quinta-feira, 31 de março de 2011

José Alencar: exemplo de ética e amor pela vida

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras – Divinópolis-MG


Faleceu, na ultima terça-feira (29/03), um dos maiores ícones da história política brasileira. Em função de sua intensa luta contra um câncer durante mais de 13 anos, com dezenas de internações e cirurgias de urgência, José Alencar tornou-se também um símbolo de luta e de amor incondicional pela vida. Tive o enorme privilegio de poder assistir a uma palestra do ex vice-presidente da República, em Brasília, na entrega do prêmio Prefeito Empreendedor do Sebrae, em 2010, e pude perceber o quão especial era este cidadão, com uma riquíssima  história de vida que, em breve, com certeza, será tema de livros e filmes. Um verdadeiro exemplo de cidadão em um país cada vez mais carente de pessoas idôneas e de caráter. Ainda mais na política...

José Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e deixou três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia. E deixa para o Brasil alguns legados políticos que poderiam se tornar uma cartilha para aqueles que, pelo simples fato de estarem em Brasília, se consideram donos do poder. Em 8 anos de governo do PT, Alencar assumiu o posto maior do executivo durante 398 dias. Ou seja, por mais de um ano, foi, de direito, o presidente de nosso país, fato este que podemos nos orgulhar. De vendedor de tecidos a industrial, a trajetória de José Alencar Gomes da Silva se divide entre o empresário que fundou um dos maiores grupos têxteis do país e o político que só iniciou a vida pública em 1994 e chegou à vice-presidência após ser disputado por diversos partidos.

Politicamente falando, José Alencar foi o ícone de uma das mais polêmicas e vitoriosas alianças da história do Brasil. O perfil de homem simples e empreendedor, a imagem de político liberal, as críticas ao governo e a proximidade com o empresariado tornaram o então senador um dos políticos mais disputados pela oposição nas eleições de 2002. Seu carisma e conhecimento político converteram-se na aliança entre PT e o PL, em junho de 2002, e à formação da chapa vitoriosa com Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais daquele ano. Um marco da nossa história política. Uma aliança que, mesmo contestada por muitos, deu origem a um dos governos mais reconhecidos de nossa história. É interessante lembrar que, na época, a aliança com Lula foi apelidada de “Romeu e Julieta” pelos opositores. Dois homens de origem parecidas, que governaram o país por dois mandatos e que conseguiram o maior índice de aprovação popular de toda a história da nossa democracia.

Mesmo durante o governo do PT, Alencar jamais abriu mão de seus princípios éticos. Em 2005, em meio à crise do mensalão, que atingiu em cheio o PL (partido ao qual pertencia e era um dos líderes mais influentes), José Alencar desligou-se do partido e participou da fundação do Partido Republicano Brasileiro (PRB), pelo qual elegeu-se, na chapa com Lula, para o segundo mandato como vice-presidente. E se não fosse o terrível câncer no abdômen contra o qual lutara durante anos, Alencar teria ocupado, com enorme índice de votos, uma cadeira do Senado Federal. Que descanse em paz um dos políticos mais éticos do Brasil. Justo em um momento da nossa história em que nos orgulhamos pelo simples fato de ainda existirem políticos com um pouco de ética...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Feliz Dia do Repórter

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras/Divinópolis


No último dia 16 de fevereiro comemoramos uma data emblemática para a consolidação da democracia em nosso país: o dia do repórter. Não há dúvidas de que quando Gutenberg inventou a imprensa, há mais de 5 séculos e sem nenhum mecanismo tecnológico, ele jamais imaginava o quanto revolucionaria o mundo. A ponto de levar sua grande invenção a ser considerado o quarto poder em todo o mundo!

A figura do repórter merece enorme destaque em todos os principais acontecimentos que mudaram a história da sociedade, desde uma mobilização de bairro até a derrubada de importantes líderes políticos como Fernando Collor de Melo, Saddan Hussein e, mais recentemente, o presidente do Egito, Hosni Mubarak. Afinal de contas, os repórteres estão, mais de que nunca, em todas as mídias, seja o jornal, a TV, o rádio, a Internet. Até nas mídias sociais virtuais a notícia, de forma profissional e segura, anda tomando seu lugar.

No seu conceito mais simplório, o repórter, na busca pela verdade, desempenha o trabalho de um verdadeiro investigador. Técnica, coragem, conhecimento e, acima de tudo, ter uma rede de relacionamentos e de contatos ampla e de confiança são atributos primordiais para um bom repórter. Não basta apenas descobrir a informação. É preciso saber contá-la através de uma linguagem clara, objetiva e acessível ao seu público. Além de ser um bom técnico, é fundamental conhecer o seu público, saber se comunicar com ele. E isso não são todos os repórteres que sabem fazer. Em algumas situações, a falta de alguns anos na Faculdade de Jornalismo pesa em momentos decisivos.

Na TV, por exemplo, o repórter é quem faz a matéria junto com uma equipe de externa (repórter cinematográfico e auxiliar). Não existe telejornal sem a equipe. A função do repórter é produzir a matéria. Deve preocupar-se com texto e imagem, deve casar as entrevistas com as informações disponíveis no texto, deve também preocupar-se com postura, voz e aparência, deve dividir todas as informações com a equipe para que todos saibam o objetivo da matéria. Parece complicado? É sim, por isso insisto cada vez mais em um preparo acadêmico cada vez mais intenso para que esta nobre função não seja descaracterizada. A Faculdade é fundamental para um repórter diferenciado.


Apesar das mudanças de cenário econômico e tecnológico, o repórter terá sempre seu espaço garantido. Matéria recente do Portal Imprensa reafirma esta opinião. "A função do repórter é a única que vai sobreviver no jornalismo do futuro. Sempre vamos precisar, no futuro, de alguém que pergunte". As palavras do jornalista Paulo Totti, do Valor Econômico, deram início ao primeiro painel do Seminário "Jornalismo do futuro e o futuro do jornalismo", realizado pela publicação acima citada. Ou seja, enquanto uns discutem o futuro do jornalismo e como ele se adaptará às mudanças tecnológicas, outros pesquisas as melhores formas de se adaptar e se diferenciar neste novo mercado.

Em homenagem ao dia do repórter, gostaria de personificar, na brilhante postura pessoal e profissional do nobre colega Evandro Araújo, da TV Alterosa, que escreve semanalmente neste jornal e justamente ao lado deste espaço, uma homenagem a todos os repórteres que fazem do bom e ético jornalismo uma bandeira para que nossa cidade e nossa região possa ter a visibilidade que merece. Levando sempre informação de qualidade e com credibilidade aos lares de toda a região Centro-oeste. Meus parabéns a todos os repórteres!

segunda-feira, 28 de março de 2011

Família ilustre!

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras/Divinópolis-MG


Na última semana, após fazer menção ao Dia do Repórter, oportunidade em que expressei a importância da data na figura do competente jornalista Evandro Araújo, da TV Alterosa, recebi um amável email que muito me enobreceu e emocionou. O mesmo partiu do respeitado escritor e colunista deste jornal, Lázaro Barreto, que com belas palavras externou o resultado de uma instigante pesquisa feita pelo nobre amigo, que culminou com a descoberta de um parentesco entre este que vos escreve, o jornalista homenageado no texto da última semana (Evandro Araújo) e o próprio Lázaro Barreto. Texto este que, pela graciosidade das palavras escritas e a importância que para mim representou, faço questão de reproduzi-lo na íntegra:

“Lendo a amável menção do Francisco a respeito do colega de página da "Gazeta do Oeste", ocorreu-me que ambos são primos entre si (e também de minha humilde pessoa). No livro que pesquisei, descrevi a ascendência e a descendência de Antonio José de Oliveira Barreto, nascido em Guimarães, Portugal, l767, e que, vindo para o Brasil como "Solicitador de Causas" (advogado), casou-se primeiramente com Anna Joaquina Cândida de Castro e depois com Felizarda Maria de Jesus. Com a primeira teve os filhos Bernardo (de quem descendemos) e a filha Francisca (casada com Vicente Ferreira do Amaral). A descendência do casamento com a Felizarda está sendo objeto de uma pesquisa (que será oportunamente publicada) do empresário Ruy Barreto, radicado no Rio de Janeiro.

O Bernardo, casado com Josepha Maria de Jesus, teve 13 filhos, entre os quais o nosso bisavô Antônio José de Oliveira Barreto (o mesmo nome do avô dele), casado com Maria Archangela Tavares (de família do Distrito do Divino Espirito Santo, hoje Divinópolis) - e depois de enviuvar-se casou com Galdina Candida Barreto (Dona Inhazinha).

O Evandro Pereira de Araujo (casado com a prima Edircilene Pereira Guerra) é filho de Benedita Pereira de Melo casada com Luiz Gonçalves Araujo, neto de Maria Arcângela da Silva, casada com Afonso Pereira Melo, bisneto de Archangela Tavares Barreto casada com João Pereira da Silva (João Professor), trineto dos citados Antônio José de Oliveira Barreto e Maria Archangela Tavares.

Francisco Resende Costa Neto é filho de Gislaine Resende Costa Amaral, casada com José Eduardo Amaral, neto de Judite de Oliveira Barreto, casada com Francisco Resende Costa, bisneto de Elpidio José de Oliveira Barreto e casado com Maria Constância Resende, trineto de Antônio José de Oliveira Barreto e de Josepha Maria de Jesus. Como se vê, estamos sempre perto, mesmo dando a impressão de estarmos muito longe.

Abraços do primo, leitor e amigo Lázaro Barreto”.

Tenho muito orgulho de fazer parte de duas famílias de extremo respeito, pela formação e pela dignidade: Resende Costa, que fora referenciada pelo nobre escritor, e a família Amaral, do saudoso Sr. Clóvis Amaral e Da. Nina Amaral. Agora, com esta surpreendente constatação fico ainda mais orgulhoso de saber que a família, mesmo com parentescos mais distantes, é composta por pessoas íntegras, honestas e de profissionalismo reconhecido. E isso é muito gratificante!

quinta-feira, 24 de março de 2011

CQC: bom jornalismo acessível a todos

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras/Divinópolis-MG


No ano passado escrevi, neste espaço, sobre minha admiração e respeito pelo trabalho jornalístico proporcionado pelo programa CQC (Custe o que Custar), da Rede Bandeirantes. Apesar das brincadeiras e do tom extremamente irônico e sátiro dos integrantes, a cada novo programa tenho a convicção de que é um estilo que tende a crescer, mesmo quando a abordagem envolve assuntos de grande relevância. Ainda mais quando se trata de um trabalho sério - lapidado com um belo tempero de humor político - feito pelos repórteres extremamente preparados e bem informados. Mostrando a realidade e situações de extrema importância para a família brasileira, mas sem os clichês das abordagens tradicionais que marcam os telejornais. E sabendo o limite que envolve o bom jornalismo investigativo de programas humorísticos que pouco prezam pelo conteúdo, como o Pânico na TV e o Casseta & Planeta. Em resumo: sensacional.

Mas nem sempre este trabalho é reconhecido como jornalismo e gera cenas patéticas, como algumas ocorridas em 2010. A situação mais deselegante envolveu o deputado federal Nelson Trad (PMDB-MS), que agrediu, de forma violenta, uma equipe do programa dentro do Congresso Nacional. Como já escrevi neste espaço, situações como esta deixam claro o descontrole e a sensação de grande poder nas mãos de um simples deputado, que depois de 4 anos perde a tão debatida e injusta imunidade parlamentar. Aliás, assunto polêmico que renderia colunas e colunas neste jornal.

É bem verdade que discute-se, no meio acadêmico, a articulação entre informação e entretenimento promovida pelo programa, em virtude de se misturar formas expressivas de audiovisual (edições e animações) que atravessam a cultura televisiva, especificamente os usos que o programa faz da montagem expressiva. Conforme estudo publicado pela Profa. Juliana Gutmann, doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia, as manipulações gráficas, os sincretismos visuais e sonoros, os enquadramentos que enfatizam o processo de produção, fazendo da enunciação o próprio enunciado, são alguns dos dispositivos usados para a promoção de um curioso efeito de sentido, em que o riso e a diversão funcionam como elementos de afirmação de uma “suposta” atuação jornalística. Mas, num país carente de cultura e com pouca formação que gere informação, talvez não seja esta a fórmula que mais se aproxime da realidade do brasileiro?

A analogia do figurino dos repórteres aos eternos mitos do cinema, MIB (Homens de Preto), com seus impecáveis ternos pretos e óculos escuros, além de uma fortíssima semelhança de trilha sonora com Missão Impossível (resultado da série de espionagem sobre as aventuras de um grupo de agentes secretos do governo americano) não tiram do CQC seu caráter jornalístico e informativo. Apenas incrementam e buscam, com base nas experiências e abordagens diferenciadas, abordar assuntos de grande relevância, como aumento de impostos, corrupção e lavagem de dinheiro, sob um formato mais leve, acessível e, acima de tudo, compreensível ao cidadão comum. Talvez seja isso que venha incomodando tanta gente.

Percebe-se que o formato tradicional do telejornalismo vem mudando nos últimos anos. E tende a se adaptar ainda mais à realidade de novas tecnologias como a TV Digital e a WebTV. Algumas rotinas começam a ser desmistificadas e o jornalismo investigativo vem realmente conquistando um espaço antes dedicado apenas à informação. De repente, a figura da mosca voando o tempo todo nas reportagens do CQC (que busca realçar o sentido de vigilância e de um possível retorno da equipe àquele local) indique esta nova tendência. Através de programas como o CQC fica fácil perceber a diferença entre jornalismo investigativo e jornalismo sensacionalista. E é com esta expectativa que vislumbro uma sensível melhora, mesmo que a médio e longo prazos, da programação vespertina na TV aberta brasileira.

terça-feira, 22 de março de 2011

Denuncismo

Laura Aguiar
Jornalista
Professora dos cursos de Jornalismo da Faculdade Pitágoras/Divinópolis-MG


A palavra denúncia nunca esteve tão presente em nossas vidas como agora. Pode consultar qualquer veículo de comunicação e você encontrará pelo menos uma vez. Aqui mesmo, onde você me lê, deve ter estampado em algum lugar, a palavra com origem no latim.

Minha observação vem do acompanhamento diário da imprensa em suas várias formas de apresentação. Há uma onda de denuncismo vigorando por aí. Mas não é uma febre, creio eu. Febre vem e vai embora. Dessa vez, trata-se de doença crônica. Isso ocorre, entre outros motivos, porque nos sentimos, como povo e cidadão, mais livres, desejosos de usar todas as prerrogativas de uma democracia. Sob esse ângulo a publicação das denúncias pode ser positiva.

Somos, enquanto jornalistas, responsáveis por dar visibilidade àquilo que é velado por se tratar de coisa errada, fugidia dos padrões socialmente aceitos. Tal prática também pode refletir a valorização do ser humano, indivíduo como fonte de informação. Uma tendência fortemente referendada pela internet com as publicações de post, blogs, tweets e afins. Todos nós podemos deixar aflorar nossa porção adormecida de jornalista e por isso a quantidade de fatos que têm o tom de denuncismo. Vazão da indignação representada vez ou outra em filmes e novelas.

Entretanto é preciso ver tudo com dois pesos e duas medidas. São dois problemas: um é a denúncia vazia e irresponsável feita muitas vezes com avaliações pessoais e sem base em critérios jornalísticos. Nesse caso, vemos, lemos, ouvimos, acessamos imitações de reportagens com denunciantes sem nome, fatos duvidosos e até provas questionáveis. O segundo problema é que quanto mais vigora práticas deste tipo mais descrédito paira sobre a profissão. É a história da parte pelo todo. Profissionais inescrupulosos acabam manchando outros tantos jornalistas que apuram os boatos, enumeram provas e depoimentos com o objetivo de esclarecer, explicar e clarear um boato na tentativa de torná-lo noticiável. Pode parecer utópico, mas defendo que o consumidor de informação não é inocente. Ele sabe diferenciar o bom jornalismo do resto. Essa sim é uma boa dose de tranquilidade para todos nós, nos dias atuais.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Abusos e desabusos na imprensa

Francisco Resende Costa Neto
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras/Divinópolis-MG


 
Iniciei, em janeiro de 2000, o curso de Jornalismo por entender e ter a plena convicção de que, através da transparência e da democracia na difusão das informações, poderíamos fazer um mundo mais digno e extremamente mais justo. Passados 11 anos, tenho a mesma percepção em relação a esta nobre missão defendida pelos jornalistas em todo o mundo, mas percebo, em contrapartida, que a luta diária desses “embaixadores da informação” vai além dos perigos tradicionais da profissão, como o enfrentamento do tráfico, de grupos políticos e até da polícia, uma vez que as mais polêmicas investigações jornalísticas acabam envolvendo uma destas três esferas do poder.

Nestes 11 anos de observação constante do meio jornalístico, me deparei com situações lamentáveis. Começando pela morte de Tim Lopes, repórter da Rede Globo que investigava o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. De bermuda, com uma velha camisa amarela e sandálias, como um típico carioca do morro, Tim Lopes, então com 51 anos, saiu da sede da TV Globo no dia 2 de junho de 2002 para fazer a sua última grande reportagem investigativa. Levava uma microcâmera escondida para filmar um baile funk na favela da Vila Cruzeiro, uma das 12 integrantes do morro conhecido como Complexo do Alemão, no bairro da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. Ele havia recebido uma denúncia dos moradores da favela de que nos bailes patrocinados por traficantes acontecia a exploração sexual de jovens e o consumo de drogas. Os moradores pediam ajuda. Tim tentou ajudar.

A morte de Lopes foi confirmada depois da prisão do traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, um dos líderes do grupo criminoso Comando Vermelho, que detém o poder no Complexo do Alemão. Os depoimentos dos presos indicam que o jornalista pode ter sido identificado pelos traficantes como sendo como o autor da reportagem “Feira de Drogas” veiculada pela TV Globo em agosto de 2001. Na reportagem, Lopes filmou, com uma microcâmera escondida, a venda de drogas nas ruas do morro do Alemão. Depois que sua reportagem foi ar, foram presos traficantes e o negócio foi interrompido por um tempo, causando prejuízos aos narcotraficantes. Lopes foi executado por um único motivo: fazer um jornalismo ético e voltado para resolver problemas da comunidade. Foi vítima da “Justiça do Tráfico”.

Passamos por diversos conflitos envolvendo grupos de poderes e imprensa nesses 11 anos. Porém, nesta semana, fiquei estarrecido com um fato isolado ocorrido na Bahia, em pleno século XXI e na era dominada pelas novas tecnologias. Na última quarta-feira (09/02), o jornal baiano A Tarde voltou atrás e resolveu readmitir o repórter Aguirre Peixoto, demitido após publicar uma série de reportagens com denúncias contra crimes ambientais. Segundo colegas de redação, Peixoto teria sido dispensado por pressão de empreiteiras, que teriam sentido prejudicadas com as matérias. No entanto, a direção do jornal, obviamente, negou sofrer pressão das construtoras. Lamentável!

O engraçado é que, ao invés de condecorar o nobre jornalista pelo brilhante feito e enorme favor prestado à comunidade com sua brilhante investigação, de acordo com a decisão da empresa, Peixoto ficará suspenso por 30 dias e poderá voltar às suas funções após esse período. Porém, o motivo da suspensão, obviamente, não foi esclarecido. De repente, o nobre jornalista tenha sido punido por, simplesmente, fazer um bom jornalismo. Olhando o lado positivo, sua punição foi menos severa do que a de Tim Lopes. Mas punição porque? Por fazer uma cobertura que vai além do óbvio do cotidiano, que busque informações concretas e baseadas em documentos legítimos? Que busque, através de técnicas aprendidas no curso de Jornalismo e aprimoradas pela prática do dia-a-dia, mostrando à população aquilo que ela busca saber em um grande veículo de comunicação?

É fácil perceber como as reações da equipe foram favoráveis ao nobre colega jornalista. Segundo matéria publicada no site “Comunique-se”, desde a demissão, os jornalistas do diário entraram em estado de greve e fizeram barulho nas redes sociais. Em meio à crise, o editor-chefe do veículo, Florisvaldo Mattos, pediu demissão, mas afirmou que sua saída não foi motivada pelo caso de Peixoto, mas por um acúmulo de situações. Além de readmitir o jornalista, A Tarde se comprometeu a redigir uma linha editorial mais clara. Enquanto a linha editorial não for divulgada, os profissionais continuam de greve. E o bom jornalismo, de fato, agradece!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Redes Sociais: E agora José?

* Silvana Maria de Sousa
Professora dos cursos de Jornalismo e PP
Faculdade Pitágoras/Divinópoilis



No ano passado, depois de assistir à palestra da @mluiza no Seminário de Comunicação na Faculdade Pitágoras fiquei convencida: estava muito fora das redes sociais. Pois bem. Decidi como profissional da comunicação, como pessoa que tem alergia à poeira, que enfrentaria o desafio de "entrar". E de lá pra cá, estou num projeto de montar meu blog, criei uma conta no twitter, e andei tuitando (ainda não sei escrever esse verbo ), vivo pegando no pé da coitada da palestrante, parcelei e aguardo ansiosamente meu primeiro ipad, enfim, estou debutando nas redes sociais.

Porém, como convém aos tempos modernos, a contradição e a dúvida pós decisão pró redes sociais não demoraram. Vejam só.

Em pleno furor virtual, o Gabriel de Nova Serrana, meu atualizador de cibercultura, me manda um link. Pensei, lá vem mais uma confirmação da minha situação "out". Mas, como nada é tão previsível (outra característica dos tempos modernos), a minha surpresa: o artigo que o link http://www.brainstorm9.com.br/opiniao/midias-sociais-to-fora) conduzia era de um tal de Paul Car, escritor de blog, um gringo. E nesse artigo ele estava dizendo que havia saido de todas as redes sociais. Que agora o "bacana" é ser assim um tipo de "figurinha virtual difícil". Pensei: “durma com um barulho desses Silvana”.

Li, reli, tornei a ler e cheguei num consenso, pelo menos comigo. Para sair de qualquer lugar com um pouquinho de propriedade no querer sair, tenho pelo menos que ter entrado,certo? Por que caso contrário, vai ser tudo modismo. Entrar ou sair seria só um detalhe. Pode ser que o cara esteja na acertiva, mas eu não posso me dar a esse luxo de "hora de sair", pelo menos com credibilidade como ele.

Bem, para me acalmar nesse “entra ou não entra” do mundo contemporâneo voltei para o colo do Seu Carlos Drumond, da dona Adélia Prado, para as contradições da alma.

Já pensou? Era só o que me faltava. Sentir-me fora porque não entrei eu até já digeri, mas me sentir fora porque tô dentro, ai ai ai. E agora José? Quer dizer, e agora sr Paul?