quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ensino Superior e empregabilidade

Francisco Resende
Diretor-geral da Faculdade Pitágoras - Divinópolis - MG



Tive a honra de participar, na última semana, de um interessante e rico debate sobre educação superior, a convite do amigo e competente vice-prefeito, Francisco Martins, que conduz o excelente programa Ideias & Negócios, semanalmente, na TV Candides. Após uma hora elencando os principais problemas e as enormes possibilidades proporcionadas à carreira daqueles que buscam o Ensino Superior como uma forma de alavancar suas carreiras, acho extremamente importante estender este debate também nas páginas da Gazeta do Oeste e no blog Observatório de Mídia, uma vez que considero importante mostrar, com números e dados oficiais, como a decisão de se buscar uma maior qualificação no Ensino Superior pode abrir grandes portas no mercado.

Recentemente, o pesquisador Marcelo Neri, que é o atual diretor do Centro de Políticas Sociais do Instituto Brasileiro de Economia, órgão ligado à Fundação Getúlio Vargas (FGV), publicou alguns trabalhos que discutem problemas nas áreas de avaliação de programas sociais, mensuração de pobreza e desigualdade, economia do trabalho e microeconomia. Seu estudo mais recente, “Os Retornos da Educação no Mercado de Trabalho”, através de uma pesquisa que culminou com a elaboração um ranking nacional das profissões em todas as 27 unidades federais e nos 200 maiores municípios do país, tornou-se referência no assunto.

O estudo de Marcelo Neri procura responder diversas perguntas, entre elas: Em que carreira se ganha mais? Quem tem mais chance de conseguir um emprego? Qual a profissão que tem a maior jornada de trabalho? Além disso, o pesquisador também fala dos desafios do ensino superior no Brasil e poder de inclusão social da educação. Sua entrevista à revista Ensino Superior, edição 87, na qual ele revela todos os resultados desta pesquisa, é extremamente reveladora e tentarei discutir alguns pontos que considero importantes.

De acordo com Neri, é legítima e inquestionável a importância do Ensino Superior como porta de entrada para os melhores e mais bem remunerados empregos. Além disso, a pesquisa revela que, independentemente da carreira e da área de atuação, fazer um mestrado ou doutorado confere um nível de remuneração sempre maior do que aquela que só tem graduação ou apenas o ensino médio, além de ser um diferencial na disputa pelos cargos mais bem remunerados. Outro dado interessante é que, segundo a pesquisa, o ápice profissional de um indivíduo se dá, normalmente, aos 45 anos, e o ápice da remuneração ocorre aos 51 anos. Ou seja, não adianta querer dominar o mercado em curto prazo, pois aumenta também a altura do tombo.

Outra questão interessante. Segundo Neri, em Brasília a carreira de maior remuneração não está na política e nem na medicina, mas na publicidade. Lá, os maiores salários são dos publicitários, muitos deles possuindo apenas o nível de graduação. No Rio de Janeiro, são os advogados com mestrado ou doutorado possuem os melhores salários. Fato que contraria o achismo de muitas pessoas que acreditam que existem bons empregos apenas para médicos e outros profissionais de saúde.

A pesquisa fornece um retrato da relação Ensino Superior x Empregabilidade. Em termos relativos, o Brasil tem poucas pessoas com nível de graduação comparado a outros países, apesar do crescimento acumulado de 27% nos últimos anos (30% no ensino superior privado e 15% no público). Hoje em dia, 75% dos estudantes do ensino superior no Brasil estão nas universidades privadas, contra 25% das públicas. Utilizando ainda os dados do Censo do IBGE, entre as pessoas com 15 a 65 anos, mais de 5,3 milhões possuem curso de graduação. Por fim, o estudo revela que o Brasil tem hoje 162 mil profissionais com mestrado e doutorado, um índice muito pequeno se comparado aos países desenvolvidos.

Na entrevista, Marcelo Neri comunga do mesmo pensamento que divido com todos em apresentações e até mesmo em conversas esporádicas. Por isso, faço questão de reproduzi-la na íntegra: “O Brasil tem muito caminho pela frente, mesmo comparando aos nossos vizinhos latino-americanos. Principalmente, quando vemos que a velocidade e demanda por trabalho qualificado tem aumentado. Há, de fato, um certo descompasso. Faltam pessoas qualificadas com o ensino superior”. As oportunidades estão aí...