determinados artistas estivessem sempre nos primeiros lugares entre as músicas mais tocadas pelas rádios. A prática, tão antiga quanto o próprio meio, deixou de ser tão discutida com a chegada da internet e a suposta democratização do acesso à cultura. No entanto, apesar da real oportunidade do sujeito buscar na rede mundial de computadores algo diferente do estabelecido pelo mainstream, fica claro que esta não é uma opção válida, ao menos se ele quer manter as aparências de sociabilidade. Então, tome sertanejo universitário, funks e todo e qualquer tipo de compartilhamento de lixo cultural.

O alemão Walter Benjamim, na primeira metade do séc. XX, já enunciava a “morte da aura” artística devido a sua possibilidade de reprodução em larga escala. Talvez hoje ele tivesse que ser internado em um manicômio, por não suportar ver a oportunidade desperdiçada pelas pessoas que, com acesso quase irrestrito a um gigantesco universo cultural via internet, preferem consumir o que lhes é imposto pela mídia sem a mínima crítica. Esses tempos modernos...

Por fim, fica a receita para os pseudoempreendedores culturais em busca de retorno rápido: procure um tema que não vem sendo tratado há algum tempo (algo como um grupo de jovens japoneses que se transformam em super-herois e lutam contra o mal, bem “anos 80”), produza um best-seller (até mesmo porque eles já são produzidos por encomenda), venda logo seus direitos cinematográficos e, claro, não se esqueça de preparar os dois sucessores para formar uma trilogia. É sucesso garantido! Não foi assim com os elfos, os vampiros, os bruxinhos alquimistas? Creio que uma versão contemporânea de Jaspions, Changemans ou até mesmo Power Rangers pode sim “causar”! Afinal, neste mercado o que vale é entregar produtos revisitados de digestão fácil, certo? E viva Lavoisier com seu “nada se cria, tudo se transforma!”