quarta-feira, 28 de abril de 2010

Crise de criatividade!

É comum nas conversas ouvir comentários sobre as repetições em telejornais, as cópias feitas de um para outros. Comentários sobre as notícias requentadas, uma eterna sensação de "déjà vu". Para os aficionados por informação - e quem não é?- assistir a uma edição de telejornal pode ser econômico porque ja se saberá o conteúdo das edições seguintes; ou frustrante por não se conseguir acrescentar ao arquivo pessoal nenhum dado realmente novo.


Isso não é sinal dos tempos modernos. Já é uma prática. Sempre vigorou entre os jornalistas, principalmente os dos aquários das redações, a teoria sobre a distinção do público, para eles uma massa bem delimitada, pois quem assiste este não acompanha aquele produto jornalístico de televisão. Meia verdade. Há sempre possibilidade dessa audiência se coincidir. E convenhamos ninguém se informa exclusivamente pela televisão, que o digam os interioranos e internautas de plantão. Esses pelos acessos página a página e aqueles pelo boca a boca.

As empresas de comunicação devem repensar as estruturas profissionais para adequar o número de demandas noticiosas aos jornalistas na redação. O resultado será ganho de qualidade de apuração, e, consequentemente, em vendagens quando for apresentado ao público notícias como realmente devem ser: novas. É claro que muitos reclamam da falta de profissional no mercado. Outra meia verdade! Existem, são muitos e bons. Entretanto centenas não se sujeitam ao regime escravo e à desvalorização da categoria. Tais tratamentos são dados, principalmente, pelas empresas que teimam em se profissionalizar, em desrespeito ao seu consumidor final. E há excelentes instituições de ensino pelo interior do país com professores de mercado empenhados em transmitir aos alunos sua paixão pela profissão e sua quimera de mudar o mundo pelo jornalismo sério.

Sair da mesmice é respeitar o leitor e o consumidor de informação. Não por reparo nas coisas é grave! Os jornalistas tem visto muita coisa, mas enxergado pouco. E se enxergam, olham de um jeito singular, sob um único prisma: da forma como foram treinados. Assim só teremos reportagens de quem adora e quem não adora chocolate na páscoa, sugestão de presentes para o dia dos namorados, mães especiais, aquelas manchetes das quais já estamos cansados.

Não ver, não enxergar, não olhar de outro ângulo, não exercitar a criatividade, perseguir o óbvio, idolatrar as repetições, permanecer na zona de conforto do "sempre foi feito assim", "todo ano é a mesma coisa", é aceitar vender a mesma quantidade sempre. É isso mesmo que se quer?



* Laura Aguiar
Jornalista e Professora do Curso de Jornalismo da Faculdade Pitágoras de Divinópolis

terça-feira, 20 de abril de 2010

Profissionalismo já

Eu, mineira de carteirinha, mais precisamente de “passaginha” (vale-transporte em Divinópolis), cresci ouvindo uma boa frase entre os meus nos momentos de ansiedade: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Mas agora, frente a celulares que fotografam, tocam músicas, enviam mensagens, fazem pagamentos e eventualmente fazem ligações telefônicas, a frase já não me sossega.

Como publicitária, sei que os desafios das convergências de produtos nascem da convergência de valores e demandas dos consumidores. Mas também sei que tais valores e demandas estão cada vez mais difíceis de serem decifrados ou antecipados. Nunca foi tão difícil entender as referências de decisão de compra do atual consumidor.

O varejo do eletrodoméstico, disputa, segundo a segundo na TV a nossa atenção, com técnicas de marteladas de juízes nervosos, de vozes apocalípticas que anunciam aberturas de lojas em horários super especiais, prestações sem juros, “preços imbatíveis”, “preço é tudo”. E, não raro, por causa de uma chapinha, outro desejo contemporâneo, filas se formam antes que o “paraíso” da oferta se abra. E nesse contexto específico minha “mineirice” não deixa escapar o texto do comercial: “é para lotar a loja” (cá entre nós, esse “lotar” é bem das Minas Gerais , não é?).

E há aqueles que entram na disputa com um toque de esperança, bem ao estilo da caixa de Pandora. É para comprar, mas é para comprar e ser feliz. O paraíso de ofertas, de preços também é “lugar de gente feliz”. O consumidor é avisado: “vem ser feliz”. E assim, em vários segmentos, todos com as suas disputas, os seus diferenciais vão buscando o lugar ao sol, que fica na mente e no bolso da classe alta, média, nova classe média, classe baixa... Sustentabilidade, originalidade, velocidade, jovialidade, beleza ... Enfim, os desejos se intercalam, formam coerências sazonais (o celular era pequeno, agora bom é o grande) e no final das contas criam os desafios para os gestores, investidores e principalmente para os profissionais da comunicação mercadológica. O que querem os consumidores do século XXI? Como decidem suas compras?

Bem, acredito que as respostas também são sazonais. Afinal, “gente é gente em qualquer lugar”, como disse certa vez Dona Adélia, e por isso mesmo, é bom um pouco de parcimônia em ditar regras e verdades definitivas. Mas há uma confirmação nos fatos. Para acompanhar o movimento de mercado, entender os seus dribles, e ter sapiência para levantar velas e anunciar terra à vista no momento certo, só mesmo com muito profissionalismo.

A época de acertos amadores já não existe mais. Todos cenários de concorrência hoje confirmam a necessidade de profissionais de comunicação para conduzir os processos, com formação, conhecimento e qualidade técnica. Sem comunicação profissional a empresa corre o risco de contrair a rouquidão (gritar sem resultados), de pagar a caladeza fatal (perder o contato com o mercado) ou o pior: acreditar que não precisa de profissionais. Nesse caso compra-se, mas não leva. Faz outdoor em pontos equivocados, escolhe jornal quando TV ficaria mais em conta, descarta o rádio quando o público-alvo adora, economiza na produção do comercial para esbanjar no ridículo e por a marca em situações constrangedoras. Um caos!


Mesmo sem descansar em berços esplêndidos, os grandes anunciantes já profissionalizaram suas comunicações. Basta constatar os investimentos, as equipes, agências que estão com eles. Logo, está na hora, ou melhor, já passou da hora dos médios e pequenos seguirem o mesmo caminho. Comunicação de resultados não admite improvisos.

* Silvana Maria de Sousa
Publicitária e professora dos cursos de Jornalismo
e Publicidade e Propaganda
Faculdade Pitágoras / Divinópolis

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Os impressos estão com os dias contados?

Muito tem sido debatido por vários especialistas em comunicação, nos quatro cantos do mundo, sobre o destino dos jornais impressos. A maioria já vem pregando, desde os primeiros dias do século XXI, que esse meio tradicional está com os dias contados.

Tendo nascido em uma família que come, bebe e respira a essência do jornal impresso, tenho convicção que uma afirmação forte como essa é, no mínimo, precipitada, porque desde o surgimento de outras mídias, como o rádio e a TV, essa história de que os jornais vão “dessa para uma melhor” existe.

Também não tenho a ilusão de apontar que para esse segmento de mídia, a maré está para peixe. Definitivamente não está! E o cenário tende a piorar, justamente porque os empresários de comunicação não entenderam que estamos no olho de um furacão de transformações, principalmente tecnológica.

E é aí que chegamos à conclusão que os impressos não vão acabar, mas que está andando no fio da navalha. É a maneira como as empresas jornalísticas estão fazendo o seu trabalho, em muitos casos, da mesma forma que trabalhavam há 20, 30 ou 40 anos. Isso sim é flertar com a decadência e principalmente, com o descaso dos leitores.

Os jornais precisam compreender que, para continuar existindo e arrebanhando cada vez mais leitores, devem acompanhar as mudanças tecnológicas e se reinventar a cada edição. Os leitores tradicionais, que adoram o cheiro e a ponta dos dedos sujas com a tinta off-set, estão dando lugar para a tal geração X e Y, com pouco tempo para a leitura através de meios físicos, nascidos na época do virtual e ligados em todo tipo de tecnologia.

Tal preocupação em se reinventar é tão latente, que em meados de fevereiro deste ano, o jornal Folha de São Paulo divulgou uma mudança completa no seu projeto visual e editorial, buscando se tornar um veículo mais próximo da população, com texto mais coloquial e diagramação mais próxima dos portais de notícia, recheados de fotos, gráficos e vários outros itens que complementam a leitura.

Ainda dentro desta busca da modernização e adaptação aos novos tempos, a própria Folha de São Paulo anunciou a fusão de suas duas redações, a do meio impresso e a do portal na internet, colocando os profissionais responsáveis pela publicação desses dois meios de comunicação, no mesmo ambiente, aproveitando ao máximo a expertise dos velhos e jovens comunicadores, trabalhando de forma sinérgica.

A preocupação em caminhar lado a lado com a tecnologia e a nova forma de se fazer jornal não é exclusividade dos grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Em nossa região, já podemos acompanhar várias iniciativas de empresas jornalísticas, que tem essa visão de novos tempos e já trabalham de forma integrada entre os meios tradicionais e com portais de notícia e entretenimento.

Podemos estabelecer então, que para os jornais enfrentarem mais esse período turbulento, é necessário atuar em duas frentes fundamentais: buscar mão de obra qualificada e mantê-la em constante atualização e principalmente, coragem para enfrentar esse grande desafio de se reinventar, deixando o ostracismo de lado.

* Leonardo Marcos Rodrigues
Professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Faculdade Pitágoras/Divinópolis.
Contato: leomrodrigues@gmail.com

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Não basta saber comunicar, tem que se qualificar

Nas últimas décadas, com as várias mudanças estruturais e tecnológicas, produtivas e organizacionais, um reflexo vem sendo visto no mercado de trabalho dos novos comunicadores. Tempos atrás, bastava apenas um bom texto e um certo “dom” para a comunicação que tudo estava certo e era quase garantida uma vaga no mercado, até então, pouco exigente quanto a de qualificação em sua mão-de-obra.



Mas o que estamos vendo nesses tempos modernos, é que, como diz o editor da revista PQN, Robson Abreu, “saber o pacote Office não é mais diferencial e sim, requisito básico para pleitear uma vaga de trabalho”. O nível de qualificação exigida pelas empresas, para a contratação de um jornalista, publicitário ou relações públicas está cada vez maior.



Vamos tomar por exemplo, uma vaga que foi divulgada recentemente, através do Twitter, para analista de conteúdo de um site, que tem entre suas obrigações, revisar e redigir conteúdo para o portal, bem como guias e manuais. Se estivéssemos em outra época, bastava o candidato ter um bom texto e um nível de conhecimento da língua portuguesa mais avançado, que estava apto para o cargo. Mas veja o que essa vaga exige como requisito básico para ingressar no processo seletivo: Nível superior completo em Comunicação Social; Inglês intermediário; Habilidade e desenvoltura com a escrita; Experiência em redação e atualização de conteúdo na internet; Familiaridade total com a internet (navegação, internet, redes sociais, etc.); Familiaridade com Excel e Access; Pró-atividade, boa comunicação e relacionamento interpessoal; Interesse em trabalhar em empresa de pequeno porte e com tarefas diversificadas.



Costumo brincar com os alunos que, daqui a pouco tempo, até exame de DNA será exigido na hora de uma contratação. Mas, brincadeiras à parte fica claro que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente com relação ao perfil ideal dos novos comunicadores. Quem pretende seguir carreira na Comunicação Social, já deve colocar nos seus planos, além de uma boa qualificação acadêmica, a busca pelo conhecimento em outras áreas, como Marketing, Gestão de Pessoas, Administração, Direito, dentre outros.



Acredito que estamos ingressando na era do “Comunicador 2.0”, que é o tempo daquele profissional que além de saber comunicar muito bem, sabe vender, sabe trabalhar em grupo, sabe gerenciar e monitorar redes sociais, saber conversar em pelo menos dois idiomas e principalmente, é feito de carne e osso. Sim! Graças ao bom Deus que máquinas e computadores não possuem o item principal que fecha o pacote deste “super-homem comunicacional”, o sentimento, a alma.



E é justamente por isso, que o “Comunicador 2.0” é um ser fantástico, pois de nada adianta essa infinidade de qualificações, ser poliglota e “jogar nas onze”, como de diz no jargão futebolístico, se ele não compreender os fins de seu trabalho, que é levar a informação aos outros, lidando diretamente com as pessoas. Não basta apenas buscar a qualificação técnica para se tornar um profissional de ponta, deve-se ir atrás também da qualificação pessoal, moral e ética que revestem todas as peculiaridades da comunicação social, para encarar os desafios desse competitivo mercado de trabalho.





* Leonardo Rodrigues
Jornalista e professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
da Faculdade Pitágoras/Divinópolis

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Consumidor de sensações

Um bando de velhinhas jogando cartas e uma delas põe algumas cervejas pra gelar. A cena por si só já causa estranhamento. De repente uma grita: “Bati!” e prega uma carta na testa da outra. Eis um comercial de TV de uma famosa cerveja nacional.

Mas peraí, desde que entrei na faculdade de publicidade aprendi que comerciais servem para mostrar o produto, seus diferenciais, seu preço, dentre outras qualidades competitivas. Estranho, pois nesse caso nada disso se quer é mencionado. Divertido, inusitado, mas se não fosse a vinheta de encerramento do comercial eu mal saberia de que marca se tratava.

Bom, tudo bem, segue o meu dia. Vou ao supermercado comprar umas coisas pra casa e percebo que aquele lugar antes destinado ao auto-serviço, ou seja, um espaço prático, eficiente e econômico onde cada um escolhe seus produtos e coloca em seu carrinho sem precisar de ajuda, começa a tomar outros ares. Trata-se, agora, de um verdadeiro parque de diversões onde é possível experimentar sabores e cheiros, assim como ganhar brindes, apreciar obras de arte, ouvir música e participar de concursos.

Peraí, pára tudo. O que houve com a publicidade e com tudo que aprendi até hoje? Cadê o preço, as qualidades, as condições de pagamento? Onde foi parar todo mundo? Percebo que alguma coisa mudou nas relações entre produtos e consumidores. Na verdade, esta relação que antes se dava entre coisas e pessoas, agora passa a ocorrer em uma dimensão mais íntima, próxima da relação entre pessoas e pessoas.

Oliviero Toscani, famoso e polêmico fotógrafo e publicitário da marca Beneton, já afirmava em seu livro, há alguns bons anos atrás, que a publicidade é um “cadáver que nos sorri”. Apesar de um pouco de narcisismo e extravagância, o autor já chamava atenção para o fato de que a publicidade, assim como foi concebida, em sua versão tradicional, já não mais vivia, ou sobrevivia. De uma maneira irreverente, ele já afirmava que a publicidade tradicional estava morta, como um cadáver, e que os publicitários precisavam aprender a trabalhar de uma outra maneira, deixando de lado suas antigas técnicas, seu modo convencional de mostrar um produto (ou serviço) e persuadir o público a consumi-lo.

Pois bem. O que podemos ver atualmente é uma explosão de novas linguagens e maneiras de comunicação entre produtos e pessoas. Produtos tornaram-se pessoas e agora possuem emoções, caráter, atitude e personalidade. Pessoas tornaram-se produtos e agora querem parecer mais atraentes, mais eficientes, mais bonitas, mais confiáveis e mais desejadas.

É nesse novo cenário que atua o publicitário contemporâneo, criando um elo entre objetos de consumo e consumidores, provocando o surgimento de uma relação confiável e feliz entre ambos. Assim, uma cerveja deixa de ser uma bebida alcoólica (consumida por maiores de 18 anos) e passar a ser uma companheira em um jogo de cartas, para todas as idades. Da mesma forma, o nosso bom e velho “Toddynho” perde o posto de leite com chocolate e assume a posição de um companheiro de aventuras. E assim, produtos vão tomando vida, compartilhando espaços com os humanos e dividindo, inclusive emoções e vivências.

O publicitário portanto, não é mais aquele homem que fica na agência em busca de grandes idéias para uma campanha. Ele agora é um profissional que trabalha com a inserção de produtos e serviços no cotidiano de uma sociedade cada vez mais mutante e desejosa de novas experiências. É hora de romper com a antiga forma engessada de anunciar apenas em emissoras de TV, jornais e revistas para garantir o sucesso de um produto. É preciso mais que isso. É preciso anunciar, mas de uma maneira diferenciada, sensível, que toque o consumidor em suas vivências. É tempo de tornar o ponto-de-venda um local que desperte sensações e prazeres, um espaço de compartilhamento, quase de comunhão. É hora de participar intensamente da vida do público-alvo, transformando consumidores e produtos em amigos, namorados ou parentes muito próximos. E você, que trabalha com comunicação, está pronto pra esse desafio? O que vêm fazendo para se adaptar a essa nova realidade? É bom pelo menos começar a pensar a respeito.

* Mivla Rios
Publicitária, mestre em Comunicação Social
e professora da Faculdade Pitágoras/Divinópolis

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Qual a melhor mídia?

Em 2006, a revista americana Time surpreendeu o mundo ao anunciar o tão esperado título de Personalidade do Ano. O nobre reconhecimento, já oferecido a ícones representativos do mundo como Bill Gates, Vladimir Putin e Barack Obama, naquele ano não tinha um dono específico, mas foi divido por todos nós. A palavra “YOU” e um espelho eram o destaque da capa da revista, remetendo ao incontestável poder dos consumidores, principalmente os internautas, em ditarem o que queriam como conteúdo e, mais que isso, saindo da velha acomodação de obedecer às imposições da mídia com total passividade.

Desde então, toda a indústria e os meios de comunicação começaram a perceber, com certo receio que toda mudança traz, o quanto o espectador não responde mais passivamente aos anúncios imperativos, limitados à obediência de uma ordem que o leve à ação de compra. E assim, os magos do marketing e os encantadores da publicidade foram obrigados a pensar em soluções mais envolventes para seduzir o seu público-alvo.

Este processo irreversível de diversidade e liberdade de escolha das pessoas chamou a atenção para uma necessidade que até então a propaganda havia desconsiderado. O mercado estava diante de uma revolução, que tornariam obsoletos os princípios e modelos do marketing tradicional, transformando-os em uma abordagem totalmente nova que deveria considerar, simultaneamente, a onipresença da tecnologia da informação, o poder do consumidor e a velocidade e força das comunicações integradas.

Ou seja, os velhos benefícios funcionais e qualidades dos produtos já não eram mais absolutos. A propaganda não persuadia mais, sem sofrer um questionamento racional diante da decisão de compra. E os meios de comunicação tradicionais e institucionais também não se configuravam como a forma mais confiável de se informar sobre o seu objeto de consumo. Neste novo cenário, o consumidor passa de mero receptor da mensagem para emissor influenciador de opiniões, que deve ser muito bem tratado pelas marcas. Caso ele tenha a mínima insatisfação diante de uma promessa não cumprida pelas campanhas, pronto, em segundos, ele dispara sua indignação em um mínimo de caracteres pelo twitter, blogs ou fóruns específicos, que certamente servirão de fonte para outros consumidores potenciais. Resumindo, não adianta a propaganda ser legal, engraçada ou emocionante se o produto não oferecer o que o consumidor quer.

Esta inversão estrutural da mais antiga teoria de comunicação (emissor /marca e receptor/consumidor) rapidamente foi sendo absorvida pelo mercado, mudando inclusive a maneira de fazer negócio. Em vez de lutar contra isso, algumas marcas brilhantemente a utilizam a seu favor e começa a ouvir, em vez de apenas ditar. Várias empresas hoje têm um profissional específico em suas sedes para monitorar opiniões sobre seus produtos em redes sociais. E a partir daí, as alterações necessárias são feitas a partir do que VOCÊ diz sobre o produto, proporcionalmente à sua capacidade de influenciar outros grupos.

A consolidação deste cenário irreversível é retratada atualmente na mídia, em uma campanha que exemplifica exatamente este processo. A Ford se rende ao poderio coletivo e traz como slogan de seu modelo Focus a seguinte frase: “a reputação de um carro é feita da opinião de seus proprietários”. Antes de comprar um carro, é claro que o consumidor pesquisa, busca opiniões, testa, interage, experimenta, visita a concorrência, pergunta aos amigos, pede a opinião da namorada, enfim, a Ford simplesmente confirmou esse fato já consolidado e usou-o como um reforço de comunicação, ganhando a simpatia do público. No comercial de TV, diversas pessoas interagem com o possível comprador do carro, tranqüilizando-o sobre sua escolha e dando referenciais positivos sobre o veículo. Ou seja, é isso que ele fará na prática. Simples assim, ao alcance de um click ou de um bate-papo. A lição que fica com esta e outras campanhas é que, antes de divulgar sua marca nos tradicionais veículos de massa, as empresas não podem se esquecer de utilizar bem a sua mídia principal: VOCÊ.



* Vânia Vasconcelos
Publicitária, especialista em Marketing, consultora em Comunicação,
professora no curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Pitágoras/Divinópolis